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Bolsonaro flerta com paralisação de caminhoneiros

Surpreendido pela dimensão e imprevisibilidade da guerra, o governo, paradoxalmente, passou a incentivar a paralisação de caminhoneiros

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 14 mar 2022, 09h20 - Publicado em 12 mar 2022, 08h00

Num governo sem rumo na crise de excesso de inflação, presidente e ministros brigam — e todos têm razão. No Palácio do Planalto, os embates entre ministros e a aflição comum com os efeitos da guerra de Vladimir Putin na campanha de reeleição de Jair Bolsonaro ameaçam conduzir a administração a uma rota de alto risco.

Surpreendido pela dimensão e imprevisibilidade do conflito, o governo, paradoxalmente, passou a flertar com uma paralisação de caminhoneiros, insatisfeitos com os preços do óleo diesel.

Candidato à reeleição, Bolsonaro foi direto, na noite de quinta-feira, em transmissão nas redes sociais: “O preço tá caro. Tem muito caminhoneiro aí que vai parar. Eu sei disso, lamento isso daí. Vai parar porque não suporta mais essa carga tributária.”

Na sequência, Tarcísio de Freitas, ministro da Infraestrutura e candidato ao governo de São Paulo, usou o WhatsApp para conversar com líderes da paralisação de 2018, no governo Michel Temer.

Um deles mostrou a troca de mensagens a Fábio Zanini, Guilherme Seto e Juliana Braga, da Folha. Nelas, segundo o jornal, o candidato Freitas disse achar muito correto que seja paralisado o sistema de transporte rodoviário de carga para forçar empresas a repassar aos fretes o aumento de custo do combustível.

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Governo estimular a interrupção de uma atividade essencial como o fluxo de mercadorias é novidade eleitoral relevante.

Bolsonaro usa a “carga tributária” como justificativa. Ele é presidente há pouco mais de três anos e, até hoje, não se moveu na defesa de qualquer iniciativa de reforma do sistema tributário nacional, embora existam propostas no Congresso.

Desde outubro, três meses antes dos tanques russos invadirem a Ucrânia, trava uma guerra particular com os governos estaduais, culpando impostos locais (ICMS) pelos reajustes de preços dos derivados de petróleo.

É mais uma disputa de Bolsonaro com os governadores, a maioria de partidos da oposição. Inócua para os consumidores porque a tributação estadual sobre combustíveis foi “congelada” há cerca de quatro meses e, mesmo assim, os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha continuaram aumentando.

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O ministro-candidato da Infraestrutura  resolveu seguir o chefe, mas foi além, de acordo com o registro da Folha sobre suas mensagens. Freitas incentivou prestadores de serviços essenciais ao confronto direto com empresas contratantes. Houve um tempo, na ditadura militar, em que isso era considerado “coisa de comunista” e tipificado como “incitação à subversão”.

Na democracia, em plena temporada eleitoral, ganha contornos mais complexos. Bolsonaro foi beneficiário indireto da paralisação dos caminhoneiros durante a disputa presidencial de 2018. O movimento custou caro ao governo, às empresas, aos caminhoneiros autônomos e empregados e, principalmente, à sociedade.

Desta vez, é diferente. Bolsonaro e Freitas são candidatos, mas, também, são governantes. Pela Constituição, deveriam agir a favor da ordem e do bem-estar social. Apostar no tumulto eleitoral não é esperteza, em geral é autoengano e costuma custar caro. Em dúvida, deveriam telefonar ao Kremlin e perguntar a Putin.

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