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Informação e análise

Jogo complicado

Com saúde frágil e ofensiva de Trump, Lula analisa saídas para 2026

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 jan 2025, 11h54 - Publicado em 24 jan 2025, 06h00

A disputa presidencial de 2026 já começou, disse Lula nesta semana a ministros, chefes de empresas estatais e líderes no Congresso. Falou para 43 pessoas em reunião de quase oito horas na residência oficial da Granja do Torto, arredores de Brasília.

Na plateia houve quem percebesse uma pitada de humor no comentário: Lula é o único brasileiro que há 35 anos está em campanha permanente ao Palácio do Planalto como candidato do Partido dos Trabalhadores (a conta inclui dez anos de mandatos na Presidência da República).

Lula acenou com a possibilidade de ficar fora do páreo no próximo ano. Fez uma ressalva: se acontecer, será contra sua vontade e por imposição da biologia. Novidade no discurso de um candidato imperecível que, até seis meses atrás, vangloriava-se em praça pública da “energia de 30 e tesão de 20 anos”. Vai entrar no clube dos octogenários em outubro, a um ano da eleição presidencial.

Ele tem direito a disputar um quarto mandato no Palácio do Planalto. A dúvida, lembrou, deriva tanto da consciência sobre os próprios limites quanto do histórico de saúde. Mencionou a experiência do medo no incidente no México, em outubro, quando ficou quatro horas dentro de um avião em pane (numa das turbinas), voando em círculos sobre o aeroporto de onde havia decolado, para esvaziar o tanque de combustível. Citou a cirurgia no cérebro, em dezembro, depois da queda e do “apagão” no banheiro residencial.

Este é um ano em que Lula vai precisar fazer escolhas. Nas suas palavras, talvez precise se engajar na tentativa de eleger um sucessor em 2026. Não disse nem lhe perguntaram quem poderia ser o ungido. O importante, ressaltou, é “a causa”, ou seja, impedir “o horror da volta ao neofascismo, ao neonazismo, ao autoritarismo”. No dicionário lulista, esses qualificativos têm endereço certo na extrema direita, com nome e sobrenome: Jair Bolsonaro. É o adversário de conveniência, derrotado em 2022. Porém, inviável na vida real por estar inelegível até 2030.

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Com Lula ou com um candidato por ele consagrado, é certo o tumulto na travessia do governo até a eleição do próximo ano. As dificuldades são múltiplas e evidentes. Entre os atuais 38 ministros, por exemplo, há uma dezena de representantes de partidos de centro-direita, mas a fidelidade é dúvida, como observou Lula: “Alguém aqui sabe dizer quantos partidos estarão com a gente em 2026?”.

“Com saúde frágil e ofensiva de Trump, Lula analisa as saídas para 2026”

As fragilidades na economia são notórias, traduzidas na desconfiança sobre as contas públicas, nas taxas de inflação (sobretudo, alimentos), no alto custo do dinheiro e na escalada da dívida governamental.

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Compõem apenas uma parte da equação de incertezas que, para Lula, ficou ainda mais complexa no novo mundo desenhado por Donald Trump. Ele rabisca uma guinada radical dos Estados Unidos, a partir do funeral de uma era de capitalismo liberal liderada por Washington desde a Segunda Guerra.

Entre os efeitos colaterais do retorno de Trump, na primeira semana na Casa Branca, estão contribuições importantes para o esvaziamento dos dois principais eventos do ano na agenda de Lula: a reunião de cúpula do Brics no Rio, em julho, e a conferência mundial sobre meio ambiente em Belém, em novembro.

O Brasil não é relevante em Washington, mas mantém com os EUA a mais decisiva das suas relações externas. A prioridade do estamento americano agora é a China, “adversário estratégico e geopolítico” na definição da nova política comercial sancionada por Trump no início da semana.

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Significa, na prática, restringir o acesso da China ao mercado e à tecnologia desenvolvida nos EUA. E, ao mesmo tempo, empurrar outros governos a iniciativas comerciais que resultem no aumento do custo dos produtos chineses em comparação ao padrão americano.

O prêmio é o acesso aos consumidores americanos. A punição é a taxação das exportações para os Estados Unidos. Por isso, empresários brasileiros já pressionam Lula a aumentar tributos sobre produtos (químicos e siderúrgicos) importados da China. A indústria é responsável por 78% do total das vendas brasileiras aos EUA.

O problema é que o Brasil dobrou sua dependência do comércio com a China na última década. Um terço de tudo o que o país exporta tem como destino o mercado chinês.

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É um jogo geopolítico delicado para Lula nos próximos 24 meses. Ele não se preocupou em construir pontes com Trump. Ao contrário, detonou-as na diplomacia do microfone ao emoldurá-lo na galeria dos simpáticos “ao nazismo e ao fascismo”. Lula não deverá ter dia fácil até o fim do mandato.

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 24 de janeiro de 2025, edição nº 2928

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