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Por José Benedito da Silva Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Ramiro Brites. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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ARTIGO: Por que amamos odiar a política

Votos de protesto continuam em alta nas eleições de 2024

Por *Tiago Pereira Andrade
Atualizado em 30 ago 2024, 17h59 - Publicado em 30 ago 2024, 17h59

Ex-participantes de reality shows, atores, músicos, esportistas e, hoje em dia, influenciadores digitais. A lista é enorme, não só no Brasil, mas em todo o mundo.
Transformar celebridades em políticos é uma estratégia para angariar votos.  Aproveita-se da fama para interferir na vida pública. Mas ser popular para ganhar as
eleições não garante que teremos um bom político. A política e as eleições, por mais que relacionadas, e dizerem respeito a todos nós, parecem, muitas vezes, temas antagônicos. Talvez por isso os discursos de negação à política tenham sido vitoriosos em muitas das últimas eleições.

Não é uma questão recente. Quando as células de votação eram escritas a mão, um rinoceronte do zoológico de São Paulo, chamado Cacareco, em 1959, poderia ser eleito um dos vereadores mais votados para a Câmara de São Paulo, se fosse candidato — e se fosse um humano, claro. É muito mais fácil encontrar quem não goste de política do que quem goste. Aprendemos a odiar a política, não foi à toa. Faz parte de nossa história. Por isso, votos de protesto, ou votos em quem não é da política fazem tanto sucesso. Pior que está, não fica, não é, Tiririca? De deputado mais votado do Brasil quando não era político, para o menos votado depois que gostou do palanque.

Com a polarização dos grupos entre direita e esquerda, progressistas e conservadores, as escolhas por discursos que estão fora dos planos de governo, aumentaram. Fico me
perguntando o quanto que as assessorias dos candidatos sofrem com isso. Pablo Marçal, um coach de redes sociais, disparou no protagonismo das notícias eleitorais da
maior cidade do país. Ele não fala de política, ele fala de moral, da vida dos outros, provoca, cria memes, propaga fake news, e por mais que os outros candidatos não
gostem, ele orquestra a corrida eleitoral. É muito cedo para falar em favoritismo, mas ele mudou o cenário. Há quem diga que o que ele faz não é sério. Mas dentro de um pragmatismo, o objetivo é vencer as eleições, não é? Ele ganha votos com este comportamento. Pode até ser que não ganhe as eleições, mas segue o mesmo caminho, porém de forma aperfeiçoada, que o penúltimo presidente eleito, Bolsonaro.

Mas, quando as eleições passam, normalmente, nos atentamos aos governos, e como serão as gestões. Ou, ao menos, deveria ser assim. Mas para a maioria dos eleitores,
não é assim. É como se a corrida eleitoral no mundo digital continuasse. Os eleitores que votaram nos candidatos derrotados fazem um esforço enorme para descredibilizar quem ganhou. Acima de tudo são desconfiados e ressentidos. A maioria acompanha as notícias somente nas redes sociais. Se pautar pelos aplicativos é o mais comum, não importa de que lado está. Estes eleitores estão do lado que o digital aponta. Eles são regidos pelos algoritmos que somente reforçam seus pensamentos. Funcionam como um enxame de abelhas. Acham que estão agindo por si, mas se movimentam em grupo. E assim, vão se tornando mais fundamentalistas. Quase nunca furam a bolha. Na maior parte do tempo: lacram, cancelam, viralizam, realizam linchamentos virtuais, fazem julgamentos, espalham memes, espalham fake news. Alguns discutem calorosamente nos posts, não para ter razão, mas para tentar ofender o outro.

Para quem vive no digital, o outro não mais é um ser que merece respeito. O respeito só existe com a distância, e todos parecem próximos. São inimigos e, para muitos,
podem até ser eliminados. As famílias estão mais desunidas do que nunca. Algumas amizades nunca mais voltarão. As relações de trabalho, quando muito, são toleradas,
mas com certeza fragilizadas.

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Ah, e os políticos? Bem, esses seguem assistindo os movimentos de seus eleitores nas redes, para assim, poder acompanhá-los, e não perderem seus votos nas próximas
eleições. Basta captar as opiniões digitais para prever tendências. Muitas vezes, são dados que estão ali disponíveis, e ajudam a pautar os discursos. Alguns são mais
habilidosos que outros em fazer isso.

O problema maior é que o executivo não governa sozinho. Ninguém governa sem aliança com o Legislativo. Ninguém se candidata sem partido. Ninguém ganha eleição
sem patrocínio. Quem dita a dança não está na vitrine. São muito pouco discutidos — nas redes, televisões ou quaisquer outros meios. As redes sociais e as celebridades são quase sempre distrações para uma sociedade que ama odiar a política. Os políticos profissionais não têm tanta visibilidade, mas serão eles os principais atores do
governo.

Quem pauta, ganha voto, ganha exposição e pode até ganhar as eleições, mas quem manda, quase sempre, está nos bastidores. Seja no legislativo, sejam nos conchavos,
nas cúpulas partidárias ou até nos patrocinadores da corrida eleitoral.

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espm
Tiago Pereira Andrade, coordenador e professor do curso de
graduação de Ciências do Consumo da ESPM (Divulgação/VEJA)

*Tiago Pereira Andrade é sociólogo e antropólogo, coordenador e professor do curso de
graduação de Ciências do Consumo da ESPM.

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