Escala 6×1: aliados de Lula fazem ato e pedem prioridade à pauta na Câmara
Deputados prometem manifestação e apresentação de PEC nesta terça-feira, 25; petistas defendem o tema como 'bandeira' do governo

Parlamentares aliados ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva prometem um ato em defesa do fim da jornada 6×1 nesta terça-feira, 25, na Câmara dos Deputados. Na ocasião, a deputada Erika Hilton (PSOL-SP) deverá apresentar a proposta de emenda à Constituição (PEC) que prevê o fim da escala em que há apenas uma folga a cada seis dias de trabalho.
Segundo o deputado André Janones (Avante-MG), a manifestação, que tem conclamado a adesão da “militância”, tem como objetivo “pautar o debate” sobre o tema que, de acordo com ele, “tende a ser a grande pauta do ano”. Também estão previstos “panfletaços” em diversas capitais do país.
ATENÇÃO MILITÂNCIA: amanhã teremos manifestações aqui no congresso pelo fim da escala 6 x 1. Essa tende a ser a grande pauta do ano! Amanhã vamos falar SOMENTE NESTE ASSUNTO ok? É a nossa chance de pautar o debate, igual fizemos na campanha ok ? Compartilhem esse tuíte pra vê se…
— André Janones (@AndreJanonesAdv) February 24, 2025
A PEC foi apresentada por Hilton em meados do ano passado e já tem mais de 230 assinaturas para que comece a tramitar — o mínimo necessário era de 171.
Apesar do quórum atingido, os deputados que apoiam o texto anunciaram que pretendiam protocolar a PEC somente após a troca de comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, o que deve acontecer no começo de março. O objetivo seria evitar uma possível derrota prematura no colegiado, que é atualmente comandado por Caroline de Toni (PL-SC) — a parlamentar é frontalmente contra o fim da jornada de trabalho 6×1.
Para que comece a tramitar, a PEC, depois da coleta de assinaturas, precisa ser apresentada oficialmente e, depois, passar pela CCJ, que analisa a admissibilidade da proposta. A partir de então, o texto começa a ser analisado por outras comissões.
Atualmente, a Constituição limita a jornada de trabalho a jornadas de 44 horas semanais e a oito horas diárias. A PEC da parlamentar, além de extinguir a escala 6×1, propõe jornada semanal máxima de 36 horas, sendo quatro dias de trabalho e três dias de folga. Por isso, a viabilidade econômica de sua implementação tem sido alvo de críticas não apenas do patronato, mas também de economistas e de pesquisadores.
Bandeira petista
Para além da importância do tema em si, a discussão da escala 6×1 é tida por parlamentares da base governista como uma estratégia de se ter uma “bandeira” para chamar de sua, principalmente no momento em que a oposição aliada a Jair Bolsonaro tem se articulado para consolidar a pauta da anistia aos presos do 8 de Janeiro.
Na última semana, o ex-ministro e petista histórico José Dirceu defendeu que o fim da jornada seja uma da “agendas prioritárias” do partido e do campo da esquerda em 2025. “É hora de assumir com garra essa bandeira para acabar com o regime de semiescravidão dos empregados do comércio, que não podem desfrutar do fim de semana com seus familiares e amigos”, afirmou em artigo publicado no portal Congresso em Foco.
A toada é a mesma seguida por Lula. No evento que comemorou os 45 anos do Partido dos Trabalhadores, no último sábado 22, o presidente reafirmou a guinada que a legenda tem tentado imprimir junto aos seus seguidores: a de reaproximação com o trabalhador brasileiro.
“A pergunta que eu prefiro fazer é a seguinte: 45 anos depois, estamos atuando no dia a dia dos trabalhadores e das trabalhadoras? A verdade é que precisamos voltar a discutir política dentro das fábricas, no local de trabalho, e onde a classe trabalhadora está. Na cidade e no campo (…) porque se a gente aparece apenas de quatro em quatro anos para pedir voto, seremos iguais a qualquer partido político desse país”, declarou.
A pesquisa Datafolha de fevereiro que mostrou recorde de rejeição de Lula acendeu um alerta no governo no que diz respeito à sua aceitação entre a classe trabalhadora. Segundo o levantamento, entre os que ganham até dois salários mínimos, a aprovação caiu de 44% para 29%.