Tulipa é difícil? Vá de gloxínia, oras
A brasileira gloxínia foi adotada e melhorada no exterior, e é tão viciante quanto sua rival do clima temperado - além de bem mais fácil de cultivar
Ao visitar recentemente uma grande flora paulistana, deparei com um cenário feito para deixar qualquer fã de plantas zonzinho da silva: logo na entrada, os olhos eram bombardeados por uma barragem colorida de estandes cheios de tulipas em flor. Junto delas, como num ataque duplo planejado para quebrar qualquer resistência, centenas de mudas floridas de outra espécie típica do clima temperado e cuja floração também está com tudo no momento: o narciso.
São plantas belíssimas, não há dúvida, e é compreensível a tentação de levar um vasinho com aquelas maravilhas para casa. Pena que haja um tanto de ilusório nisso. Muito mais negócio é investir em outra planta nativa do Brasil e igualmente apreciada e melhorada no exterior, a gloxínia. Na mesma flora, não muito longe das tulipas e narcisos, gloxínias de todas as cores e variações florais davam uma amostra do quanto o artigo nacional, nesse caso, não deixa a desejar.
Se recomendo entusiasticamente a gloxínia no lugar das tulipas e narcisos, não é por nacionalismo besta, mas por um dado prático: é muito mais vantajoso e natural cultivar uma planta que vai bem em nossas condições. Em países como a Holanda, tulipas e narcisos forram parques, ruas e jardins em maio, mês de clima primaveril no Hemisfério Norte. Por aqui, com exceção da região sul e de lugares altos como a Serra da Mantiqueira, essas flores sofrem: elas duram poucos dias e é necessário um malabarismo complexo para reaproveitar seu bulbos na estação seguinte. Para reproduzir as condições típicas do clima temperado, os produtores profissionais valem-se de estufas e geladeiras, num exercício que é possível imitar em casa, mas dá muito trabalho e pouco resultado.
Em vez de sofrer, portanto, proclamo vivamente: vá de gloxínias. A história da planta é interessante e tem algo a ver com o destino reservado às rivais estrangeiras. Nativa do Brasil, a Sinningia speciosa – nome científico da gloxínia – foi levada para a Europa no começo do século XIX e lá passou por intenso melhoramento genético. Assim como a violeta africana – da qual parece ser uma versão gigante -, ela hoje está disponível em incrível variedade de cores e nuances das pétalas.
A gloxínia floresce nessa época do ano e, à medida que o frio avança, encaminha-se para um período de dormência, tal e qual a tulipa e o narciso. Ao perder flores e folhas, o certo é interromper a irrigação totalmente e, se possível, tirar os bulbos do vaso e guardá-los em local seco para replantar na primavera seguinte. Se você plantá-la diretamente no chão, à sombra de árvores, é só deixar que esse processo ocorra naturalmente, sem necessidade de tirar os bulbos dos canteiros – desde que estes sejam muito bem drenados, para não acumular água no inverno.