Um Plano Marshall contra a evasão na educação
Estatísticas apontam para um cenário de terra arrasada e são as provas da incúria, displicência e incapacidade do país e da sociedade na área do ensino
Em artigo publicado recentemente na Folha de S.Paulo, Luiz Roberto Liza Curi, Presidente do Conselho Nacional da Educação, acertadamente anotou que não há nada que expresse mais a realidade de uma nação e de sua sociedade do que os cuidados e incentivos com a educação, acrescentando de que nada é capaz de sobrepor ao conhecimento como definidor dos processos civilizatório, do bem estar, da competitividade econômica e da inclusão social.
Registra ele que, dentre os concluintes do ensino médio, apenas 20% chegam à universidade e que em 2021 deixaram de ser preenchidas 30% das vagas nas universidades públicas. Se não bastasse, boa parte dos que ingressam na sala de aula não costumam ir até o fim do curso: taxa de evasão dos matriculados é de 62% nos cursos particulares, e de 55% nos cursos públicos. Curi finaliza o artigo destacando que a evasão no ensino à distância de engenharia e formação de professores chegou a aproximadamente 70%. Ainda assim, afirma ele acreditar que a educação e a universidade pública nos trazem esperança no futuro.
Impossível encontrar o otimismo sugerido pelo presidente do mais elevado órgão de regulamentação e normatização da educação brasileira quando os números por si só contradizem e desafiam qualquer simples mortal a encontrar nessa realidade qualquer possibilidade de cumprir os propósitos da educação por ele destacados. Pelo contrário, a realidade expressada pelas resultantes do cuidado e incentivos dado à educação brasileira, conforme suas estatísticas grafadas evidenciam, além de contrariarem aqueles fundamentos, apontam para um cenário de terra arrasada e são as provas cabais da incúria, displicência e incapacidade do país e da sociedade de garantir que a educação cumpra de modo assertivo, objetivo e verdadeiro o seu papel civilizatório.
Tanto quanto civilizar, a educação tem o propósito de produzir conhecimento e os recursos humanos capazes de produzir com qualidade e competência elevada e diferenciada, os produtos e serviços que gerarão subsistência, emprego, renda para os indivíduos e riqueza, grandeza e glória para a nação. Por isso, precisa de tratamento de choque, de planejamento estratégico grandioso e, sobretudo, de priorização como elemento estruturante e garantidor da formação, consolidação e alcance dos objetivos nacionais. Se o bem estar , a competitividade e a inclusão social são os eixos definidores da ação social e governamental, e se as desigualdades de toda natureza, e principalmente a econômica e racial , impedem o acesso e a manutenção dos alunos nos bancos do ensino médio e universitário , limitando e cerceando o cumprimento desses objetivos inexoráveis de realização dos destinos do país, é hora de radicalizar. Para o bem geral da nação é preferível que o estado pague a permanência e formação dos recursos humanos de qualidade, do que perdê-los pelo caminho, frustrando seus sonhos de realização pessoal e familiar, e, ainda desperdiçando todo o investimento financeiro e econômico promovido pela evasão escolar e empurrando o país para trás na competição de sua existência.
No momento em que o país é desafiado para se colocar em posição de participar de forma competitiva da nova revolução econômica baseada na tecnologia, digitalização, inteligência artificial, descarbonização da economia, economia verde e mudanças climáticas, é hora e a vez de um Plano Marshall para a educação brasileira. Ninguém solta a mão de ninguém e, definitivamente a prioridade inconcessível deve ser a construção inovadora, eficiente e capaz de entregar para o país a capacidade indispensável para se conduzir na nova ordem mundial. Alunos como bolsas permanência pagas pelo erário publico nos bancos escolares do ensino médio e universitário é a forma moderna e revolucionária de alcançar autonomia política, competitividade econômica, inclusão social e produção de riqueza nacional.