Como Zanin superou ‘fogo amigo’ do PT e consolidou confiança de Lula
Indicado ao STF era alvo de críticas entre petistas graúdos, que discordavam de suas teses jurídicas e defendiam a contratação de um advogado ‘medalhão’

Responsável pelas teses jurídicas que permitiram a reabilitação política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o advogado Cristiano Zanin Martins se tornou um ícone da derrocada da Operação Lava Jato. Suas estratégias jurídicas, afinal, levaram à derrubada dos processos e acusações contra Lula, alvo mais importante da operação, 580 dias preso em Curitiba, além da declaração de suspeição do ex-juiz Sergio Moro, hoje senador pelo União Brasil do Paraná. A nomeação de Zanin ao Supremo Tribunal Federal (STF) por Lula, neste sentido, é a cereja do bolo do ocaso a operação, como mostra reportagem de capa de VEJA desta semana.
A exemplo de Lula, no entanto, o advogado era ridicularizado no auge da Lava Jato e suas teses viviam sob bombardeio de alas importantes do PT, que caprichavam no “fogo amigo” contra o jurista. Zanin era comumente apontado como “inexperiente” em casos criminais, insuficiente para defender o petista das pesadas acusações dos procuradores e tachado meramente como “genro de Roberto Teixeira”, compadre de Lula e advogado dele havia décadas.
Os detratores, ao contrário do presidente, não acreditavam no sucesso da estratégia baseada em pedidos de suspeição de Moro e alegações de que os casos contra Lula não deveriam tramitar na Justiça Federal do Paraná – teses depois amplamente aceitas no STF, sobretudo após o vazamento de mensagens trocadas entre o ex-juiz e procuradores da Lava Jato, que revelavam atuação orquestrada contra alvos das apurações, incluindo o petista.
Antes da virada da maré, em meio às sucessivas derrotas da defesa de Lula na Lava Jato, inclusive no Supremo, não foram poucos os apelos de petistas graduados para que o presidente contratasse para representá-lo um medalhão do direito criminal. Lula, contudo, manteve a confiança em “Cris”, como carinhosamente chama o advogado. Enquanto esteve preso, petistas também pressionaram o presidente a pedir progressão de regime quando a possibilidade se tornou real, mas Lula batia o pé e resistia, sobretudo por condições como uso de tornozeleira eletrônica.
Zanin, ao contrário dos correligionários do presidente, apresentava a ele as alternativas jurídicas, mas não questionava as diretrizes de Lula. “Não troco minha dignidade pela minha liberdade”, afirmou o petista, em uma carta em setembro de 2019, após a força-tarefa da Lava Jato pedir que ele fosse do regime fechado para o semiaberto.
Em meio à acirrada disputa pela vaga de Lewandowski no STF, aliados de Lula vinham mantendo nos bastidores algumas críticas a Cristiano Zanin, sobretudo pelo fato de não externar opiniões a respeito de temas caros à esquerda, como aborto, drogas e políticas indígenas. Em lances menos nobres da corrida, até as relações com o sogro, Roberto Teixeira, com quem Zanin e a esposa, Valeska Teixeira Zanin Martins, estão rompidos, foram exploradas para tentar desgastá-lo junto ao presidente. A confiança irrestrita depositada nele por Lula, contudo, pesou mais.