A bolsa de apostas para o lugar de Rodrigo Maia na presidência da Câmara
Líderes do Centrão, grupo que se aproxima de Bolsonaro, estão entre os principais candidatos à vaga, mas atual presidente ainda não desistiu da reeleição
A aproximação do presidente Jair Bolsonaro com partidos do chamado Centrão ocorre em um momento de desgaste da relação entre o Executivo e o Legislativo e tem como pano de fundo a estratégia que começa a ser traçada pelo governo pensando na sucessão do cargo de presidente da Câmara dos Deputados, posto que será exercido por Rodrigo Maia (DEM-RJ) até fevereiro de 2021.
Maia é um dos alvos preferidos da militância bolsonarista nas redes sociais e já teve vários embates públicos com Bolsonbaro. O atrito mais recente decorre da aprovação, na Câmara dos Deputados, de um pacote de ajuda fiscal de 89 bilhões de reais a estados e municípios em meio à pandemia de coronavírus. Para aliados de Bolsonaro, o projeto é uma bomba fiscal que transfere o ônus de medidas adotadas por governadores e prefeitos, como os decretos de quarentena, para a União.
Por causa da aprovação do pacote, Bolsonaro chegou a atacar duramente o presidente da Câmara há uma semana. “Eu lamento a posição do Rodrigo Maia, resolveu ele assumir o papel do Executivo. O senhor Rodrigo Maia resolveu não conversar com mais ninguém. Qual o objetivo do senhor Rodrigo Maia, resolver o problema ou atacar o presidente da República?”, questionou.
Um dos nomes cotados é do deputado federal Arthur Lira (PP-AL), um dos caciques mais influentes do Centrão e réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva. Lira, aliás, é líder do bloco formado por PL, PP, PSD, MDB, DEM, Solidariedade, PTB, PROS e Avante, conhecido como “Blocão”. Nesta semana, o parlamentar se reuniu duas vezes com Bolsonaro, no Palácio do Planalto. Nesta quarta-feira, 22, o presidente da República gravou um vídeo ao lado do deputado com uma fala aos familiares do parlamentar, chamado de “maridão” pelo chefe do Executivo.
Outro nome aventado nos corredores de Brasília é o do vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcos Pereira (Republicanos-SP), presidente nacional do partido que recentemente abrigou o vereador Carlos Bolsonaro (RJ) e o senador Flávio Bolsonaro (RJ). Pastor licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo, Pereira é membro da bancada evangélica, principal aliada do governo no Congresso.
O terceiro nome é o do deputado federal Capitão Augusto (PL-SP), presidente da Frente Parlamentar de Segurança Pública. Diferentemente de outros postulantes à cadeira que hoje é ocupada por Maia, Augusto já oficializou sua candidatura. O líder da bancada da bala é o principal porta-voz do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, na Câmara dos Deputados, e tem o apoio de parlamentares ligados à segurança, uma das principais bandeiras do bolsonarismo.
Entre os parlamentares do Centrão, também são cotados o deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM) , vice-líder do “Blocão”, parlamentar em ascensão desde que presidiu a comissão especial da reforma da Previdência – sempre adotou um tom bastante crítico com o governo – e o líder da maioria na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-DF), este o preferido de Maia caso o atual presidente não possa disputar a reeleição.
A articulação dos postulantes ao cargo de presidente da Câmara depende da movimentação de Maia nos bastidores. Como mostrou o Radar, embora a Constituição proíba que os presidentes das duas Casas sejam reconduzidos aos cargos na mesma legislatura, tanto Maia quanto o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), atuam para costurar um plano que possa garantir à dupla a continuidade no comando do Legislativo por mais dois anos.