Milei se exibiu como um político amador no jogo de poder do G20
Presidente argentino foi resgatado pela diplomacia profissional, amparada numa hábil intervenção do ex-socialista Emmanuel Macron, presidente francês
Aos 54 anos, o radical de direita Javier Milei se exibiu como um político amador na paisagem do G20 no Rio. Por uma trapaça da política, o presidente argentino foi resgatado pela diplomacia profissional, amparada numa hábil intervenção do ex-socialista Emmanuel Macron, presidente francês, oito anos mais jovem e com duas décadas a mais de experiência no jogo de poder.
Antes de desembarcar no Aterro do Flamengo, Milei acenou com o repertório de extravagâncias que emolduram sua biografia e dão sentido ao seu antigo apelido “El Loco”. Avisou pelo megafone eleitoral que não subscreveria propostas “socialistas” para redução da pobreza, tributação dos super-ricos, resguardo dos direitos ambientais, femininos e infantis.
Foi ao limite nas ordens imprecisas aos diplomatas argentinos para resistir ao acordo sobre o documento coletivo que caracteriza o epílogo dessas reuniões. Não se sabe quais foram os termos exatos das instruções de Milei, mas foi vazado o receio dos representantes da Argentina sobre a possibilidade de um “rompimento” com o G20.
Macron fez uma escala em Buenos Aires e, aparentemente, lembrou Milei sobre o alto custo que um tango político improvisado poderia ter no palco do G20. É provável que, então, o presidente argentino tenha escutado aquilo que costumam dizer diplomatas: o Brasil é o único lugar que importa no qual a Argentina é importante, e vice-versa – não importa o que os inquilinos da Casa Rosada e do Palácio do Planalto pensem ou falem um do outro, como é o caso de Milei e Lula.
Milei chegou ao Rio, atravessou o tapete vermelho do Museu de Arte Moderna, seguiu o protocolo, cumprimentou Lula – e ambos fizeram questão de não sorrir na fotografia em dupla. Disse o que quis, educadamente, para uma audiência de políticos experientes que têm o hábito de só prestar atenção àquilo que lhes convém.
Na sequência, voltaria para a companhia do “reencarnado” cão Conan, homenagem ao Bárbaro homônimo criado em 1932 pelo escritor americano Robert E. Howard: mandou cloná-lo nos Estados Unidos e convive com as cópias certificadas, às quais nomeou em homenagem a seus economistas prediletos, teóricos do liberalismo: Milton (alusão a Friedman), Murray (Rothbard) Robert e Lucas (Robert Lucas).
A Argentina aceitou integrar o consenso expresso na declaração final, documento ambíguo o suficiente para abrigar de Joe Biden a Xi Jinping.
Milei ainda não completou o primeiro ano na presidência. No Rio, talvez, tenha percebido: amadorismo custa caro no jogo do poder.