Bolsonaro mira em Kassab e Pacheco, e abre governo ao PL de Valdemar
Presidente vê PSD como adversário, tira Funasa da bancada e entrega orçamento de R$ 3 bilhões ao líder do PL, antigo aliado de Lula e protagonista mensalão
Jair Bolsonaro ampliou o espaço de Valdemar Costa Neto no governo.
Antigo aliado de Lula, protagonista do caso mensalão, no qual foi condenado a sete anos e dez meses de prisão, ele comanda o Partido Liberal, com uma bancada de 42 deputados federais. É sócio do Partido Progressistas no agrupamento parlamentar conhecido como Centrão.
O PL de Costa Neto já havia recebido a Secretaria de Governo da Presidência. Na semana passada, ganhou o comando da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que tem orçamento de R$ 3 bilhões por ano.
Bolsonaro entregara a Funasa à bancada do PSD de Minas Gerais. Era parte de seu projeto de manutenção de um núcleo de apoio no Estado, e, também, de preservação da unidade do Centrão até onde fosse possível.
O PSD tem 34 deputados e é presidido por Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo, outro antigo aliado de Lula. Metade da bancada integra o Centrão e costuma votar com o governo.
Kassab, no entanto, opera em outra frequência. Há tempos prevê que Bolsonaro não deve passar do primeiro turno da eleição presidencial de 2022. E aposta numa alternativa de oposição, que não seja Lula.
Para Bolsonaro, um presidente candidato à reeleição com índice recorde de rejeição nas pesquisas (mais de 50%, na média), Kassab e o PSD se tornaram menos confiáveis do que Valdemar Costa Neto e o PL, que recebeu a Funasa.
Kassab se dedica à construção da candidatura de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado. Eleito pelo DEM de Minas, deve migrar para o PSD em outubro, um ano antes da disputa presidencial.
Pacheco é percebido como personagem-chave na cena mineira. O Estado tem 16 milhões de eleitores (10,7% do total), é o segundo maior colégio eleitoral — perde para São Paulo —, possui uma longa e rica história e é decisivo em eleições presidenciais.
Minas é, na essência, um grande acordo político e, no momento, tem em Pacheco a sua melhor tradução.
Semana passada, ele deu um “basta” a Bolsonaro. Sem estridência, mandou para o arquivo o pedido de impeachment do juiz Alexandre de Moraes, do Supremo.
Moraes comanda inquéritos do STF nos quais são protagonistas o presidente, seus três filhos parlamentares, dez deputados aliados e empresários financiadores daquilo que, nos autos, está classificado como conspiração bolsonarista para um golpe de estado, com fechamento do Supremo e do Congresso.
Por ironia do calendário, Moraes será o juiz-presidente do Tribunal Superior Eleitoral a partir de agosto do próximo ano, ou seja durante o período eleitoral.
Ao entregar a Funasa ao PL de Valdemar Costa Neto, Bolsonaro empurra a bancada parlamentar do PSD para a oposição, onde o paulista Kassab já está — com o mineiro Pacheco.
Ao mesmo tempo, amplia fissuras no Centrão, abertas na criação de um orçamento paralelo (cerca de R$ 17 bilhões), centralizado pelos líderes do Partido Progressistas, o deputado Arthur Lira, presidente da Câmara, e o ministro Ciro Nogueira, da Casa Civil.
O custo eleitoral de Bolsonaro aumenta pela contundência dos conflitos que mantém com o Judiciário e, também, pelos choques menos visíveis com um número crescente de grupos políticos no Congresso.
Seu regime de isolamento progressivo ultrapassou a fronteira político-partidárias, como atestam os manifestos de empresários de diferentes setores, abrigados em mais de duas centenas de entidades sediadas em São Paulo.
É uma oposição em tom sutil, na forma e no conteúdo dos textos em divulgação. Não há menção direta a Bolsonaro e ao governo. Resume-se a apoiar a Constituição e o regime democrático, deixando entendido que, do outro lado, estão o presidente, alguns ministros e parte dos assessores, incluídos presidentes de empresas estatais.
A oposição é quase inexistente na Câmara. No Senado, aos poucos se aglutina em torno de Pacheco, o mineiro que Kassab e o PSD planejam lançar em outubro.