Braço direito de Cunha no impeachment é o ‘anjo’ de Bia Kicis na CCJ
Apontado pelo emedebista como 'melhor regimentalista da Câmara', Silvio Avelino socorre a deputada novata nos trabalhos na comissão mais importante da Casa
A deputada Bia Kicis (PSL-DF) tem passado apuros na presidência da Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) da Câmara, colegiado mais importante da Casa, como mostra reportagem de VEJA desta semana. As dificuldades de Kicis saltam aos olhos diante das táticas de obstrução da oposição e só não são maiores por um motivo, que bate ponto na Câmara desde 1974 e atende pelo nome de Silvio Avelino. Servidor de carreira respeitado e exímio conhecedor do regimento interno, escolhido secretário-executivo da CCJ, é ele a figura calva que pacientemente socorre a deputada de primeiro mandato na condução dos tumultuados trabalhos da comissão.
Chama a atenção de membros do colegiado, que inclui alguns dos deputados mais experientes da Câmara, a constância com que o “anjo da guarda” é acionado ou intervém como salva-vidas da novata. “Uma coisa é se apoiar no servidor, outra coisa é depender 100%, como ela. Bia também fica muito nervosa, gagueja muito”, diz um deputado tarimbado. Considerando a trajetória de Avelino, não é de se espantar que a presidente da CCJ tenha o escolhido para assessorá-la.
Ele começou a bater ponto na Câmara aos 15 anos e por ali foi mensageiro, datilógrafo, assistente de plenário, diretor do Departamento de Comissões e, entre março de 2015 e julho de 2016, secretário-geral da Mesa Diretora, um dos cargos mais altos da carreira, responsável por auxiliar o presidente da Casa na sua função, além de “dirigir, coordenar e orientar todas as atividades legislativas” da Câmara.
Primeiro negro a assumir a Secretaria-Geral da Mesa, Silvio Avelino chegou ao cargo pelas mãos do então presidente da Casa, Eduardo Cunha (MDB-RJ), em substituição a Mozart Vianna de Paiva, figura célebre no Congresso que se aposentara depois de duas décadas no posto. Em seu livro Tchau Querida: o Diário do Impeachment, que acaba de ser lançado, Cunha, hábil operador do regimento interno, é só elogios a seu ex-braço direito. “Melhor regimentalista da Casa”, “maior especialista em regimento que a Câmara já teve” e um “leão” no trabalho, são algumas das referências do ex-deputado a Silvio Avelino.
Cunha atribui grande responsabilidade a Avelino pelo sucesso do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, aberto pelo emedebista em outubro de 2015. “A atuação dele foi fundamental para todo o processo de impeachment de Dilma”, diz o ex-presidente da Câmara. Segundo Cunha, foi o próprio Avelino quem “aprontou” o despacho determinando a abertura do processo de impedimento da petista e comandou reuniões em que o roteiro da tramitação do impeachment foi delineado, “a fim de evitar surpresas”. “Com a presença dele em tempo integral, eu ficava mais tranquilo. Isso seria decisivo para o sucesso de todo o processo”, reconhece Cunha.
Ainda em seu livro, Eduardo Cunha narra que, a seu pedido, Avelino guardou em um cofre na Secretaria-Geral da Mesa o despacho autorizando a deflagração do impeachment até a sessão seguinte. “’Qualquer coisa que me acontecer, qualquer coisa mesmo, morte, mesmo que seja natural, afastamento, ou qualquer outra coisa que me impeça de estar aqui no outro dia, você tem o compromisso comigo de datar o documento e publicar imediatamente, determinando a leitura na primeira sessão. Essa é a minha vontade’, foi o que disse a ele”, relata Cunha. “Com a anuência dele e a certeza da sua correção, assinei a aceitação do pedido de abertura do processo de impeachment de Dilma naquela quinta-feira, dia 29 de outubro de 2015”, afirma o emedebista.
Com Dilma já apeada do poder, Silvio Avelino acabou exonerado do cargo em julho de 2016, pelas mãos do então presidente em exercício da Câmara, Waldir Maranhão, no dia seguinte à renúncia de Eduardo Cunha à presidência da Casa. “Foi lamentável que, depois da minha saída, tenham, por questões políticas, retirado da posição o melhor quadro técnico da Casa para a função. Eu espero que não tenha sido uma atitude motivada por preconceito”, lamenta-se Cunha.