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O futuro do tratamento do câncer passa pela epigenética

No Dia Mundial do Câncer, especialista se detém sobre os avanços de um campo que pode trazer inúmeras vantagens diante dos tumores de próstata

Por Marcelo Bendhack*
8 abr 2025, 07h00

Nos anos 1970 e 1980, importantes pesquisas observacionais levaram a uma melhor compreensão da progressão gradual do câncer de próstata. Com o avanço dos estudos, os exames preventivos (como o PSA) tornaram-se populares devido ao seu potencial de evitar a progressão clínica e a morte relacionada à doença, que pode chegar a 21%.

No entanto, muitos pacientes diagnosticados precocemente possuem um tipo de câncer inofensivo, denominado “indolente”, que nunca ameaçaria a vida. Isso levou a um aumento do sobrediagnóstico – diagnóstico de malignidades que não afetarão ou matarão o portador durante sua vida – desempenhando um papel crescente e crítico.

Devemos lembrar, no entanto, que o câncer de próstata também pode ser agressivo e causar o óbito em menos de um ano após o diagnóstico. Devido a isso se denomina de doença maligna.

Estima-se que o sobrediagnóstico varie amplamente de 1,7% a 67% para o câncer de próstata. Isso resulta em tratamento excessivo considerável, especialmente por meio de intervenções radicais ou clássicas (radioterapia ou cirurgia) acompanhadas de sérios efeitos colaterais, como incontinência urinária e impotência sexual.

Para aliviar essa situação urgente, foi recentemente desenvolvido um estudo internacional batizado de EpihTERT, fruto da colaboração interdisciplinar internacional entre a urologia do Hospital Universitário da Universidade Positivo, em Curitiba, e a Universidade Heinrich Heine de Düsseldorf, na Alemanha.

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Ele se debruça sobre uma área de pesquisa emergente chamada epigenética, que avalia como os genes se expressam mais ou menos influenciados por questões ambientais e de estilo de vida.

A investigação internacional descreve o perfil epigenético específico das células tumorais do gene da telomerase, dissecado tanto no câncer de bexiga quanto no de próstata. A alteração epigenética significativa, denominada metilação do DNA, está associada ao câncer de próstata agressivo e pode ser avaliada de maneira precisa, confiável, sensível e rápida.

Pela primeira vez, uma abordagem especial de normalização foi desenvolvida e incorporada, permitindo a avaliação precisa do status de metilação, independentemente da complexidade genética observada no câncer de próstata precoce.

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Passado, presente e futuro

Em 1994, o cientista Jerry Shay destacou em suas pesquisas as estruturas vitais localizadas na ponta dos cromossomos, conhecidas como telômeros, e descobriu que eles são responsáveis por interromper o crescimento das células. Shay e colegas descobriram a atividade da enzima chamada telomerase, presente em mais de 90% dos cânceres humanos e ausente em tecidos somáticos humanos saudáveis.

Vários estudos confirmaram que esta enzima específica do câncer confere potencial de autorrenovarão infinita e desempenha um papel crucial na gênese (iniciação) e desenvolvimento do tumor.

Um extenso estudo sobre câncer de próstata demonstrou que a ocorrência da telomerase está associada a uma certa marca epigenética no DNA do gene correspondente. Modificações epigenéticas são grupos moleculares distintos quimicamente ligados ao DNA que determinam a atividade dos genes, tornando-os ideais para servir como biomarcadores moleculares.

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O estudo também mostrou que essas modificações moleculares do gene da telomerase preveem a recidiva no câncer de próstata e correspondem à invasividade, a razão pela qual o câncer é tão difícil de tratar.

Essas descobertas representam um grande avanço em relação ao tratamento excessivo do câncer de próstata. Tumores iniciais podem ser facilmente examinados com a tecnologia do estudo EpihTERT, e, na ausência da marca de metilação do DNA, a decisão de aplicar um procedimento terapêutico minimamente invasivo é facilitada para o paciente e seu urologista.

Os tratamentos minimamente invasivos, como o Ultrassom Focal de Alta Intensidade (HIFU), oferecem excelentes resultados no controle oncológico, com preservação significativa (muito bem comprovada) da função sexual e continência urinária, em comparação com procedimentos mais agressivos, como a prostatectomia radical.

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Assim, novos achados de pesquisa e terapias modernas, menos invasivas e agressivas, trazem avanços consideráveis para melhor avaliação e redução do tratamento excessivo. A relevância dessas descobertas é imensa para os pacientes, especialmente considerando que o número de casos de câncer de próstata deve aumentar em 136% até 2050.

* Marcelo Bendhack é uro-oncologista, presidente da Associação Latino-Americana de Uro-Oncologia e professor da Universidade Positivo, em Curitiba

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