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Penny Dreadful – A Terceira Temporada

Por Isabela Boscov Atualizado em 30 jul 2020, 22h45 - Publicado em 11 Maio 2016, 20h08

Série de terror é a mais ambiciosa e a mais extraordinária em cartaz na TV

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Quer ver um exorcismo em que realmente se sente a presença de um mal invencível? Penny Dreadful mostra um ritual de fazer gelar o sangue. Um massacre tão horripilante que é impossível ter sido perpetrado por um ser humano? Penny Dreadful tem mais de um. Vampiros que não podem esconder as deformações dos seus séculos de não-morte? Em Penny Dreadful, eles são repelentes. Criaturas costuradas de partes de cadáveres, hediondas na sua anormalidade e tristíssimas na sua solidão? Penny Dreadful compreende a fundo o drama das abominações criadas pelo doutor Victor Frankenstein. Um aprendizado na arte da feitiçaria tão convincente no seu simbolismo que se começa a acreditar que as bruxas são de fato reais? Em Penny Dreadful, os episódios que Eva Green passa à mercê de Patti LuPone, em um pântano de árvores retorcidas, são inesquecíveis.

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Em Penny Dreadful, o terrível e o fantástico são verdadeiramente capazes de aterrorizar e de fascinar. Mas, ainda assim, o criador da série, John Logan, acha que isso é pouco, ou é só o começo: o que Logan quer, nesta série estupenda cuja terceira temporada começou a ir ao na sexta-feira 6 de maio (as duas primeiras temporadas estão disponíveis no Netflix), é recriar a vertigem da Inglaterra dos anos 1890 – um período de transformação tão intensa e tão abrangente que a imaginação dos vitorianos foi irremediavelmente tragada por ela, a ponto de eles às vezes não conseguirem distinguir o verdadeiro do inventado: tudo parecia possível, e nada parecia impossível.

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E, no entanto, a toda hora vem alguém me dizer que não assiste a Penny Dreadful porque ela é uma série de terror. Fico consternada: porque adoro sentir medo (desde que seja de ameaças fictícias, claro); porque o terror é um território excepcionalmente fértil para a imaginação, a originalidade e a experimentação; e porque, neste caso em particular, quem não vê Penny Dreadful não tem ideia do que está perdendo: a viagem mais estranha, extraordinária e cheia de emoções fortes da TV – feita com produção de primeiríssima linha, escolhas de elenco altamente inspiradas, um conhecimento vasto do assunto de que se está tratando e uma paixão genuína pelo gótico. Neste momento,  Penny Dreadful faz par com Game of Thrones como a série mais ambiciosa da TV. Mas é – perdão! – melhor (e às vezes bem melhor) que GoT.

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Penny Dreadful não se baseia em nenhum livro; é uma criação inteiramente original de John Logan, o roteirista de Gladiador, Um Domingo Qualquer, A Invenção de Hugo Cabret, 007 – Operação Skyfall e 007 Contra Spectre. Mas tem uma vocação literária que ultrapassa em muito a de GoT: nas duas temporadas já exibidas e na terceira que acaba de começar, o que John Logan faz é reinterpretar a Inglaterra vitoriana sob a ótica da literatura, da ciência, dos mitos e das fixações do período. (Para saber mais sobre as fontes em que a série bebe, leia aqui a minha resenha da primeira temporada.)

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John Logan escreve melhor do que qualquer outro roteirista que esteja no ar no momento, e é um craque para escolher atores – o que significa que em Penny Dreadful não há papeis pequenos. Gente que aparece só às vezes (como o egiptólogo interpretado por Simon Russell Beale) ou acaba de entrar (como o naturalista do ator Christian Camargo) mata a pau com a mesma força e eficiência que os protagonistas. Eva Green é a rainha da série como Vanessa Ives, uma mulher atormentada por demônios (alguns saídos do inferno, outros de sua mente); Eva já vinha numa ascendente, mas seu desempenho assustadoramente visceral em Penny Dreadful é uma consagração. De alguns atores, como Rory Kinnear (a Criatura) e Patti LuPone (que fez a feiticeira da segunda temporada e agora reaparece como uma psicanalista), espera-se tudo mesmo, e a única surpresa é quanto mais eles têm a entregar com um roteiro como o de Logan. Já sobre outros protagonistas, como Timothy Dalton e Josh Hartnett, eu tinha lá minhas dúvidas – mas eles acabaram com elas. Hartnett, em especial, arrasa. Se eu fosse uma atriz em busca do desafio mais interessante de uma carreira, pagaria para trabalhar em Penny Dreadful. Como espectadora, não consigo pensar em nenhum motivo para não ver a série. Medo? O único medo que faz sentido aqui é o de perder a melhor criação em cartaz na TV.

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