A frase de Jair Bolsonaro que deu à PGR a certeza de golpe
Denúncia enviada ao STF diz que ex-presidente e aliados estudavam tomar poder à força desde 2021

“Só saio preso, morto ou com vitória. Quero dizer aos canalhas que eu nunca serei preso!”, declarou o então presidente da República, Jair Bolsonaro, diante de uma multidão de apoiadores na Avenida Paulista, em São Paulo, no dia 7 de setembro de 2021. A fala foi precedida por uma sequência de ataques do mandatário às instituições democráticas, perante dezenas de faixas que pediam por intervenção militar no Brasil e prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal.
Estas foram as palavras que, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), afastaram qualquer dúvida sobre as intenções do presidente em entregar a cadeira no Planalto, democraticamente, caso fosse derrotado nas eleições do ano seguinte. “Foi nesse cenário que JAIR BOLSONARO, evidenciando seu receio de derrota nas urnas, apresentou de forma explícita a mensagem autoritária de permanência no poder”, escreveu o procurador-geral Paulo Gonet nesta terça-feira, 18, na denúncia enviada ao STF contra Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
As investigações da Polícia Federal apontam que a organização golpista formada por Bolsonaro e uma série de ex-ministros, aliados e militares já estudava, pelo menos desde 2021, alternativas para manter o ex-presidente no poder, independente do resultado das urnas. Naquele ano, o grupo deu início a uma ação coordenada para radicalizar o eleitorado bolsonarista, incluindo o incentivo para que o próprio capitão subisse o tom contra integrantes do STF.
“As ações da célula de contrainteligência intensificaram-se a partir da radicalização dos discursos públicos de JAIR BOLSONARO, em meados de 2021, caracterizando o início coordenado da execução do plano maior de ruptura com a ordem democrática”, diz a denúncia da PGR. O plano incluiria, além de “esticar a corda” contra as instituições de Estado, pavimentar o caminho para as alegações de fraudes nas urnas eletrônicas — em paralelo às ações ideológicas, os golpistas encomendaram uma perícia técnica que, mesmo sem encontrar falhas de segurança nos dispositivos, foi divulgada para minar a confiança da população no sistema eleitoral brasileiro.
Além de Jair Bolsonaro, outros sete nomes ligados ao seu governo foram denunciados pela PGR na noite desta terça-feira, incluindo os ex-ministros Walter Braga Netto, Augusto Heleno e Anderson Torres, e o ex-ajudante de ordens do capitão, Mauro Cid. Ao todo, 34 pessoas foram indiciadas nas investigações sobre a tentativa de golpe de Estado gestada entre 2021 e 2023.