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Incontinência urinária: maior parte dos homens ignora os primeiros sinais

Ainda cercada de tabus, condição abala qualidade de vida do público masculino, mas existem tratamentos e produtos que ajudam a administrá-la

Por José Carlos Truzzi*
25 nov 2024, 10h00

Embora a incidência seja maior entre as mulheres, a incontinência urinária também é uma realidade presente na vida do público masculino. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), 15% dos homens com mais de 40 anos vivenciam escapes involuntários de urina e o tema ainda é considerado um tabu.

Existem dois tipos principais de incontinência urinária entre os homens: a relacionada à hiperatividade da bexiga, que é caracterizada pelo aumento da atividade do órgão, e a incontinência por esforço, essa um pouco menos comum e frequentemente associada ao tratamento do câncer da próstata.

Nas intervenções para a hiperplasia da próstata, isto é, o aumento benigno do órgão, o risco de incontinência no pós-operatório, ainda que possível, é muito baixo.

É importante pontuar que a incontinência urinária, na maioria dos casos, é uma condição tratável e, mesmo assim, os seus primeiros sinais costumam ser ignorados pelo público masculino, o que não deve acontecer.

De acordo com uma nova pesquisa realizada pela TENA, marca de produtos para incontinência urinária, mais da metade dos homens brasileiros com incontinência não reconhece os primeiros gotejamentos involuntários como algo fora do comum. De um total de 238 entrevistados, 63% não deram a devida atenção em um primeiro momento, entendendo como uma condição normal.

Apenas 17% afirmaram ter buscado ajuda médica. Nos casos analisados pela pesquisa, a consciência sobre sentir os primeiros escapes existe. A maioria relata que percebeu que a cueca estava úmida ou molhada; outros afirmaram que sentiam a vontade de urinar, mas não conseguiam segurar até chegar ao banheiro e alguns disseram, ainda, que outra pessoa notou que eles estavam com as calças molhadas.

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Essas perdas de urina são inicialmente ocasionais, acontecem de uma a três vezes por semana, e podem ocorrer em diversos momentos do cotidiano, principalmente antes e depois de ir ao banheiro. Mesmo que esses escapes, na maior parte dos casos, sejam em níveis leves, impactam negativamente a vida desses homens. Questões da vida diária, como a rotina, o bem-estar mental, a vida social e a autoestima podem ser afetadas em algum grau pela incontinência urinária.

Até a vida sexual pode estar comprometida para os que convivem com a incontinência urinária. Esse estigma acarreta o risco de um isolamento emocional para o paciente e a insegurança em relação à própria imagem, o que pode afetar gravemente a forma como o homem se enxerga, tornando as interações sociais mais desafiadoras e, em muitos casos, levando esse indivíduo a evitar situações que antes eram prazerosas.

A constante preocupação com possíveis episódios de escape pode se traduzir em um estado de alerta excessivo, interferindo no relaxamento e na realização de atividades cotidianas.

Medidas paliativas

O diagnóstico de incontinência urinária impõe, ainda, outras mudanças necessárias para se adaptar a essa condição, que vão desde que mudanças de hábitos da higiene pessoal, como passar a tomar mais banhos durante o dia, até as chamadas “medidas paliativas”.

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Para administrar os escapes e sem acesso a informações adequadas sobre a pauta, como, por exemplo, a de que existem produtos específicos para lidar com os gotejamentos involuntários de urina, os homens recorrem a estratégias pouco aconselháveis para lidar com a incontinência, como usar papel higiênico para absorção e perfume para o controle de odor.

Na pesquisa citada, 41% dos pacientes com perdas de urina afirmaram que já utilizaram papel higiênico para lidar com a condição. Papel toalha, lenço de pano também estão entre as alternativas não eficientes adotadas por esses homens, assim como utilizar duas cuecas ou shorts extra por debaixo da calça.

Apesar da existência de produtos específicos para incontinência urinária, capazes de controlar o odor, com boa absorção da urina e, especialmente, adequados para a anatomia masculina, muitos homens ainda utilizam absorventes femininos para controlar os escapes.

O diagnóstico

Assim como acontece com as mulheres, a avaliação da incontinência urinária em homens é um processo que requer uma abordagem cuidadosa e abrangente de um médico.

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O primeiro passo geralmente envolve a coleta de dados para criar um histórico clínico detalhado, em que são discutidos os sintomas, a frequência dos episódios de escape e qualquer episódio médico relevante, como doenças pré-existentes, cirurgias anteriores e o uso de medicamentos.

O exame físico é fundamental e pode incluir a avaliação do tônus muscular do assoalho pélvico, além de um exame neurológico para descartar ou detectar casos de doenças degenerativas, como Parkinson ou esclerose múltipla, dentre outras questões do sistema nervoso.

Exames complementares, como a ultrassonografia, podem ser realizados em casos específicos para auxiliar na avaliação e identificar possíveis obstruções ou anomalias estruturais. Nesse contexto, o estudo urodinâmico possibilita a obtenção de informações objetivas do funcionamento do trato urinário e, consequentemente, uma melhor caracterização da incontinência.

O tratamento

Os casos de mau funcionamento vesical (a bexiga hiperativa) são tratados inicialmente com intervenções comportamentais, farmacológicas e, em casos mais severos, abordagens cirúrgicas. Medidas para as mudanças de hábito incluem a reeducação vesical e a restrição de alimentos e bebidas irritantes da bexiga, como café, refrigerantes, alguns tipos de chá e condimentos.

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A reabilitação do assoalho pélvico, ou fisioterapia pélvica, tem importante papel na retomada da continência. Do ponto de vista farmacológico, medicamentos que atuam no controle de sinais entre células nervosas e músculos são frequentemente utilizados e possuem eficácia em reduzir a frequência urinária e na melhora da qualidade de vida.

Já em relação à incontinência urinária de esforço, o tratamento pode ser ainda mais desafiador no caso dos homens em comparação com o público feminino, destacando a importância de uma abordagem multidisciplinar para o manejo dessa condição. As opções terapêuticas incluem as mesmas medidas comportamentais e fisioterápicas descritas acima, seguidas por técnicas cirúrgicas. Cada caso deve ser avaliado individualmente.

A cirurgia de “Sling”, que consiste na colocação de uma faixa de material sintético ou tecido sob a uretra para ajudar a sua oclusão é uma alternativa minimamente invasiva que tem o objetivo de restabelecer a continência ao paciente. O implante de esfíncter artificial é considerado o padrão-ouro para casos mais graves, oferecendo uma solução eficaz, mas com limitações que incluem custo elevado, e treinamento especializado da equipe cirúrgica.

Quase metade dos homens ainda considera a incontinência urinária um tabu, mesmo que a conversa sobre o tema possa acontecer com amigos, familiares, ou com médicos. A saúde do homem deve ser tratada com autonomia pelo público masculino.

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A discussão sobre o tema precisa se expandir para que haja conhecimento a respeito de tratamentos e de produtos específicos para gerenciar essa condição e proporcionar bem-estar para o público masculino que convive com a incontinência urinária.

* José Carlos Truzzi é urologista, doutor pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), médico da Divisão de Urologia do Instituto de Câncer Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho e diretor do Departamento de Disfunções Miccionais da Confederação Americana de Urologia 

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