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Cuidados com a saúde mental são cruciais na gestação e no pós-parto

Índices de depressão durante a gravidez e o puerpério são elevados, mas existem tratamentos seguros para garantir a qualidade de vida nessas fases

Por Rodrigo Darouche Gimenez*
Atualizado em 10 Maio 2024, 08h24 - Publicado em 24 out 2023, 07h04

Ao anunciar uma gestação, muitas mulheres são inundadas de felicitações e chegam até a ouvir que esse é o momento mais sublime de suas vidas. A expectativa é a de que elas irradiem alegria e gratidão, mas é essencial lembrar que essa não é a realidade para todas as futuras mães. A jornada da maternidade costuma ser apresentada com pinceladas cor-de-rosa, mas essa idealização acaba excluindo as mulheres que encaram sofrimentos psíquicos nessa fase.

Na verdade, o período entre a gravidez e o pós-parto tem a maior prevalência de transtornos mentais na vida da mulher, sendo a depressão o mais frequente entre eles. Na gestação, até 25% das mulheres têm sintomas compatíveis com um quadro depressivo, mas somente uma em cada cinco busca ajuda profissional.

Há um estigma que inibe as gestantes a procurar apoio, e uma das razões é que, no passado, acreditava-se numa falsa noção de que a gravidez estaria protegendo a cabeça da mulher. Outro motivo é a crença, que persiste até hoje, de que os tratamentos para depressão e outras doenças possam fazer mal ao bebê.

Essa ideia está muito distante da realidade. A psicoterapia, por exemplo, é um tratamento efetivo de primeira linha, respaldado em evidência científica, que pode ser recomendado a gestantes por ser praticamente livre de contraindicações. Mesmo as pacientes mais graves, que precisam de medicamentos antidepressivos, não devem ficar desamparadas. Os dados atuais são bastante tranquilizadores quanto aos riscos, e um profissional atualizado não terá dificuldade em encontrar boas opções farmacológicas.

É fundamental ter isso em mente, uma vez que a depressão materna não tratada está associada a complicações perinatais, pré-eclâmpsia,  necessidade de UTI Neonatal e até abortamento espontâneo – além, é claro, do maior risco de depressão pós-parto.

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Um transtorno depressivo pós-parto é, de fato, uma enorme preocupação. Até 85% das mães têm o que chamamos de “blues” puerperal nas primeiras semanas. Trata-se de um quadro mais leve, mas que também traz choro fácil, ansiedade, irritação, insônia e sentimentos de inadequação. É um momento de adaptação que, apesar de melhorar logo, merece suporte familiar e profissional.

Já a depressão pós-parto, que acomete mais de 25% das brasileiras, é mais grave e precisa de tratamento. Vale ressaltar que não é impossível medicar quem amamenta. Há diversas opções seguras, que nos permitem evitar consequências graves e persistentes da doença, como o comprometimento do aleitamento e do desenvolvimento infantil, da formação do vínculo entre a mãe e o bebê e da própria dinâmica familiar.

Enxergar a maternidade como um processo estritamente natural, biológico e parte do ciclo de vida feminino, sem desafios à sua volta, não passa de uma romantização patriarcal, que estigmatiza a mulher em um momento muito delicado física e emocionalmente.

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A atenção à saúde mental materna é fundamental, e deve ser uma responsabilidade social coletiva, compartilhada por profissionais e pacientes, com foco no combate à estigmatização e no acesso ao cuidado. Atualmente, deixar uma gestante ou puérpera deprimida sem o devido tratamento é inadmissível.

* Rodrigo Darouche Gimenez é psiquiatra do Hospital e Maternidade Santa Joana

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