‘Vikings: Valhalla’: um guia das figuras históricas reais da série
Temporada inaugural da série derivada de 'Vikings' se passa um século depois e tem barba, cabelo, muito sangue – e mais história
De um início modesto no History Channel, em 2013, Vikings progrediu rapidamente para uma dessas séries pelas quais os fãs desenvolvem compulsão: ainda que as façanhas de Ragnar Lothbrok (Travis Fimmel) e da guerreira Lagertha (Katheryn Winnick) e as intrigas entre as fações vikings e as cortes saxônicas da Inglaterra fossem aquela salada mista de história e invenção que já caracterizara The Tudors, o projeto anterior do criador Michael Hirst, o tempero era irresistível – barbas e cabelos de alegrar qualquer hipster, diálogos canastras mas divertidos, bastante lenda, algum sexo, muita lama e uma quantidade copiosa de batalhas com espadas, machados e sangue (e vitórias comemoradas com muita bebedeira). Mas, com a morte de Ragnar e o escanteio de Lagertha, lá se foi a maior parte do charme de Vikings também, que passou as duas temporadas finais testando a paciência do espectador com as ambições do filho chatinho de Ragnar, Ivar Sem Ossos (Alex Høgh Andersen).
Vikings: Valhalla, que acaba de estrear na Netflix com uma temporada inaugural de oito episódios, faz um bom trabalho de correção de rota: mantém os elementos que ganharam tanta adesão para sua antecessora – incluindo atores e personagens um bocado mais cativantes que os da reta final de Vikings – e os apóia sobre uma trama que, além de interessante, tem uma base histórica bem mais sólida. Pode ser o efeito The Last Kingdom (cuja quinta temporada entra na Netflix, finalmente, em 9 de março), que sempre deu um tratamento mais rigoroso aos fatos e concorre pela preferência do público.
O tema central, agora, são as hostilidades que começaram a dividir os vikings com a conversão de muitos deles ao cristianismo – uma divergência frequentemente acertada (ou não) na base da violência. Mas, com o massacre de novembro de 1002 dos vikings estabelecidos na Inglaterra (a série adia esse evento em alguns anos), os compatriotas da Escandinávia resolvem pôr as diferenças de lado momentaneamente para navegar até as Ilhas Britânicas e vingar seus mortos, sob a liderança do rei Canute. Saiba quem são os personagens:
Rei Cnut, ou Canute, da Dinamarca (Bradley Freegard): Grande guerreiro, rei poderoso e político astucioso, Canute viveu entre 994 e 1035 e adquiriu grande fama, por razões que seria spoiler explicar. Dito por cima: Canute conseguiu formar uma espécie de império viking que abrangia territórios bem distantes entre si. Na Inglaterra, é até tema de uma rima infantil tradicional, e o galês Freegard – que lembra muito Ralph Fiennes – dá ao personagem carisma e humor.
Rei Olaf da Noruega (Jóhannes Haukur Jóhannesson): Um dos primeiros e mais devotos vikings a se converter ao cristianismo, Olaf (995-1030) também foi um guerreiro poderoso, o que muito o ajudou quando não conseguia evangelizar simplesmente pela persuasão. É o santo padroeiro da Noruega, mas o ótimo ator islandês Jóhannesson esconde bem a santidade do personagem.
Leif Eriksson (Sam Corlett) e Freydís Eriksdötter (Frida Gustavsson): filhos de Erik, o Vermelho, que passou à história pela sanha de violência, Leif (c. 970-1020) e Freydís (c. 970-?) deixam sua Groenlândia natal para encontrar e matar o viking cristão que violentou Freydís e deixou uma terrível cicatriz em forma de cruz nas costas dela, mas acabam sendo apanhados pela mobilização para vingar o massacre na Inglaterra. Freydís passou à tradição como uma shieldmaiden de capacidade notável, e a sueca Gustavsson de fato tem uma presença imponente. Acredita-se que Leif, um navegador habilíssimo que o australiano Corlett retrata como um doce de pessoa, tenha sido o primeiro viking a chegar à América do Norte.
Harald Sigursson (Leo Suter): Harald aqui ainda é um príncipe, mas foi rei da Noruega por duas décadas – só que bem mais tarde, já que nasceu em 1015, bem quando transcorrem os eventos-chave de Valhalla. É o único personagem central que o criador da série, Jeb Stuart, decidiu deslocar no tempo. Harald é conhecido como “o último grande viking”: sua morte em 1066, aos 51 anos, assinala o que formalmente se considera o fim da era de conquistas dos vikings e também da sua cultura-matriz, vencida pela cristianização. O londrino Suter é, junto com Freegard, o mais carismático dos atores do novo elenco – ao mesmo tempo um aventureiro, um cristão que convive bem com todo mundo e um romântico que fica caidinho pela muito pagã Freydís Eriksdötter.
Emma da Normandia (Laura Berlin): a normanda Emma, descendente direta do viking Rollo, que se estabeleceu como senhor dessa região da França no início dos anos 900 (e não, não era irmão de Ragnar), foi a maior rainha inglesa (e de outras terras também, as quais ainda não se pode revelar) do período que foi até a tomada da Inglaterra por outro descendente direto de Rollo, William o Conquistador, em 1066, quando os saxões foram definitivamente suplantados. Riquíssima por direito próprio e excelente diplomata e estrategista, Emma manteve intacta sua força mudança após mudança. Foi consorte de dois reis, mãe de outros dois e madrasta de mais um.