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Luta pelo poder no governo expõe fissuras na cúpula do Centrão

O conflito ainda não apresenta riscos graves no apoio a Bolsonaro, mas expõe fissuras que tendem a se ampliar na reforma ministerial para a campanha de 2022

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 13 out 2021, 08h00

Jair Bolsonaro preside e o Centrão governa. É o que se vê na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Menos visível é a disputa no núcleo desse grupo pelo controle de espaços de poder dentro do governo.

Está em curso um embate entre os líderes dos partidos Progressistas (PP) e Liberal (PL). Eles somam 85 votos, o que representa mais de 35% do Centrão e 16,5% do plenário da Câmara.

Arthur Lira, presidente da Câmara, domina a bancada de 42 deputados do PP. Valdemar Costa Neto, dono do PL, controla 43.

Eles estão em luta pela hegemonia em setores dos ministérios da Saúde, Infraestrutura e Economia, como a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), a empresa de aeroportos (Infraero) e o banco de desenvolvimento do Nordeste (BNB).

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Esse conflito, por enquanto, não apresenta riscos graves à sociedade anônima Centrão, integrada por outros partidos, como o Republicanos, vinculado à Igreja Universal, que tem 31 deputados. Mas expõe fissuras no comando do bloco, que tendem a se ampliar no desenho da reforma ministerial de Bolsonaro para a campanha de 2022.

Costa Neto, por exemplo, já não oculta a certeza de ter sido atropelado no banco do Nordeste por Lira e seu parceiro Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil e presidente licenciado do PP.

Tinha a presidência do BNB. Achou que estava num acordo com Bolsonaro, Lira e Nogueira para trocar toda a diretoria do banco. A manobra o deixaria com poder sobre um mercado de R$ 40 bilhões em microcrédito, que rende contrato de R$ 1 bilhão anuais em intermediação, entregue a uma ONG de funcionários do próprio banco, em parte vinculados ao PT. Costa Neto perdeu no BNB e uma eventual recuperação se anuncia difícil.

Está sob bombardeio, também, na Infraero. Domina áreas-chave da empresa estatal de aeroportos, e se vê sob pressão de denúncias de irregularidades ainda não confirmadas, mas em apuração no governo. Seus aliados do PL acreditam que é tudo coisa do PP de Lira e Nogueira.

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Nada disso impede consensos pontuais. O que os une, na essência, é a partilha do Orçamento da União na perspectiva das eleições do próximo ano. Com emendas parlamentares, numa espécie de orçamento paralelo, garantiram neste ano um volume de dinheiro maior que o destinado pelo governo à agropecuária  (R$ 15 bilhões). O êxito nessa empreitada leva alguns a sonhar com algum tipo de união das duas máquinas eleitorais  para maximizar bancadas.

Nas últimas duas semanas, Costa Neto, Lira e Nogueira têm conversado sobre uma eventual intervenção na economia focada na eleição de 2022. Também iniciaram o desenho de um “plano B” para a vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal, caso o indicado de Bolsonaro, o  ex-ministro da Justiça André Mendonça, acabe rejeitado no Senado.

Refém do Centrão no Congresso, Bolsonaro optou pela equidistância e já se mostra conformado com o possível veto a Mendonça: “Se não der, paciência”, repetiu ontem.

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