As quatro frentes do governo Lula contra fake news e crimes na internet
Governo do petista tem sinalizado, ainda que de modo vago, que pretende avançar na polêmica discussão sobre regulamentar redes sociais

Em pouco mais de um mês instalado no Palácio do Planalto, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a se movimentar, ainda que de modo incipiente e vago, em direção à regulamentação do uso das redes sociais, com vistas a uma maior responsabilização de plataformas pelos conteúdos nelas veiculados – uma iniciativa delicada, alvo de críticas e resistências. Como mostra reportagem de VEJA desta semana, a gestão Lula abriu quatro frentes para combater o mau uso das redes, onde proliferam notícias falsas e mensagens antidemocráticas.
Antes mesmo dos atos golpistas de 8 de janeiro, a Advocacia-Geral da União anunciou a criação da Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia, para combater desinformação a respeito de políticas públicas. A medida foi criticada por não haver no ordenamento jurídico brasileiro uma definição sobre “desinformação” – no que surgiria uma brecha para o órgão descambar à censura, como no orwelliano “Ministério da Verdade”. A Procuradoria ainda não está ativa e a dinâmica do seu funcionamento depende da regulamentação por um grupo de trabalho, que inclui autoridades, entidades e acadêmicos. A AGU diz que a ausência de uma lei específica não pode levar ao imobilismo diante de um problema que “está inegavelmente na raiz de um processo de avanço do extremismo”.
Outra medida foi o “Pacote da Democracia”, do ministro da Justiça, Flávio Dino, que inclui uma medida provisória para criminalizar condutas na internet configuradas como terrorismo ou atentado à democracia e responsabilizar as plataformas que não retirarem do ar esse tipo de conteúdo. Ainda não concluída, a MP não pretende alterar o Marco Civil da Internet, que prevê a retirada de conteúdos da internet mediante decisão judicial. Já o ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação (Secom), criou a Secretaria de Políticas Digitais e defendeu a aprovação de leis para regulamentar as redes ainda no primeiro semestre, além da ativação de uma “rede de defesa da verdade”, sem especificar o que seria. “Não queremos que o governo ultrapasse a linha, mas também não queremos que fique inerte diante de uma situação grave”, diz um integrante da gestão Lula.
Além das três linhas da ofensiva em seu governo, Lula anunciou a intenção de provocar uma discussão internacional sobre o assunto. Ele colocou o tema na pauta da viagem aos Estados Unidos, na última sexta-feira, 10, apostando na empatia do colega americano Joe Biden, que também foi alvo de uma tentativa de golpe pelos apoiadores de Donald Trump em 2021, estimulada pelas redes sociais. O petista também já declarou que está disposto a discutir o tema no G20, o fórum das maiores economias do mundo, e no Brics, que reúne países como China, Índia e Rússia.
Nos últimos dias, a pretensão internacional do presidente ganhou o respaldo de outro personagem importante na cruzada contra o mau uso das redes sociais, o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE e relator de inquéritos do STF que investigam disseminação de notícias falsas e milícias digitais. Moraes pediu maior regulamentação do tema no país e disse que a Justiça elabora contribuições para enviar ao Congresso, mas defendeu a necessidade de leis internacionais que tenham como norte a defesa da democracia.