Cinco pontos que explicam a derrocada do PT no maior centro urbano do país
Partido tem tido dificuldade para liderar a corrida eleitoral nas cidades do entorno de São Paulo, seu berço político e prioridade na campanha deste ano
No auge da popularidade dos governos Lula e Dilma Rousseff, o PT comandou as prefeituras da cidade de São Paulo e de algumas das principais cidades de seu entorno, mantendo por anos a hegemonia no maior aglomerado urbano do país, com quase 21 milhões de moradores. Nos últimos anos, no entanto, o eleitor, que em sua maioria havia sido forjado no ambiente político, social e econômico onde nasceu o próprio partido, se afastou da legenda, mudando a cor do chamado “cinturão vermelho”.
Como mostra reportagem de VEJA na edição desta semana, a reconquista da região é uma das prioridades de Lula e do PT na campanha eleitoral deste ano. Mas essa perspectiva, a menos de três semanas da eleição, não é animadora, porque nenhum candidato petista tem situação confortável nas maiores cidades, nem mesmo nas únicas duas que governa hoje na região — Diadema e Mauá — e onde tenta a reeleição.
A dificuldade nas pesquisas atinge mesmo nomes históricos do partido na região, como o deputado estadual Emídio de Souza, que foi prefeito de Osasco por duas gestões nos anos de ouro do petismo e agora tenta voltar ao cargo) ou José de Filippi Júnior, ex-tesoureiro das campanhas de Lula e Dilma e que tenta a reeleição para um quinto mandato em Diadema.
A dificuldade para o petismo voltar a dominar a principal área metropolitana do país pode ser explicada por ao menos cinco fatores:
Escândalos de corrupção
Nos últimos 20 anos, a imagem do PT foi fustigada por denúncias de irregularidades e prisão de seus principais dirigentes, como nos episódios do Mensalão e da Operação Lava-Jato. Em seus piores momentos, o partido viu a sua principal liderança, o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ficar preso por 580 dias na carceragem da Polícia Federal em Curitiba e a então presidente da República, Dilma Rousseff, ser alvo de impeachment.
Mudança no eleitorado
No mesmo período, a região da Grande São Paulo mudou quando os grandes parques das indústrias deixaram de ter galpões apinhados de trabalhadores para dar lugar às máquinas. Com novas relações de trabalho, com menos empregos de carteira assinada e mais registros de pessoas jurídicas, os sindicatos, um dos alicerces do PT, perderam força, principalmente após o fim da contribuição sindical, em 2017. Dirigentes do partido consideram que as melhorias sociais promovidas pelos governos petistas também distanciaram o eleitor das bandeiras levantadas pelo partido, como distribuição de renda e justiça social.
Falta de diálogo
O partido também perdeu o ponto de contato com o eleitor, principalmente entre os mais jovens, ao manter a defesa de pautas distantes do dia a dia das pessoas, segundo o cientista político Alberto Carlos Almeida, autor do livro A Cabeça do Eleitor. “A insistência na defesa de regimes obsoletos, como os de Cuba e Venezuela, por exemplo, não dialoga com as demandas do dia a dia”, disse. Também contribuiu a expansão evangélica nas últimas décadas, que tornou mais conservadora boa parte da sociedade.
Baixa renovação dos quadros
O candidato do PT a prefeito de Osasco é o deputado estadual Emídio de Souza, que governou o município por dois mandatos, entre 2005 e 2012. Em São Caetano do Sul, o nome petista que concorre à prefeitura é o de Jair Meneguelli, ex-líder sindical que herdou de Lula a cadeira de presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Grande ABC, além de fundador da CUT. Embora tenham peso no partido, e serem velhos conhecidos do eleitor, ambos estão pontuando pouco nas pesquisas de intenção de votos. Especialistas apontam a baixa renovação dos quadros do partido como uma das dificuldades para atrair novos simpatizantes.
Redes sociais
De maneira geral, a atuação dos petistas nas redes sociais são, na comparação com políticos de direita, tímida, “careta” e obsoleta. Por isso, engajam menos em um campo fundamental para a atração de novos eleitores e simpatizantes. O eleitor de 16 a 18 anos, por exemplo, não sabe o que foi o primeiro governo Lula e o que ele representa, mas tem acesso fácil aos ataques de seus adversários na internet. As redes e as novas formas de comunicação são fundamentais para reconectar o partido com este público.