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Os fatores ocultos por trás das doenças cardiovasculares

No Setembro Vermelho, mês do coração, especialista examina os principais elementos que aumentam o risco de infarto, AVC e outras complicações

Por Miguel Antonio Moretti*
9 set 2024, 10h08

A aterosclerose é uma doença inflamatória que resulta na formação de placas de gordura e cálcio, entre outros elementos, na parede das artérias do coração, do cérebro e dos membros inferiores, principalmente. Essas placas promovem estreitamento e enrijecimento das artérias, dificultando o fluxo sanguíneo. Isso não costuma apresentar sintomas até que aconteça a ruptura das placas ou a obstrução total da artéria, situação por trás de infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e outras complicações potencialmente fatais. 

Dentre as causas da doença aterosclerótica, podemos encontrar o aspecto genético e hereditário, como ser do sexo masculino ou ter hipercolesterolemia familiar, quando indivíduos da mesma família apresentam colesterol muito elevado desde a infância. Mas, em grande parte das vezes, ela está relacionada a fatores de risco tradicionais, como sedentarismo, alimentação inadequada, pressão alta, diabetes, hiperlipidemia, tabagismo e obesidade.

Tais condições são muito ligadas ao processo natural de envelhecimento. Porém, atualmente, já se sabe que lesões precursoras das placas de gordura (ateromas) podem aparecer na artéria aorta já aos 3 anos de idade e, nas artérias coronarianas, na adolescência.

Um achado científico obtido por meio de técnicas não invasivas de imagem do sistema vascular mostra lesões ateroscleróticas na aorta, artérias coronárias e carótidas de múmias do Egito antigo, com idade média de morte estimada em 45 anos. Portanto, estamos diante de uma doença multifatorial que, ao contrário do que já foi pensado, não poupa faixas etárias.

Múltiplos fatores

O Projeto PESA (Progression of Early Subclinical Atherosclerosis) reforça essa visão. A pesquisa comprovou que a aterosclerose generalizada tem chance de aparecer a partir dos 40 anos em pessoas saudáveis, especialmente homens, e pelo menos em 50% daqueles entre 45 e 49 anos têm aterosclerose vascular. Além disso, a progressão da placa foi observada em 41,5% dos assintomáticos após apenas três anos de acompanhamento.

No Brasil, as doenças cardiovasculares são responsáveis por cerca de 30% de todas as mortes no intervalo de um ano e como a principal causa dessas doenças é a aterosclerose não é difícil imaginar porque ela é tão fatal: na maioria dos casos, o diagnóstico só acontece em situação de emergência, depois de um infarto ou derrame, por exemplo.

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São os fatores de risco – colesterol elevado, hipertensão e diabetes – os grandes sinalizadores da doença aterosclerótica. Pacientes com alta probabilidade de aterosclerose necessitam de avaliação por meio de exames mais específicos, como teste ergométrico, cintilografia, tomografia ou cateterismo.

Os especialistas também consideram a realização de avaliação genética em alguns casos. A análise de vários genes pode estabelecer critérios ou um perfil genético mais especificamente associado à doença coronariana, o que permite estabelecer métodos mais assertivos para as prevenções primária e secundária, princípio atual da medicina para redução dos eventos cardiovasculares.

Mas o ideal seria que toda a população rastreasse indícios para aterosclerose, por meio de análises clínicas, e combatesse fatores de risco conhecidos, mantendo um estilo de vida salutar.

Prevenção contínua

Uma vez detectada a doença, os cuidados focam em restabelecer o fluxo sanguíneo normal na região afetada, seja com medicamentos e (ou) procedimentos mais invasivos, como cirurgias de revascularização, angioplastia e colocação de stents.

Mas um dos maiores inimigos da aterosclerose é o próprio paciente, pois nenhum tratamento irá isentá-lo de uma recidiva se não houver disciplina. As pessoas têm a ilusão de que, solucionada a urgência, estão sãs e ganham uma segunda vida. E realmente ganham.

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Mas a propensão à doença continua lá. Se não houver adesão à rotina saudável, com atividade física, boa alimentação e uso de remédios prescritos – para hipertensão, colesterol elevado e diabetes –, a possibilidade de uma segunda chance se esvai.

Por ser um assunto de grande relevância em termos de saúde pública, existe a necessidade de que médicos, autoridades sanitárias e governamentais planejem e promovam ações conjuntas que possam amenizar a desinformação propiciada por diferenças culturais e sociais, permitindo que a população compreenda a ligação saúde-doença.

Informe-se. Vale a pena conhecer melhor os inimigos ocultos do nosso coração.

* Miguel Antonio Moretti é cardiologista e diretor científico da SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo

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