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Pecado de Onyx no Congresso limita suas chances no Trabalho

A chance de êxito das políticas de emprego e renda é proporcional à capacidade de conversa com o Congresso. Será um teste de habilidade para Onyx Lorenzoni

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 jul 2021, 17h31 - Publicado em 22 jul 2021, 09h30

Jair Bolsonaro se elegeu com a promessa de um governo enxuto, com dezena e meia de ministérios. Na transição chegou a 20. Começou a governar com 22 e, se confirmada a previsão, na próxima semana terá 23.

A ressurreição do Ministério do Trabalho, hoje diluído na Economia de Paulo Guedes, ocorreria para abrigar o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), atual secretário da presidência e candidato ao governo do Rio Grande do Sul.

Onyx é uma espécie de coringa ministerial de Bolsonaro. Já passou por quatro gabinetes, sem brilho. Em tese, será o responsável pela política de emprego numa economia com 14,7 milhões de desempregados.

Vai ser, também, o artífice de programas estímulo à expansão da renda, num quadro de lenta recuperação do nível de ocupação nas famílias de renda mais baixa, cujos adultos compõem cerca de 80% da massa de eleitores. No primeiro trimestre do ano passado, eram 25% os domicílios sem nenhuma renda do trabalho. Em março deste ano, já eram 29,3%, informam o Ipea e o IBGE.

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Em qualquer governo, a chance de êxito das políticas de emprego e renda é proporcional à capacidade de conversa com o Congresso. Será um teste de habilidade para Onyx, pelo menos até abril quando deve deixar Brasília para se dedicar à campanha gaúcha. Ontem, era raro encontrar deputado ou senador disposto a se imaginar numa negociação política com ele. 

A razão é a mesma que, há tempos, limita os seus movimentos na Câmara e no Senado. Em segredo, ele gravou uma reunião de deputados do seu partido, o DEM, quando era relator de um conjunto de projetos de lei para repressão a delitos de colarinho branco, pacote conhecido como Dez Medidas contra a Corrupção. O episódio está relatado, com detalhes, no livro “Um paciente chamado Brasil”, do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.

Conta Mandetta, na época seu colega de bancada na Câmara, que Onyx o chamou e mostrou a gravação: ‘“Você gravou escondido a reunião?’, perguntei. Ele respondeu que havia gravado sem querer. Eu estava perplexo. Isso no meio político é pecado mortal. Quem faz isso nunca mais é chamado para nenhum tipo de conversa em lugar nenhum. Você perde as condições mínimas de credibilidade para sentar-se à mesa. Não tem saída, vira um pária, todo mundo fecha a porta. Nem no maior delírio um deputado pode fazer isso. Em 2016, o Delcídio do Amaral foi cassado do mandato de senador porque na delação que fez para sair da prisão na Lava Jato se comprometeu com o Judiciário a secretamente gravar as conversas que tivesse com os senadores. Foi cassado por unanimidade por causa disso.”

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Mandetta saiu, procurou Ronaldo Caiado, então senador, que chamou Onyx para uma conversa: “Foi a maior bronca que já vi alguém dar na minha vida” — continua Mandetta —. “Ele exigiu que o Onyx apagasse a gravação, passou o maior sabão. E Onyx ouviu tudo quieto, sem retrucar.”

+ O primeiro ‘olho no olho’ de Luis Miranda e Onyx Lorenzoni na Câmara

O deputado gaúcho continuou relator do pacote anti-crime. No dia da votação na Câmara, aconteceu o seguinte, de acordo com o relato de Mandetta: “Onyx foi para o plenário totalmente isolado, ninguém passava perto dele, não davam nem um boa-noite. Falou no tempo regulamentar defendendo seu relatório, mas tudo o que propôs o plenário votou contra. Um placar avassalador derrotou a proposta das Dez Medidas contra a Corrupção. Foi um massacre. A Câmara inteira votou contra e isso ficou na conta da inabilidade do relator. Mas só uma parcela pequena de parlamentares soube do áudio gravado pelo Onyx, até por isso o episódio nunca vazou (…) Dali para a frente o Onyx perdeu totalmente o trânsito no Parlamento e ficou isolado. Não tinha companhia nem no café. Passou a ser um deputado das sombras.”

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