CPI do MST começa como se esperava: sob o domínio do caos
Sessão teve bate-bocas entre oposição e governistas, microfone cortado, troca de acusações e discursos criminalizando ou exaltando o movimento dos sem-terra
A CPI para investigar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se reuniu nesta terça-feira, 23, na Câmara dos Deputados, para apresentação do plano de trabalho. Conforme o esperado, a sessão foi tumultuada, com diversas interrupções, gritaria e discussões entre os parlamentares.
A maioria dos integrantes da comissão é da oposição ao governo Lula, incluindo o presidente, Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS), o 1º vice, Kim Kataguiri (União-SP), e o relator, Ricardo Salles (PL-SP), ex-ministro do Meio Ambiente do governo de Jair Bolsonaro. Durante a sessão, deputados bolsonaristas atacaram o MST, que classificaram como um “movimento de marginais e bandidos” e “movimento de crime no campo” que invade terras, mata animais e causa violência. O deputado Evair de Mello (PP-ES) chegou a sugerir que o MST tenha ligação com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
As deputadas da base governista reagiram aos ataques e afirmaram que a CPI tenta criminalizar o movimento. A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) lembraram que o MST existe há 40 anos e tem como objetivo a luta contra a desigualdade na distribuição de terras no país. Em outro momento, Camila Jara (PT-MS) serviu o suco de uva produzido pelos trabalhadores rurais do MST aos presentes.
Também houve acusações entre os parlamentares. A deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) lembrou que o relator, Ricardo Salles, é investigado pela Polícia Federal por um esquema de exportação de madeira ilegal. O deputado não gostou e afirmou que vai representar contra ela no Conselho de Ética da Casa. O deputado Alfredo Gaspar (União-AL) defendeu o ex-ministro. “No momento atual, isso [investigação na PF] deve vir como medalha de honra. Essa perseguição feita a homens e mulheres públicos que não baixam a cabeça para essa esquerda”, declarou.
O deputado Éder Mauro (PL-PA) ressaltou que Sâmia Bomfim emprega em seu gabinete a ex-mulher de José Rainha Júnior, que foi um dos fundadores do MST, mas hoje milita em outro movimento. “Eu vejo deputadas aqui com a bolsa da Louis Vuitton, que custa quase 20 mil reais, defendendo marginais. Não se pode aceitar isso”, disse. Ela teve o microfone cortado ao lembrar que Zucco, presidente da CPI, é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento em atos antidemocráticos.