Como bolsonaristas e governistas selaram ‘convivência pacífica’ no PL
Parlamentares aliados de Jair Bolsonaro ouviram ponderações sobre importância da proximidade com governo a alguns colegas, sobretudo do Nordeste

Isolada na Câmara em meio à formação de dois superblocos parlamentares, que incluem os principais partidos de centro na Casa, a bancada do PL, com 99 deputados, é vista pelos caciques do partido como um trunfo mesmo nesta nova correlação de forças. Como mostra reportagem de VEJA desta semana, na avaliação de Valdemar Costa Neto e companhia, o tamanho do partido o torna um fiel da balança na formação de maiorias na Câmara.
Políticos de outros partidos, contudo, relativizam essa leitura, ponderando os riscos de a bancada de deputados do partido ser formada por uma maioria de bolsonaristas, parte deles inexperiente politicamente e radical, e uma ala com pouco mais de 20 deputados que se poderia classificar como “centrão raiz”, ou seja, pragmáticos e dispostos a dialogar com o governo, seja ele qual for, como sempre foi do feitio da legenda. Nestas avaliações sobre o saco de gatos do partido, os mais céticos da unidade do PL evocam o cisma provocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro dentro do PSL, que acabou por implodir a legenda, depois fundida ao DEM para originar o União Brasil.
Lideranças do PL minimizam a divisão em sua bancada na Câmara e afirmam que o governismo da ala simpática a Lula já está precificado e não impacta no ímpeto oposicionista do partido. Uma reunião entre os deputados recentemente buscou pacificar a situação e aparar arestas internamente. No encontro, bolsonaristas ouviram as razões para o posicionamento dos colegas, cujos mandatos representam, sobretudo, estados do Nordeste, região onde o presidente Lula é historicamente imbatível eleitoralmente.
As explicações incluíram ponderações sobre estes deputados não disporem de tanto apelo midiático e peso nas redes sociais e serem pautados por uma atuação “municipalista”, dependente, portanto, de relações com o governo para levar emendas, obras e recursos às suas bases eleitorais e conseguirem renovar seus mandatos a cada eleição. Segundo interlocutores da reunião, ficou acertada uma convivência pacífica entre os parlamentares bolsonaristas e os que têm viés mais governista.
“Tivemos uma conversa com os que são mais bolsonaristas, porque têm que entender a situação dos colegas. Eles podem ter uma ou outra interlocução com governo, apoiar em uma ou outra votação, mas não vamos deixar que isso interfira na nossa unidade. Houve compreensão para que cada um faça o mandato que precisa”, diz o deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), segundo vice-presidente da Câmara. “Nas questões caras ao nosso partido, como família, pautas que o presidente Bolsonaro defende, liberdade de expressão, nossa bancada estará sempre 100% unida”, acrescenta o líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes (RJ). A ver.
Fato é que, na falta de provações expressivas em votações no Congresso, que ainda não começaram para valer, a divisão da bancada e como ela vai se comportar ainda é um cenário nebuloso. “Por enquanto não houve problemas, também porque não teve teste ainda”, diz um deputado do PL que frequenta o círculo mais próximo de Valdemar Costa Neto.
Enquanto isso, membros da ala governista do PL não escondem suas relações de proximidade com o governo Lula. Na última quinta-feira, 20, o deputado Josimar Maranhãozinho (MA), principal expoente desse grupo, publicou em suas redes sociais uma foto ao lado do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, um dos principais alvos dos bolsonaristas no governo. Maranhãozinho teve uma audiência com Dino, ao lado de um prefeito e uma deputada maranhenses.