Em MG, Motta ignora recados de Zema sobre anistia pelo 8 de Janeiro
Governador faz apelo por "liberdade de manifestar opinião", enquanto presidente da Câmara foca em elogios a Tiradentes e à democracia

Apesar dos claros recados que Romeu Zema (Novo) enviou a Hugo Motta (Republicanos-PB) em apoio à anistia aos envolvidos nos atentados de 8 de janeiro de 2023, o presidente da Câmara dos Deputados ainda se esquiva de falar abertamente sobre o projeto. Nesta segunda-feira, 21, o governador mineiro condecorou o parlamentar com a Medalha da Inconfidência, honraria que remete à tentativa de rebelião contra a coroa portuguesa, no século XVIII, que acabou com o enforcamento de Tiradentes em praça pública.
Durante a cerimônia realizada em Ouro Preto, cidade que foi palco da Inconfidência (e, à época, se chamava Vila Rica), Zema ressaltou diversas vezes sua defesa da liberdade, pontuando que a premissa representa “o direito de manifestar opinião e voltar com segurança para casa” e lamentando que a garantia “não está assegurada” hoje no Brasil.
“Em MG, continuamos lutando com bravura pela liberdade. Nossa história pauta movimentos e deveria inspirar a política brasileira. Hoje, embora o Brasil tenha um regime democrático consolidado, a liberdade infelizmente não está assegurada. Sinto confiança que o novo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, nosso homenageado, tem a mesma percepção sobre o que é a liberdade”, declarou o governador, que é abertamente defensor da anistia aos presos por envolvimento na depredação dos prédios públicos em Brasília.
Motta, entretanto, fez um breve discurso e não retribuiu aos acenos do anfitrião sobre a anistia. Em cerca de sete minutos de fala, o presidente da Câmara preferiu focar na importância histórica da figura de Tiradentes, além de exaltar o ex-governador mineiro Tancredo Neves, que foi eleito indiretamente para ser o primeiro presidente após a ditadura militar, mas morreu antes de assumir o cargo. “Neste ano em que o Brasil celebra os quarenta anos da redemocratização, também lembramos, com reverência, os quarenta anos do falecimento deste extraordinário político brasileiro”, declarou o paraibano.
Pedido de urgência sobre anistia eleva pressão sobre Motta
Na segunda-feira passada, 14, deputados da oposição bolsonarista apresentaram um requerimento de urgência, que ainda precisa ser colocado em votação por Motta, sobre o projeto de lei da anistia. Caso a solicitação seja aprovada, o texto da anistia será levado diretamente à análise pelo plenário da Câmara, sem passar por discussão nas comissões.
Eleito sobre uma plataforma de conciliação, com apoio simultâneo do bolsonarismo e do governo federal, Motta ainda não sinalizou uma previsão para que a anistia seja pautada na Câmara. Desde que assumiu o comando da Casa, em fevereiro, ele se limita a repetir que sua gestão respeitará a vontade da maioria dos deputados — a postura coloca o paraibano no centro do fogo cruzado entre parlamentares alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que tratam o tema da anistia como prioridade, e aliados do governo Lula, cujo desejo é que o projeto não seja sequer apreciado pelos deputados.