Anos depois, Arruda voltou para buscar sua parte na propina
Prisão do ex-governador interrompeu pagamentos de suborno; em 2013, de volta à vida pública, ele teria se movimentado para recuperar o tempo perdido
Em novembro de 2009, a Polícia Federal deflagrou a Operação Caixa de Pandora, voltada a investigar um esquema de corrupção no Distrito Federal. Três meses depois, José Roberto Arruda, então governador pelo DEM foi preso e, na sequência, cassado pela Câmara Legislativa.
Ele ficou pouco tempo atrás das grades – em abril de 2010, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) revogou a sua prisão. No entanto, foi o suficiente para que ele deixasse de receber os recursos de propina decorrentes de outro esquema: a construção superfaturada do estádio Mané Garrincha para a Copa do Mundo de 2014. Na decisão que autorizou a Operação Panatenaico, que investiga as obras da arena, o juiz federal Vallisney de Souza Oliveira aponta que, anos depois, Arruda voltou para receber a sua parte.
Apontado como o responsável por combinar a fraude na licitação e acertar o esquema de repasses indevidos, o ex-governador voltou à vida pública em 2013, filiado ao Partido da República (PR) com planos de disputar novamente o governo no ano seguinte. Uma de suas medidas foi indicar o operador Sérgio Lúcio Silva de Andrade para pressionar as construtoras envolvidas na obra a pagar os valores que considerava devedores, “obtendo êxito parcial” segundo o despacho judicial – a esta altura, o governo e o esquema já estavam sob o comando de Agnelo Queiroz (PT).
Arruda foi proibido pela Justiça Eleitoral de disputar o último pleito por ter sido condenado por improbidade administrativa. Na operação de hoje, voltou a ser preso provisoriamente e teve dez milhões de reais bloqueados pela Justiça Federal. Em 2014, Arruda foi substituído pelo vice, Jofran Frejat (PR), indo para o segundo turno contra Rodrigo Rollemberg (PSB), que acabou eleito. Outro preso nesta terça-feira, Queiroz ficou apenas em terceiro lugar e não foi reeleito.
O advogado do ex-governador José Roberto Arruda, Paulo Emílio Catta Preta, afirmou que a narrativa apresentada no despacho é “absolutamente insustentável”. Para o defensor, não faz sentido imaginar que o ex-governador “cobraria” um valor quatro anos depois, prazo que não seria aceitável nem para pagamentos legais. Catta Preta ressaltou que o que ocorre é uma investigação que, ao final, provará a inocência de seu cliente.