Como cada filho de Bolsonaro atua para manter a influência do pai e do clã
Enquanto o ex-presidente não retorna ao país, Flávio e Eduardo Bolsonaro voltaram ao trabalho no Congresso, agora na oposição ao governo Lula

Com o pai nos Estados Unidos, sem previsão de volta ao Brasil, os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro se articulam para manter influência dele e do clã no jogo político. Como mostra reportagem de VEJA nesta semana, a “missão” recai sobretudo no senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e no deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que voltaram aos trabalhos no Congresso como parlamentares de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Não raro classificado por opositores e aliados como o mais articulado politicamente e mais maleável no trato entre os três filhos políticos de Bolsonaro, Flávio é visto no bolsonarismo como peça-chave no Senado. A direita avançou consideravelmente na Casa em 2022, com a eleição de nomes como os ex-ministros Rogério Marinho (PL-RN), Damares Alves (Republicanos-DF) e Marcos Pontes (PL-SP) e o ex-vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS) e promete dores de cabeça a Lula. O Zero Um articulou ativamente pela fracassada candidatura de Marinho contra Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à presidência do Senado, numa disputa que se mostrou mais acirrada do que o previsto – Marinho teve 32 votos, mais de um terço da Casa.
Líder da bancada do PL, a segunda maior no Senado, com treze cadeiras, Flávio mostrou na campanha a que vem e tentou atrelar a Pacheco, apoiado pelo PT, os atos golpistas de 8 de janeiro, atribuindo ao mineiro falhas na “pacificação” do país enquanto presidente do Senado. Internamente, em um PL dividido entre “centrão-raiz” e direita bolsonarista, Flávio é visto como “olhos e ouvidos” de Bolsonaro e contraponto ao presidente do partido, Valdemar Costa Neto. A médio prazo, o senador não descarta ser candidato à prefeitura do Rio em 2024, no que seria sua segunda tentativa ao cargo e o primeiro teste do clã em uma eleição majoritária desde a derrota de Bolsonaro.
Na outra Casa do Legislativo, aliados esperam de Eduardo Bolsonaro mais protagonismo na oposição do que ele manteve durante o governo do pai. O Zero Três será o líder da minoria na Câmara e desde já tem defendido o impeachment de Lula. Na posse em seu terceiro mandato, Eduardo desfilava pelo plenário ostentando na parte de trás do paletó um adesivo que dizia “fora ladrão”. “Se antes Jair Bolsonaro batalhava praticamente sozinho, hoje a semente plantada lá trás dá frutos. Vivemos tempos estranhos, mas a quadrilha do PT terá a maior oposição que já se viu”, prometeu. Além de uma atuação mais firme no Congresso, Eduardo deve seguir articulando para aglutinar a militância bolsonarista e se manter como ponte entre Bolsonaro e a direita internacional – ele é organizador da versão brasileira do fórum conservador CPAC e interlocutor do trumpismo.
Sem mandato em Brasília como os irmãos, o outro filho político de Bolsonaro, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos), segue nos EUA, assim como o pai. Ele deve continuar sendo o “cabeça” da comunicação do capitão nas redes sociais, mas o recomeço nessa função com o pai fora do poder não poderia ter sido pior. Atribui-se a Carlos a publicação de um vídeo na conta de Bolsonaro no Facebook, nos dias seguintes ao 8 de janeiro, que trazia os dizeres de que “Lula não foi eleito pelo povo, ele foi escolhido e eleito pelo STF e TSE”. A postagem foi apagada, mas levou a Procuradoria-Geral da República a pedir que Bolsonaro fosse investigado junto ao STF por incitação ao golpismo – a solicitação foi atendida por Alexandre de Moraes.
O vereador também é investigado por disseminação de fake news e, se durante o governo do pai já havia temor de que fosse alvo de alguma medida de Moraes, a apreensão aumentou com Bolsonaro fora do poder. Interlocutores do ex-presidente dizem que Carlos Bolsonaro também tem receios quanto à sua segurança, o que pode estender sua passagem pelo exterior durante algum tempo.