O futuro do tratamento do câncer passa pela terapia CAR-T
Terapia que se baseia em células do próprio paciente oferece possibilidade de cura; desafio, no entanto, é o acesso em larga escala

A oncologia tem sido palco de transformações significativas no campo da ciência nos últimos anos, impulsionadas pelo desenvolvimento de tecnologias inovadoras. Entre essas, o CAR-T destaca-se como o maior avanço no tratamento de cânceres hematológicos agressivos.
Utilizando a reprogramação genética das células do sistema imunológico do próprio paciente, a técnica cria um composto único e altamente personalizado.
Após serem reinseridas na corrente sanguínea, essas células modificadas se ligam aos tumores para eliminá-los. Com potencial de se estabelecer ao lado da quimioterapia, cirurgia e radioterapia como um dos pilares do tratamento oncológico, o CAR-T oferece uma nova esperança a pacientes que não responderam a tratamentos convencionais, como quimioterapia e transplante de medula.
Embora a infusão de CAR-T já esteja em uso há algum tempo na Europa e nos Estados Unidos, sua chegada ao Brasil é recente. Há dois anos, o A.C.Camargo Cancer Center realizou sua primeira infusão e, desde então, vem implementando e expandindo essa modalidade de tratamento, consolidando-se como um dos principais centros de referência no país. Nesse período, foram realizadas 35 infusões de CAR-T, sendo 33 em adultos e 2 em crianças.
A infusão das células de defesa T amplia as opções de tratamento e oferecem um potencial de cura significativo para doenças antes consideradas sem alternativas viáveis, com resultados que se aproximam dos dados observados na literatura médica.
No entanto, apesar de seu caráter inovador e potencial curativo, enfrenta grandes desafios, principalmente no que diz respeito à sustentabilidade. O alto custo e a complexidade de produção da técnica limitam o acesso, representando um obstáculo para muitos pacientes.
No longo prazo, cerca de 40% a 45% dos pacientes tratados com CAR-T alcançam a cura, um dado expressivo que, no entanto, precisa ser equilibrado com a realidade econômica e as limitações dos sistemas de saúde.
Globalmente, o cenário de aplicação do CAR-T é bastante distinto. Na Europa, mais de 10 mil pacientes já foram tratados, enquanto nos Estados Unidos esse número ultrapassa os 40 mil. No Brasil, considerando tanto os tratamentos comerciais quanto os estudos clínicos, esse número ainda é reduzido, com pouco mais de 100 casos.
A maior dificuldade enfrentada atualmente é o acesso. No entanto, com o avanço dos estudos e o desenvolvimento de alternativas locais, acreditamos que em breve poderemos expandir significativamente o uso dessa abordagem no país.
A tecnologia de CAR-T tem potencial para ser um verdadeiro divisor de águas no tratamento oncológico, proporcionando uma resposta real para pacientes com prognósticos menos otimistas. Cabe agora buscar maneiras de ampliar o acesso a nível nacional e otimizar a aplicação da tecnologia em maior escala.
* Jayr Schmidt Filho é hemato-oncologista e líder do Centro de Referência em Neoplasias Hematológicas do A.C.Camargo Cancer Center