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Governo não sabe o que fazer com o lixo nuclear em SP e Minas

Livro joga luz sobre outro aspecto, ainda mais obscuro, da bilionária aventura atômica brasileira: o dos trabalhadores contaminados, “cobaias da radiação”

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 abr 2023, 15h15 - Publicado em 24 abr 2023, 09h30

O Brasil ainda não sabe o que fazer com o lixo nuclear depois de sete décadas produzindo urânio. A Agência Internacional de Energia Atômica e a Comissão Nacional de Energia Nuclear debatem “possíveis soluções” para os rejeitos mantidos em barragens e depósitos da empresa estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB).

Os lixões atômicos estão no meio de áreas residenciais dos bairros de Interlagos, na zona sul de São Paulo, e de Botuxim, em Itu (SP), e na periferia da cidade de Caldas, em Minas Gerais.

É crescente a resistência à manutenção dos depósitos de detritos nucleares em zonas urbanizadas, mas a empresa do governo federal ainda não sabe o que fazer com a escória atômica acumulada. Também não consegue convencer comunidades vizinhas aos depósitos e governos locais da “inexistência” de riscos ao meio ambiente e à saúde pública.

A estatal INB é a herdeira do legado do programa nuclear brasileiro. Na prática, foi iniciado no governo Getúlio Vargas quando o empresário, editor e poeta Augusto Frederico Schmidt e o químico austríaco Kurt Weill criaram no bairro do Brooklin, em São Paulo, uma empresa privada de produção de urânio extraído de areias monazíticas.

A história dessa parceria do poeta com o químico, com o discreto aval do almirante Álvaro Alberto, patrono do programa atômico, está documentada no livro Cobaias da Radiação, da jornalista Tânia Malheiros.

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Ela ilumina outro aspecto, ainda mais obscuro, da bilionária aventura nuclear brasileira: a contaminação por radiação de dezenas de trabalhadores, durante décadas. Primeiro, na empresa de Schmidt e Weill, a Orquima, dos anos 40 a 70. Depois, na sucessora estatal Nuclemon, criada no Acordo Nuclear com a Alemanha, que em 1988 foi substituída pela INB no organograma da administração pública.

Restam algumas dezenas de sobreviventes com a vida e famílias aprisionadas em situações dramáticas de saúde — variações de câncer, silicose, doenças respiratórias, auditivas e reumatismo, entre outros. Lutam nos tribunais para obter do governo federal garantia de assistência médica vitalícia.

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