‘Escola sem partido’ vira ‘escola com partido’ no MEC de Bolsonaro
Além da contaminação ideológica da pasta, Milton Ribeiro foi flagrado dizendo que distribui recursos da educação de acordo com a orientação de um pastor
O projeto/ideia “escola sem partido” sempre movimentou um ruidoso braço do bolsonarismo, que defende a necessidade de eliminar uma suposta “influência de esquerda” nas escolas. Com a ascensão de Jair Bolsonaro (PL), a obsessão ideológica virou até projeto de lei, mas até hoje não houve força no Congresso para fazer avançá-lo.
Milton Ribeiro, o pastor presbiteriano e teólogo que assumiu o Ministério da Educação após duas gestões marcadas por muito proselitismo ideológico de direita e pouca gestão – Ricardo Vélez Rodríguez e Abraham Weintraub –, está conseguindo fazer o contrário: implantar na prática o “escola com partido” na pasta, cujas políticas foram contaminadas por bobagens ideológicas e a execução de programas entregue a interesses políticos — incluindo os do Centrão — e religiosos, como o do escândalo revelado nesta semana pelo jornal Folha de S. Paulo.
Em um áudio, o ministro admite que favorece prefeituras indicadas por um líder evangélico. “Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do (pastor) Gilmar (Santos). Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo o, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, afirma. “Lamentável”, afirmou a Frente Nacional de Prefeitos em nota.
O “escola com partido” de Ribeiro inclui a ocupação de postos-chave por pessoas encarregadas de implantar a sua visão ideológica – como a pedagoga Sandra Ramos, nomeada para a Coordenação Geral de Materiais Didáticos, que já assinou um documento defendendo o ensino do criacionismo em contraposição à teoria da evolução das espécies, de Charles Darwin. Também há influência na compra de livros didáticos, ao deixar de excluir obras que expõem as mulheres sob uma ótica negativa e as que ignoram a agenda de não violência contra elas. Vocábulos como “respeito à diversidade” e “democrático” foram suprimidos, cedendo lugar à valorização de ideias mais vagas, como o “convívio social republicano”.
Agora, o ministro está em uma mais do que justificada saia-justa para tentar explicar o áudio constrangedor e a sua nada republicana política de distribuição de recursos públicos para a educação. Corre ainda o risco de ver a sua gestão se tornar alvo de investigação, além de abrir uma nova crise política no primeiro escalão do governo.