A irritação do bolsonarismo com a possibilidade de Derrite deixar o PL
Aliados do ex-presidente veem com desconfiança a proximidade do secretário da Segurança Pública de SP com o presidente estadual do PP, Maurício Neves

O entorno de Jair Bolsonaro está irritado com a possibilidade de o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, que é filiado ao PL, deixar o partido. Ele foi indicado pela sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro para o cargo no governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) e é considerado um dos poucos nomes do PL no primeiro escalão paulista — a outra pasta entregue à legenda foi a Secretaria de Políticas para Mulheres, chefiada pela deputada estadual Valéria Bolsonaro (nenhum parentesco com o ex-presidente).
Aliados do ex-presidente veem a relação próxima de Derrite com o presidente estadual do PP, deputado federal Maurício Neves (PP-SP), como uma ameaça à continuidade do secretário no PL. Os dois se encontraram no último final de semana. Além disso, Derrite tem uma relação antiga com o PP — o secretário foi filiado ao partido entre 2018 e 2022 e por ele foi eleito deputado federal pela primeira vez, em 2018. A migração para o PL só ocorreu em 2022, quando foi reeleito para a Câmara dos Deputados já com o aval do bolsonarismo. Também pesa para a desconfiança a proximidade que Derrite ainda mantém com outros políticos do PP no estado, além de Maurício Neves.
A interlocutores Derrite minimizou a reunião com Neves e disse que não há conversas sobre uma mudança de partido. O secretário disse que ele e o deputado mantêm uma boa relação, na qual as famílias se conhecem e os filhos brincam juntos. A amizade, diz Derrite, não significa necessariamente que haverá uma troca de legenda. O secretário, no entanto, também não descartou a possibilidade de mudar de sigla.
Crise na segurança
A hipótese de ele trocar de legenda também causa desconforto porque a segurança pública vem sendo questionada por conta de episódios seguidos de violência protagonizados pela Polícia Militar, além de denúncias de corrupção contra integrantes da Polícia Civil. O próprio governador, segundo VEJA apurou, disse a um interlocutor que não demite ninguém durante uma crise — o que deu margem à interpretação de que isso pode ocorrer se o mau momento for superado.
A nomeação de Guilherme Derrite, ex-comandante da Rota, a tropa de elite da Polícia Militar paulista, como secretário de Segurança Pública de São Paulo foi um aceno ao bolsonarismo. Com o discurso “linha-dura” no combate à violência, que encontra ressonância em boa parte da população, ele é visto como um potencial candidato ao Senado em 2026 — em dobradinha com Eduardo Bolsonaro — e até como um possível sucessor de Tarcísio, caso o governador decida disputar a eleição presidencial.
Relação com o cacique do PP
Derrite e Maurício Neves têm contatos frequentes, tanto no gabinete do secretário, para onde o deputado costuma levar prefeitos de São Paulo para apresentar reivindicações, quanto na Câmara dos Deputados (veja abaixo) — Derrite é deputado federal licenciado.
Nos últimos meses, alguns episódios envolvendo a amizade de Derrite e Maurício Neves chamaram a atenção. Em novembro, o secretário viajou para Maresias, no litoral norte de São Paulo, para a festa de aniversário do deputado. A comemoração ocorreu no dia seguinte ao assassinato de Vinicius Gritzbach, morto oito dias após denunciar policiais civis corruptos – a vítima já havia delatado integrantes do PCC. O episódio, à luz do dia, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, o principal do país, foi crítico para a imagem da segurança paulista. Policiais já foram presos, mas ainda há foragidos e as investigações continuam.
Um mês depois, em 5 de dezembro, Derrite voltou de reuniões do Conselho Nacional de Secretários de Segurança Pública (Consesp), em Brasília, no avião do empresário José Romano Neto. Descontraído, vestindo bermuda e sandálias, Maurício Neves também estava entre os tripulantes do voo que pousou em São Roque, a 53 quilômetros da cidade de São Paulo. O embarque na capital federal foi flagrado pela revista Piauí e virou alvo de representação do deputado estadual Paulo Batista dos Reis (PT-SP) contra Derrite. O pedido de abertura de inquérito está na mesa do procurador-geral de Justiça de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa. O chefe do Ministério Público de São Paulo (MPSP) espera a resposta do governo estadual após solicitar mais informações.
Conhecido como Zeca Romano, o dono do avião faz parte do conselho de administração da Mondopass, empresa que tem participação na Autopass, responsável pelos bilhetes do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Romano também é um dos sócios da Diastur Turismo, que tem contratos com a Secretaria Estadual de Educação para transporte escolar.
A reportagem tentou ouvir Maurício Neves, mas o deputado disse que estava em férias com a família e que não poderia falar.