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Câncer de pulmão não afeta só quem fuma. Como se proteger?

Médico comenta novo estudo que sugere ampliação do público que deveria passar por rastreamento da doença com exames

Por Carlos Henrique Andrade Teixeira*
Atualizado em 27 abr 2023, 08h18 - Publicado em 25 abr 2023, 09h17

É fato amplamente conhecido que o tabagismo é o maior fator de risco para o câncer de pulmão. Aproximadamente 85% dos casos e 90% das mortes pela doença registrados no Brasil e no mundo podem ser atribuídos diretamente à fumaça do cigarro. Ou seja, não fumar continua sendo a melhor maneira de evitar esse e outros tumores também causados pelas centenas de toxinas derivadas do tabaco.

Nessa lógica, muitos (e que bom que sejam muitos!) não fumantes sentem-se totalmente protegidos em relação à doença. A matemática continua fazendo sentido, mas, ainda assim, o câncer de pulmão afeta uma minoria de pessoas que não fumam. É preciso falar disso!

Além do óbvio questionamento do “Por que eu? Como aconteceu comigo?”, o assunto demanda uma discussão sobre a associação entre poluição ambiental e fatores genéticos e familiares na origem desses outros casos de câncer de pulmão.

E outro ponto que merece debate é como fazer o rastreamento do problema nessa população de menor risco para a doença.

No último Congresso Europeu de Câncer de Pulmão, realizado em Copenhague, na Dinamarca, um grande estudo foi apresentado mostrando o risco de desenvolvimento de câncer de pulmão conforme a carga tabágica (que é calculada multiplicando-se o número de maços fumados por dia pelos anos de uso). E ele constatou que existe um número não desprezível de indivíduos que não fumam e são diagnosticados com o tumor.

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A pesquisa, conduzida por um grupo de Washington, nos Estados Unidos, acompanhou 2 505 pessoas (1 973 delas nunca fumaram) por 23 anos e concluiu que 0,5% dos não fumantes tiveram câncer de pulmão ao longo dessas duas décadas. Já os fumantes que fumaram menos de um maço por dia ao longo de 20 anos representavam 5% dos casos da doença.

Só que justamente esses pacientes, os não fumantes e com menor carga tabágica, não estão contemplados hoje nos protocolos de rastreamento para câncer de pulmão. O acompanhamento com exames de imagem do tórax deve ser feito por ora nas pessoas entre 50 e 80 anos que fumaram no mínimo um maço de cigarro por dia em duas décadas.

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Outra ponta solta deste emaranhado reside na faixa etária do diagnóstico. A idade média do diagnóstico de câncer de pulmão é de 70 anos. Apenas 10% dos pacientes com diagnostico de tumores de pulmão têm 55 anos ou menos. E pessoas mais jovens tendem a ter câncer de pulmão mais avançado no momento do diagnóstico. Sendo assim, toda essa população abaixo da quinta década de vida fica fora dos atuais programas de rastreamento.

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Vale lembrar que o rastreamento para câncer de pulmão é uma medida que promove a redução de 20% de mortalidade pela doença, pois o tumor é detectado em estágio mais precoce, favorecendo o tratamento cirúrgico e as chances de cura.

É fato, porém, que esse programa ainda não foi universalmente adotado como forma de política pública como já se faz (também ainda não de forma ideal) com o câncer de mama por meio da mamografia.

Considerando que o câncer de pulmão é o líder global em mortes por câncer e um dos mais frequentes no mundo, essa fatia de pacientes jovens e não fumantes acaba totalizando uma população expressiva que se encontra invisível aos atuais programas de detecção precoce. O estudo recém-apresentado no congresso acende na comunidade médica a importância de debater novas medidas de educação e enfrentamento do problema.

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Talvez seja preciso alargar a faixa etária e os critérios ligados ao tabagismo na hora de determinar quem deve passar pelo exame periódico de rastreamento, bem como alertar essa fatia da população sobre sinais e sintomas suspeitos, como tosse crônica, falta de ar e perda de peso.

Parar de fumar é importante, mas ainda não é o bastante. A sociedade como um todo e os líderes governamentais também precisam colocar na pauta do dia o enfrentamento da poluição ambiental, do fumo passivo e dos cigarros eletrônicos e repensar as formas de diagnosticar o câncer de pulmão mais cedo.

* Carlos Henrique Andrade Teixeira é oncologista clínico do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo

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