O que está por trás do processo de morte cerebral
Casos recentes, como o do jogador do Red Bull Bragantino, despertaram dúvidas sobre a condição. Especialista esclarece o que ela engloba

A morte cerebral ou morte encefálica pode ser definida como a perda total e irreversível das funções do cérebro. Isso significa que todas as atividades nervosas, incluindo as do tronco encefálico (a parte que controla funções vitais como a respiração), cessaram completamente.
É importante esclarecer que se trata de um diagnóstico definitivo, dado por médicos especialistas.
De acordo com os dados da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos), a incidência no Brasil varia entre 100 e 110 casos de morte encefálica por milhão de habitantes.
A morte encefálica é declarada quando ocorre uma interrupção completa e irreversível de todas as funções cerebrais, mesmo que outros órgãos ainda estejam temporariamente ativos por meio de suporte artificial. As causas mais comuns incluem:
– Parada cardiorrespiratória: quando o coração para de bater por tempo prolongado e o cérebro fica sem oxigênio e nutrientes.
– Acidente vascular cerebral (AVC): causado por obstrução ou rompimento de vasos sanguíneos no cérebro.
– Tumores cerebrais: o crescimento anormal de células pode aumentar a pressão intracraniana.
– Traumatismo cranioencefálico: lesões graves na cabeça decorrentes de acidentes, quedas ou pancadas fortes.
O diagnóstico segue uma etapa rigorosa. Iniciar um protocolo de morte encefálica significa que existem sinais clínicos consistentes com a perda total e irreversível das funções cerebrais.
Isso envolve exames clínicos feitos por dois médicos diferentes, com intervalo entre eles, além do teste de apneia (para verificar a ausência de respiração espontânea). Também são necessários exames complementares como eletroencefalograma, angiografia cerebral ou Doppler, especialmente se houver fatores que possam confundir o diagnóstico.
Após a confirmação da morte cerebral, a doação de órgãos e tecidos para transplante se torna possível — mas só ocorre com autorização da família. Segundo o Ministério da Saúde, a Lei dos Transplantes é clara: os órgãos só podem ser doados se a morte encefálica tiver sido oficialmente constatada.
Vale apontar que, embora a morte encefálica seja irreversível, muitos de seus fatores causadores podem ser prevenidos. Algumas formas de prevenção incluem:
– Uso do cinto de segurança, para evitar lesões em acidentes de trânsito;
– Prevenção de doenças cardiorrespiratórias, com check-ups regulares e acompanhamento médico;
– Acesso rápido a serviços de urgência e emergência;
– Vacinação, especialmente contra doenças que podem afetar o sistema nervoso central (como meningite);
– Treinamento em primeiros-socorros, como manobras de reanimação em casos de parada cardiorrespiratória, reduzindo o risco de anóxia cerebral (falta de oxigênio no cérebro).
* Feres Chaddad é neurocirurgião, professor da Unifesp e chefe da Neurocirurgia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo