Cirurgia robótica no SUS é avanço para a saúde financeira do país
Tecnologia, que resulta em menos tempo de internação, também pode contribuir para reduzir desigualdades regionais no tratamento do câncer de próstata
A decisão favorável da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) pela inclusão da prostatectomia radical assistida por robô para pacientes com câncer de próstata localizado ou localmente avançado é um marco para a saúde pública brasileira. É uma conquista que transcende a dimensão tecnológica. Trata-se de um passo em direção à equidade, à eficiência e ao cuidado de qualidade para milhares de homens que dependem exclusivamente do sistema público.
O processo de incorporação não foi simples, tampouco rápido, mas necessário. Tecnologias no SUS só podem ser adotadas quando se mostram comprovadamente seguras, eficazes e custo-efetivas. No caso da cirurgia robótica, as evidências científicas são robustas.
Estudos internacionais e análises econômicas demonstram que o método é superior à prostatectomia aberta e à laparoscópica em diferentes aspectos. Estamos falando de menor morbidade perioperatória (complicações de saúde durante ou logo após a cirurgia), menos necessidade de transfusão de sangue, menor tempo de internação, redução de complicações e, sobretudo, melhor preservação da qualidade de vida.
O câncer de próstata, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), atinge 71,7 mil brasileiros ao ano. Além de ser o tumor mais comum entre os homens, é a principal indicação de uso de robô para tumores malignos. Isso porque a tecnologia tem se mostrado associada a menores taxas de incontinência urinária e disfunção erétil, sequelas que impactam profundamente a vida do paciente após a cirurgia.
Além disso, os resultados oncológicos também são animadores. Com a robótica é possível obter margens cirúrgicas mais favoráveis e menor risco de recidiva da doença. Em outras palavras, é uma tecnologia que não apenas extrai o tumor de forma mais segura, mas também ajuda o paciente a retomar sua vida com dignidade, menos sequelas e mais rápido.
Muitos questionam se não se trata de uma tecnologia cara demais para o SUS. É uma confusão comum entre preço e custo-efetividade. De fato, o investimento inicial em equipamentos e treinamento é elevado, mas os benefícios compensam. Complicações evitadas, menos dias de internação e menor necessidade de tratamentos subsequentes reduzem gastos ao longo da jornada do paciente.
A cirurgia robótica, portanto, não é apenas eficaz. Ela é custo-efetiva, especialmente em centros de alto volume, como já demonstraram estudos no Reino Unido e em revisões sistemáticas internacionais. Outro ponto relevante é a centralização da tecnologia. O Brasil conta hoje com cerca de 190 robôs, sendo pouco mais de 40 em hospitais que atendem pelo SUS, muitos deles já inseridos em centros oncológicos de referência. No entanto, a maioria está concentrada nas regiões Sul e Sudeste, deixando Norte e Nordeste em desvantagem.
É inaceitável que o código de endereçamento postal continue a ser um fator de prognóstico em câncer no Brasil. A incorporação pelo SUS deve vir acompanhada de uma política de expansão equitativa, com protocolos efetivos, capacitação de equipes e fortalecimento de hospitais de referência em todo o país.
O impacto econômico também merece atenção. O câncer de próstata é o segundo mais incidente entre homens brasileiros e representa aproximadamente 20% do orçamento federal destinado ao tratamento oncológico. Mais da metade desse recurso é gasto em terapias paliativas, como a quimioterapia, quando a doença já está avançada. Ampliar o acesso a tratamentos cirúrgicos curativos é uma forma de racionalizar o uso dos recursos públicos e oferecer ao paciente uma chance real de cura.
Não menos importante é o papel da cirurgia robótica na formação médica. Os consoles duais permitem treinamento supervisionado, acelerando a curva de aprendizado e garantindo a formação de cirurgiões mais qualificados. Isso significa que o investimento em tecnologia também gera capital humano para o SUS, fortalecendo a rede de atenção oncológica e preparando o sistema para o futuro.
É preciso, no entanto, que a implementação seja responsável. O Ministério da Saúde deverá definir protocolos de indicação, critérios de habilitação de centros e programas de capacitação. A racionalidade no uso é essencial para que a tecnologia não apenas esteja disponível, mas seja aplicada de forma segura, eficiente e sustentável. A incorporação da cirurgia robótica no SUS é, portanto, uma vitória coletiva. Mostra que é possível alinhar ciência, política pública e justiça social. Representa mais qualidade de vida para os pacientes, eficiência para o sistema e mais oportunidades para profissionais de saúde.
*Rodrigo Nascimento Pinheiro é cirurgião oncológico, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) e supervisor da Residência Médica em Cirurgia Oncológica no Hospital de Base do Distrito Federal
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