Ex-líder da CUT, Meneguelli tenta vitória em cidade que é tabu para o PT
Sucessor de Lula no sindicalismo, ex-deputado tem desafio de conquistar São Caetano do Sul, única grande cidade do ABC que nunca foi governada pelo petismo
O PT aposta em uma figura histórica do sindicalismo nacional para conquistar a única grande cidade do ABC paulista, berço do movimento operário recente e do próprio partido, que o petismo nunca governou. Fundador do PT e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), herdeiro de Lula na presidência do emblemático Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o ex-deputado federal e ex-presidente nacional do Sesi, Jair Meneguelli tenta se eleger prefeito de São Caetano do Sul.
Meneguelli, no entanto, largou muito atrás na disputa. Levantamento feito pelo Paraná Pesquisas no final de julho aponta o ex-presidente da Câmara Municipal e ex-prefeito interino do município, Tite Campanella (PL) na liderança, com 45% das intenções de votos, seguido do ex-vereador Fabio Palácio (Podemos), com 28,3% e Professor Rafinha (PSOL), com 7,6%. O petista só aparece em quarto, com 3,6%.
Questionado por VEJA sobre o desempenho, Meneguelli diz que aposta no contato com o eleitor para aumentar suas intenções de votos. Ele pondera também que, embora seja uma figura relevante no PT e na política regional, passou muito tempo longe do dia a dia do município. “Fiquei longe do PT de São Caetano do Sul por conta de outras tarefas. Primeiro foi a presidência do sindicato em São Bernardo, depois foram onze anos na CUT, dois mandatos como deputado federal e doze anos como presidente do Sesi”, disse.
O candidato do PT aposta na associação de sua figura à do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que gravou vídeos de apoio a ele, devidamente explorado nas redes sociais, para aumentar suas intenções de votos. “Estamos enfatizando que a parceria com o governo federal pode trazer para o município programas federais como Farmácia Popular e Minha Casa Minha Vida. Embora seja uma cidade muito verticalizada, São Caetano tem muitos cortiços”, disse.
A possibilidade de ter o presidente no município, no entanto, é considerada remota. Até outubro, Lula deve ir novamente a São Paulo, onde a eleição de Guilherme Boulos (PSOL) é uma prioridade, mas não há data marcada. Articuladores do diretório estadual do PT tentam casar a agenda do presidente na capital paulista com idas a municípios do entorno, principalmente em São Bernardo do Campo e Diadema, onde as disputas pela prefeitura estão acirradas.
“Cinturão vermelho”
Como mostra reportagem de VEJA na edição desta semana, o PT tem como uma de suas prioridades na eleição municipal deste ano reconquistar a região metropolitana de São Paulo, incluindo a capital, um aglomerado urbano de mais de 21 milhões de moradores onde o partido já teve ampla hegemonia política em meados dos anos 2000, na esteira da popularidade dos governos de Lula e Dilma — domínio que fez a região ficar conhecida como “cinturão vermelho”. Hoje, no entanto, o petismo governa apenas duas cidades no entrono de São Paulo — Diadema e Mauá –, onde tenta a reeleição.
Assim como em São Caetano do Sul, no entanto, o partido vem tendo dificuldades na atual corrida eleitoral, mesmo apostando em figuras, como Emídio de Souza, ex-prefeito de Osasco que tenta voltar ao cargo, e José de Filippi Júnior, ex-tesoureiro das campanhas de Lula e Dilma que tenta obter a reeleição para um quinto mandato em Diadema. “Houve pouca renovação interna no partido”, avalia Meneguelli.
Segundo o histórico líder de movimentos grevistas nos anos 1980 e 1990, houve também uma mudança nas características do eleitorado, que demanda uma nova abordagem. “Não se vê mais dirigente sindical falando nas portas das fábricas”, disse. Segundo o experiente líder sindical, o caminho é encontrar formas para atrair os jovens. “Precisamos recuperar a rua e encontrar formas de trazer o jovem para perto da política”, disse.
A derrocada eleitoral do PT na região pode ser explicada por vários fatores, entre eles a mudança do perfil do trabalhador, o refluxo do sindicalismo, a ascensão do segmento evangélico, a falta de renovação dos quadros, das bandeiras e do discurso do partido e o distanciamento de parcelas expressivas do eleitorado, como os jovens — leia matéria completa aqui.