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Informação e análise
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Bolsonaro e Putin: um acordo “sensível” sobre informações sigilosas

Prioridade brasileira era obter garantia formal de suprimento de fertilizantes, a preços estáveis, para futuras safras. Putin deixou Bolsonaro na promessa

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 17 fev 2022, 08h00

Jair Bolsonaro viajou 1,2 quilômetros para se reunir com Vladimir Putin em Moscou. Conversaram por quase duas horas. Entre outras coisas, sobre o sucesso das pequenas centrais nucleares russas que fornecem energia elétrica a cidades de até 200 mil habitantes, e sobre o  êxito brasileiro na tecnologia de levitação centrífuga para enriquecimento de urânio.

A prioridade de Bolsonaro em Moscou era obter de Putin uma garantia formal de suprimento de fertilizantes, a preços estáveis, para as futuras safras brasileiras.

Totalmente dependente de importações, principalmente da Rússia, o agronegócio está em xeque. O abastecimento ficou intermitente no ano passado e, agora, se tornou incerto com o conflito entre Rússia, Europa e Estados Unidos.

Putin deixou Bolsonaro na promessa. Além das fotografias de viagem, úteis à campanha eleitoral, sobrou um único papel assinado.

Coincidência ou não, no mesmo dia o vice-presidente russo Yuri Borisov estava em Caracas subscrevendo dezenas de compromissos militares com o ditador venezuelano Nicolás Maduro.

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Em Moscou produziu-se um protocolo sobre troca de informações secretas entre o Palácio do Planalto e o Kremlin.

Criou-se uma cobertura jurídica para cooperação entre os serviços estatais de espionagem do Brasil e da Rússia. “Assunto sensível, reservado”, definiu Bolsonaro.

Assinaram o documento o chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, Augusto Heleno, e o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev. Por ironia, ambos atravessaram a vida militar em lados opostos, no mesmo campo de batalha.

Em 1977, por exemplo, o brasileiro era capitão. Como ajudante de ordens no gabinete do ministro do Exército, Sylvio Frota, participou de uma conspirata para derrubar o general-presidente da época, Ernesto Geisel, e perpetuar a ditadura — sempre em nome do “combate ao comunismo”.

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Deu errado. Geisel defenestrou Frota e desenhou o epílogo do regime, impondo a volta dos militares aos quartéis. Heleno foi parar na academia de Resende (RJ), onde acabou instrutor de Bolsonaro. Encontraram no anticomunismo um meio de vida na política.

A União Soviética sobrevivia há seis décadas quando Petrushev se tornou oficial graduado da espionagem na seção de Leningrado (hoje São Petersburgo), onde trabalhava Putin. Amigos, ascenderam juntos na agência KGB e na sucessora FSB.

Em 1999, quando Putin virou primeiro-ministro, o general Petrushev o sucedeu no comando da FSB. Na presidência, Putin o levou para o Conselho de Segurança. Estão há mais de duas décadas no Kremlin.

Heleno gastou quase toda a vida numa guerra imaginária contra a ameaça comunista no Brasil. Do outro lado do planeta, Petrushev combatia nas sombras a ameaça capitalista.

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Ontem, em Moscou, assinaram um acordo para troca de informações sigilosas com o mesmo objetivo: a lutar contra adversários — nacionais ou estrangeiros — das estruturas de poder a que servem, e desfrutam, sob a bandeira da democracia.

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