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Até o fio de cabelo: nos bastidores dos testes que detectam uso de drogas

Especialista explica como funcionam os exames toxicológicos e por que o de cabelo, como o divulgado por Elon Musk, tem ganhado espaço no Brasil e no mundo

Por Alvaro Pulchinelli Jr.*
11 jul 2025, 07h30

Recentemente, o bilionário Elon Musk voltou ao centro do noticiário internacional, não por alguma novidade tecnológica, mas ao divulgar publicamente o resultado de um exame toxicológico – uma tentativa de responder aos rumores sobre o uso de drogas ilícitas, alimentados por suas aparições erráticas e pela recente tensão com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O exame divulgado por Musk foi do tipo realizado em amostras de cabelo, método que tem ganhado destaque por sua capacidade de rastrear o uso de substâncias psicoativas ao longo de meses.

Mas o que exatamente esses testes avaliam? Como funcionam? E até que ponto são confiáveis? Diferentemente dos exames feitos com urina ou sangue, o teste de cabelo possui uma longa janela de detecção: ele pode identificar o uso de substâncias até 90 dias após o consumo, dependendo do comprimento da mecha coletada.

A análise baseia-se em um princípio simples: ao serem ingeridas, as drogas são metabolizadas e circulam pelo corpo, chegando até os folículos capilares e se incorporando ao fio. Isso torna o cabelo um verdadeiro “arquivo químico” do comportamento do indivíduo nos últimos meses.

A coleta da amostra é bastante direta: corta-se uma pequena mecha próxima ao couro cabeludo, geralmente com cerca de 3 a 5 cm de comprimento – o equivalente a três meses de crescimento capilar. Caso o indivíduo não tenha cabelo na cabeça, podem ser utilizados pelos de outras regiões do corpo, como barba, braços ou pernas.

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Antes da análise, os fios são lavados com solventes especiais para remover possíveis contaminantes externos, como poeira, cosméticos ou mesmo partículas suspensas no ar – como a fumaça de maconha em ambientes fechados. Esse procedimento é fundamental para diferenciar o que é contaminação externa do que é incorporação interna, ou seja, se o contato com a droga foi acidental ou decorrente de consumo real.

O exame laboratorial propriamente dito ocorre em etapas. Primeiramente, os fios são triturados ou dissolvidos para liberar as substâncias presentes. Depois, são aplicadas técnicas avançadas de extração e análise.

Duas abordagens principais são utilizadas: os testes imunológicos, como o ELISA, que detectam a presença de substâncias de forma rápida, mas com menor especificidade, e os testes confirmatórios por cromatografia – GC-MS (Cromatografia Gasosa com Espectrometria de Massas) ou LC-MS/MS (Cromatografia Líquida com Espectrometria de Dupla Massas). Esses últimos são altamente sensíveis e conseguem identificar e quantificar até traços mínimos de drogas como cocaína, maconha (THC), anfetaminas, opioides, benzodiazepínicos e outras.

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Importante ressaltar que o exame não indica quando a substância foi usada, mas apenas se houve consumo durante o período avaliado. Outro ponto crucial: ele não detecta o uso recente, uma vez que leva de 7 a 10 dias para que o cabelo cresça o suficiente e ultrapasse o nível da pele – o que ocorre porque o cabelo é cortado, e não puxado desde a raiz, gerando esse intervalo natural entre o consumo e a possibilidade de detecção.

Há mitos sobre o que pode ou não interferir nos testes. Tinturas ou alisamentos, por exemplo, podem alterar o cabelo quimicamente, mas os laboratórios já aplicam métodos de lavagem e controle que reduzem esses riscos. Medicamentos também podem interferir. Usuários de produtos à base de canabinoides, por exemplo, podem apresentar positividade no teste se o medicamento estiver contaminado com THC – substância psicoativa presente na maconha, que é o verdadeiro alvo da detecção. Nesses casos, é essencial apresentar prescrição médica para justificar o resultado.

Também não há “dose segura” para o uso de drogas psicoativas. A quantidade detectada nos exames é mínima, e mesmo um único uso pode ser suficiente para um resultado positivo. Além disso, os efeitos à saúde, especialmente neurológicos, variam muito de pessoa para pessoa. Por isso, os exames toxicológicos que passam a ser exigidos no Brasil, para tirar a carteira de habilitação, passarão a exigir o exame toxicológico e o candidato deverá estar ao menos três meses sem nenhum uso de drogas. E a medida se deve também porque há usuários que desenvolvem quadros psiquiátricos graves após poucas exposições – como esquizofrenia induzida por maconha ou delírios persecutórios por cocaína, dentre outros.

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No caso de Elon Musk, o exame divulgado apontou ausência de substâncias ilícitas nas últimas semanas ou meses e a tecnologia disponível hoje nos laboratórios é capaz de “ler” o passado químico de um indivíduo com extrema precisão. O cabelo, que antes servia apenas para estilo ou vaidade, hoje também fala – e muito – sobre nossas escolhas na vida.

* Alvaro Pulchinelli Jr. é médico toxicologista e patologista clínico e presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML)

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