Escândalo das Americanas opõe advogados aliados de Lula e do PT
A briga da varejista com seus credores agita algumas das bancas de advocacia mais importantes do país

Recém-chegada ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde a Americanas conseguiu derrubar uma decisão da Justiça de São Paulo que havia determinado busca e apreensão de dez anos de trocas de e-mails de sua cúpula, a briga da varejista com seus credores agita algumas das bancas de advocacia mais importantes do país e opõe advogados que têm relações com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT. A companhia anunciou em janeiro ter encontrado “inconsistências contábeis” bilionárias em suas finanças e desde então se tornou alvo de credores, que cobram na Justiça investigações e responsabilidades.
Notabilizado pela defesa de Lula na Operação Lava Jato, cujos processos contra o petista foram sendo anulados um a um, e cotado a uma vaga no STF, Cristiano Zanin Martins defende a Americanas. Do outro lado, o Bradesco, um dos maiores credores da varejista, com 4,8 bilhões de reais a receber, tem como um de seus advogados Walfrido Jorge Warde Júnior. Warde organizou jantares de aproximação entre Lula e grandes empresários antes e durante a campanha presidencial e fez, ele próprio, doações ao PT que somaram 700.000 reais em 2022 — 200.000 reais em junho e 500.000 reais em setembro. Entre os sócios do escritório do advogado está outro cotado para uma vaga ao STF: Pedro Serrano.
Apesar das boas relações de Zanin e Warde com Lula e o PT, a troca de acusações entre as defesas da Americanas e do Bradesco não tem sido nada leve. Na ação movida no STF, a varejista alegou que a apreensão de seus e-mails, obtida em um processo movido pelo banco na primeira instância da Justiça paulista, poderia levar à interceptação de conversas entre executivos da Americanas e advogados, o que violaria o princípio constitucional do sigilo na comunicação entre cliente e defesa. O ministro Alexandre de Moraes deu razão ao argumento e suspendeu a busca e apreensão do conteúdo.
Tentando reverter o entendimento do ministro, a equipe de Walfrido Warde afirma que as alegações dos advogados da Americanas não passam de “vil oportunismo”, “cínico argumento” e são uma tentativa de “criar uma mesquinha cortina de fumaça” que impeça as investigações iniciadas a pedido do banco. Ainda conforme a defesa do banco, o estado da Americanas é “quase falimentar”. Em resposta à argumentação, a equipe que inclui Cristiano Zanin disse a Moraes que o Bradesco não se importa com “violações constitucionais e legais” e busca “tomar medidas midiáticas” para “prejudicar e tumultuar” o processo de recuperação judicial da varejista.