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Guerra de Putin muda rumo da campanha presidencial no Brasil

Caixa de surpresas eleitorais de Jair Bolsonaro já é insuficiente, Lula quer mais subsídios ao consumo e União Brasil prevê candidato-novidade

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 mar 2022, 15h37 - Publicado em 3 mar 2022, 15h37

Efeitos da guerra de Vladimir Putin na economia levam os maiores partidos a prever mudanças no rumo da campanha a partir de abril.

Governo e oposição acham necessário adaptar planos a um novo cenário, em razão da provável aceleração do empobrecimento do eleitorado com aumentos nos preços dos combustíveis e dos alimentos.

Tem-se como inevitável um avanço da corrosão no bolso dos eleitores, já afetados pela inflação alta (mais 10% nos últimos doze meses).

O preço do petróleo, por exemplo, subiu 50% em oito semanas — saltou de 78 dólares por barril, na virada do ano, para 117 dólares no final da noite de ontem, e deve ficar acima dos cem dólares.

Gasolina, diesel e gás de cozinha vão aumentar. O pão, também, porque o trigo já está 47% mais caro.

Jair Bolsonaro havia preparado uma caixa de surpresas eleitorais para este início de março com foco em oito de cada dez eleitores que vivem com renda domiciliar mensal de até dois salários mínimos (R$ 2,2 mil).

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O pacote foi montado para maximizar a repercussão social do auxílio emergencial (R$ 400 mensais) num ambiente de alto endividamento familiar e com a maioria do eleitorado debitando ao candidato à reeleição a culpa pela incapacidade de pagar as próprias contas. Agora é considerado insuficiente pelo governo diante das perspectivas de desarranjo da economia provocado pela guerra de Putin.

Inaugurou-se uma inusual competição entre a Casa Civil e o Ministério da Economia no planejamento de ofertas eleitorais complementares. É provável que anunciem, separadamente, novas medidas a partir da próxima semana.

Na oposição há diversidade de comportamento. No PT de Lula, líder isolado nas pesquisas, a pressão crescente sobre a inflação é percebida como oportunidade de campanha para recauchutar o projeto de uma “política estratégica” para a Petrobras.

Seria baseada no uso do caixa da empresa estatal para subsidiar o consumo de derivados de petróleo e no resgate de investimentos em refinarias — incluídas as de Abreu e Lima (PE) e a do Comperj (RJ), interrompidas pela descoberta de casos de corrupção, durante a operação Lava Jato.

No PT se acredita que os efeitos econômicos da guerra de Putin tendem a aumentar a rejeição de Bolsonaro, que é recorde nas pesquisas. Lula, ao contrário, seria beneficiário pela memória da fase de governo com fartura de crédito para consumo, inflação e juros baixos, num ciclo financiado pela alta de preços das exportações agroindustriais.

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O melhor retrato dessa confiança na vitória eleitoral em outubro, provavelmente, está na recente constituição de um grupo para formatar as principais medidas dos primeiros cem dias de governo.

Em outros partidos, porém, prevalece o sentimento de que o jogo ainda vai começar. É o caso do maior deles, o União Brasil, com bancada de 78 deputados, 6 senadores e caixa de R$ 1 bilhão para financiamento de campanha.

Aposta-se que o clima de crise econômica, acirrado pelos efeitos da guerra de Putin, tende a favorecer a ascensão de oposição às ideias representadas por Lula e Bolsonaro.

O União Brasil planeja candidatura própria, mas ainda não definiu quem seria a “novidade”. Dirigentes do partido têm conversado com Joaquim Barbosa, que presidiu o Supremo Tribunal Federal e foi relator do primeiro grande caso judicial de corrupção na política, com quatro dezenas de investigados — o do Mensalão, no governo Lula.

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