Bolsonarismo elege manicure como novo símbolo para pedido de anistia
Após cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos ter ido para prisão domiciliar, ex-presidente e perfis de direita usam agora o caso de Eliene Amorim de Jesus

Após a decisão que, na semana passada, mandou para a prisão domiciliar a cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que estava presa preventivamente por pintar a estátua “A Justiça” de batom em Brasília no dia 8 de janeiro, o bolsonarismo elegeu um novo símbolo para a campanha que faz por anistia às pessoas acusadas de golpe de estado e outros crimes relacionados à participação nos atos de depredação das sedes dos três Poderes.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, filhos e vários perfis de direita nas redes sociais agora usam o caso da manicure Eliene Amorim de Jesus para pedir a libertação dos presos.
Presa há dois anos, Débora Rodrigues dos Santos conseguiu, na sexta-feira passada, o benefício de aguardar o julgamento em prisão domiciliar após o ministro Luiz Fux sinalizar que a pena atribuída a ela era muito alta.
Em postagem feita nas redes sociais nesta segunda-feira, 31. Bolsonaro diz que “infelizmente o caso de Débora não é isolado”. “Existem muitas outras Déboras. Muitas outras mães afastadas arbitrariamente de seus filhos. Muitas jovens com a vida interrompida não por crime algum, mas pelo desejo de vingança de Alexandre de Moraes”, afirmou.
Na mesma postagem, o ex-presidente diz que Eliene é missionária da Assembleia de Deus e estudante de psicologia sem antecedentes criminais e que foi presa por acompanhar os acampamentos “como pesquisadora”. A postagem de Bolsonaro, replicada pelos aliados, mostra a imagem de uma mulher de boné, com um bloco e uma caneta nas mãos, e com o corpo inteiro enrolado a uma bandeira do Brasil, símbolo apropriado pelos manifestantes golpistas.
“Todas as imagens mostram Eliene com papel e caneta na mão. Seu celular, apreendido pela PF, comprova que ela realizava uma pesquisa sobre os acampamentos pela ótica da psicologia. Mesmo assim, Eliene está presa preventivamente há dois anos no Presídio de Pedrinhas (Maranhão) sem visitas, longe da família e com a vida suspensa”, afirmou.
– Infelizmente, Débora não é um caso isolado. Existem muitas outras Déboras. Muitas outras mães afastadas arbitrariamente de seus filhos. Muitas jovens com a vida interrompida não por crime algum, mas pelo desejo de vingança de Alexandre de Moraes.
– É o caso de Eliene Amorim de… pic.twitter.com/7PklQWSuh5
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) March 31, 2025
Bolsonaro encerra a postagem convocando seus seguidores a participarem do ato pela anistia dos envolvidos no 8 de janeiro, marcado para o próximo domingo, 6 na Avenida Paulista, em São Paulo.
Assim como Débora, Eliane Amorim de Jesus foi denunciada pelos crimes de golpe de estado, abolição violenta do estado democrático de direito, deterioração de patrimônio tombado e dano qualificado pela violência e grave ameaça, com emprego de substância inflamável, contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para a vítima.
Na denúncia, a PGR relata que Eliene se deslocou do Maranhão até Brasília e acampou nas imediações do Quartel-General do Exército entre os dias 7 e 8 de janeiro de 2023, e permaneceu unida aos demais integrantes do grupo invadiu e depredou as sedes dos Três Poderes. “A denunciada participou de atos de estrago e destruição”, diz a PGR.
Segundo a denúncia, a identificação de Eliene foi feita a partir de fotos que ela mesma postou em seu perfil no Instagram. Em uma delas, ela aparece dentro do Palácio do Planalto. Em outra, consta a frase “Boraaa Brasil”, o que, para a PGR demonstra apoio ao movimento.
Além disso, mensagens encontradas no celular dela apontam para o envolvimento de Eliene com Antônio Freitas Gomes, identificado como Antônio Patriota, que seria organizador do grupo que se deslocou do Maranhão a Brasília para participar dos atos. Nas mensagens, ele dá orientações sobre como se portar durante os atos e depois, na divulgação.
A quebra de sigilo bancário demonstrou que Eliene recebeu 2.360 reais por meio de 55 Pix enviados por diversas pessoas. Em depoimento, ela confirmou que a viagem foi custeada por doações, confirmou a participação no ato do dia 8 de janeiro, mas negou ter depredado prédios públicos.
“O acervo probatório é no sentido de que Eliene Amorim de Jesus participava de grupo de “patriotas” de sua cidade natal e foi patrocinada por terceiras pessoas para que se dirigisse a Brasília/DF com Alan de Oliveira Rocha e Lucas Felipe Costa Rego, ali participasse dos atos antidemocráticos de 8.1.2023 e os documentasse”, afirma a PGR.
A denúncia foi recebida em decisão unânime da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) em agosto de 2024 e o processo segue tramitando. O relator, ministro Alexandre de Moraes, designou audiência de instrução para ouvir testemunhas no próximo dia 3 de abril. Se condenada, Eliane pode ter sentença semelhante à estipulada por Moraes a Débora: catorze anos de prisão.
No caso da cabeleireira, o julgamento foi suspenso após dois votos pela condenação — de Moraes e de Flávio Dino. O ministro Luiz Fux pediu vista do processo e tem até noventa dias para devolver o processo para votação.
Débora deixou a Penitenciária Feminina de Rio Claro no último sábado, 29. Ela terá que usar tornozeleira eletrônica e respeitar algumas restrições, como não ter contato com outros investigados, não receber visitas que não sejam de familiares e advogados, não dar entrevista e não utilizar as redes sociais.