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Lula se enredou na política ambiental: reprovação avança e chega a 43%

Em apenas cinco meses, desde abril, aumentou em dez pontos percentuais a avaliação negativa do desempenho de Lula em questões ambientais, segundo o IPEC

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 set 2024, 12h05 - Publicado em 17 set 2024, 08h00

Lula convidou os presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal para uma reunião na tarde desta terça-feira, 17. Vai anunciar ações ambientais.

Há incêndios em 20 Estados, registra o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Isso significa fogo se alastrando por 74% do país.

Ontem, Lula promoveu uma breve discussão sobre o que fazer nessa emergência, que começou três meses atrás.

É eloquente a imagem dessa reunião do presidente com ministros. O governo, literalmente, ficou sem horizonte: da sala no Palácio do Planalto quase nada se enxergava pelos janelões de vidro por causa da fumaça densa que encobria Brasília.

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Lula se enredou na política ambiental. Gastou 20 meses no governo tratando a crise climática com superficialidade e contradição.

Cristalizou-a na moldura de um evento, a conferência da ONU em Belém, no próximo ano, como se fosse tema de um festival na Floresta Amazônica.

Ao mesmo tempo, fomentou um embate político sobre a preservação da estrutura econômica baseada em combustíveis fósseis, a partir da exploração de petróleo na Amazônia.

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Passivo, assistiu à ofensiva combinada do PT e do centrão, dentro do Congresso, para desidratar o Ministério do Meio Ambiente.

Compassivo, interveio no final para resgatar Marina Silva quando ela já havia perdido formalmente quase todo o espaço de poder do ministério — incluída uma fatia substancial do orçamento.

É a forma que Lula escolheu para governar impasses na política ambiental.

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A mensagem que transmitiu está refletida no crescimento significativo da avaliação negativa feita pelos eleitores sobre a sua atuação na área de meio ambiente.

O Ipec, por exemplo, acaba de confirmar um crescimento no coro de críticas: em abril, 33% julgavam “ruim” ou “péssimo” o desempenho de Lula em questões ambientais; na semana passada, a reprovação era feita por 43%. O que significa aumento de 10 pontos percentuais em apenas cinco meses.

Poderia ter sido diferente, caso houvesse seguido o próprio discurso e transformado a política ambiental no eixo da administração.

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“O combate às mudanças climáticas terá o mais alto perfil na estrutura do próximo governo”, anunciou depois de eleito, em novembro de 2022, na conferência da ONU no Egito.

Encerrava uma campanha eleitoral na qual tivera o cuidado de apresentar com ênfase a ideia de um governo centrado na política ambiental — da economia à diplomacia.

Em gesto simbólico, acenou com criação de uma “autoridade climática”, uma agência estatal independente, com autonomia para capitanear a guinada política e administrativa (embora seja conhecida a sua aversão a órgãos estatais autônomos). Esqueceu esse projeto, relegando-o ao jogo de poder entre ministros. Vinte meses depois da posse, voltou a falar na “autoridade climática”.

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Depois da posse, tudo continuou onde estava. A prioridade ao meio ambiente como vitrine da política externa foi substituída por uma agenda irrealista de mediação de conflitos — entre eles, as guerras da Rússia com a Ucrânia; de Israel com o Hamas; e, ainda, a “normalização” da ditadura venezuelana na paisagem da América do Sul.

Deu tudo errado. E, com o aumento das fragilidades do governo na política ambiental, Lula ficou exposto ao fogo, fuligem e fumaça dominantes na paisagem em dois terços do país.

Na crise, o governo passou a procurar alguém para culpar. Semana passada, disseminou boatos sobre uma “ação orquestrada” na qual incluiu governadores da oposição com interesses em garimpo de ouro.

Táticas assim permearam a ação do governo anterior. Bolsonaro culpava organizações não governamentais pelos incêndios e alardeava uma conspiração planetária para “roubar” a Amazônia.

Na semana passada, Lula não gostou de ouvir a crítica de Yakuy Tupinambá, líder comunitária de Olivença (BA), ao encontrá-la no Museu Nacional, no Rio. Ela foi direta na avaliação que fez em público e diante dele: “Um governo enfraquecido, acorrentado às alianças e conchavos para se manter no poder”.

Descontada a carga ácida, é uma síntese em 13 palavras da percepção dominante e traduzida em diferentes pesquisas de opinião.

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