“Corina” e + 4 miniclássicos sentimentais para ver em casa
Em fantasias como “A Princesinha” ou comédias românticas como “Três Vezes Amor”, crianças tentam decifrar o mundo adulto
Neste domingo 15 de julho, às 9h10, o canal MAX UP exibe um daqueles filmes que eu nunca consigo deixar de ver: Corina, Uma Babá Perfeita (Corrina, Corrina no original), uma pequena delícia sentimental de 1994 sobre Manny (Ray Liotta), um compositor de jingles que recentemente enviuvou, está perdidaço e precisa de uma babá para Molly (Tina Majorino), sua filha de 7 anos – uma coisinha adorável que, claro, está também ela perdidaça e morrendo de tristeza. Depois de entrevistar várias candidatas perfeitamente inadequadas, Manny se decide por Corina (Whoopi Goldberg), recém-formada na universidade e qualificada demais para o posto – está-se no final dos anos 50, nos Estados Unidos pré-movimento pelos direitos civis; Corina é negra e não acha emprego melhor. Segue-se, claro, tudo aquilo que se espera. Mas os personagens são tão decentes, cativantes e boa gente, o filme é tão fofo e a trilha sonora é tão fantástica (com destaque para o country-blues Corrina, Corrina, na gravação de 1956 de Big Joe Turner) que o saldo é decididamente irresistível. Quer começar o domingo feliz? Este filme é a receita.
E aproveito para sugerir aqui outros quatro programas nessa linha:
A Princesinha (A Little Princess, 1995)
Onde: no catálogo do NOW
O mexicano Alfonso Cuarón (de Gravidade) era ainda um diretor meio desconhecido quando fez esta adaptação maravilhosa do clássico infantil de Frances Hodgson Burnett. Dos 10 aos 11 anos, a pequena Sara Crewe foi criada pelo pai na Índia, cujo exotismo alimentou sua imaginação fértil. Mas papai, então, decide ir lutar na I Guerra, e interna Sara numa escola luxuosa em Nova York, onde ela se torna a aluna mais popular, graças ao seu dom para transformar tudo em histórias fantásticas. Eis que um dia, porém, a tenebrosa diretora (Eleanor Bron) manda Sara pôr um vestidinho feio e se mudar para o sótão junto de Becky, a aluna negra que é tratada como empregada: o pai de Sara foi dado como morto, e o dinheiro secou. O visual é deslumbrante, a pequena Liesel Matthews é uma atriz de primeira categoria, e o filme irradia a magia e a angústia das crianças perdidas no mundo adulto. Lindo, lindo, lindo, e inesquecível.
Matilda (1996)
Onde: na Netflix
Os livros infantis do inglês Roald Dahl foram sempre sovinas no açúcar, generosos na acidez e construídos com uma imaginação desenfreada que, no entanto, traduz ao pé da letra a perplexidade das crianças frente aos códigos e vícios ininteligíveis dos adultos (há quem argumente, aliás, que Dahl soa tão genuíno porque nunca se desapegou dos seus rancores da infância). Na direção e interpretando o pai da garotinha Matilda, Danny DeVito se mostra também ele um tradutor muito fiel: Matilda (Mara Wilson) é um gênio, mas seus pais horrorosos (DeVito e sua mulher, Rhea Perlman) e a diretora medonha da escola, Trunchbull (Pam Ferris), tomam-na por uma estúpida, por olharem para ela através das lentes da sua própria boçalidade. Sempre cortejando o absurdo – o visual é uma perfeição –, mas firmemente ancorado na fortitude da pobre Matilda, DeVito faz algo dificílimo – humor negro para crianças – parecer fácil.
Em Busca da Terra do Nunca (Finding Neverland, 2004)
Onde: na Netflix
No papel do dramaturgo escocês J.M. Barrie, que viria a ser celebrizado como o autor de Peter Pan, Johnny Depp é a essência da infelicidade: um homem cuja imaginação e desejo de afeto são proporcionais à aridez de sua vida pessoal ao lado de uma mulher que faz tudo para incentivar a carreira do marido, mas nada por ele próprio ou pelo seu talento. Quando Barrie conhece Sylvia Llewelyn Davies (Kate Winslet), uma viúva com quatro filhos pequenos, pouco dinheiro e uma mãe tão ríspida quanto a mulher do escritor, as peças se encaixam para ambos. Barrie, Sylvia e os quatro garotos vão, pelos meses seguintes, fazer de conta que são uma família — e na Londres do início do século 20 não poderiam fazer muito mais mesmo do que fantasiar. Com grande discrição, o diretor Marc Foster recria o encantamento das crianças, expõe os sentimentos represados dos dois adultos e situa a Terra do Nunca — onde crianças não precisam crescer e pensamentos felizes fazem voar — não na imaginação do dramaturgo, mas no lar perfeito que os seis personagens compartilharam por um breve período. É de cortar o coração – mas do melhor jeito possível.
Três Vezes Amor (Definetely, Maybe, 2008)
Onde: na Netflix
Às vésperas de se divorciar, um pai tem de explicar à filha o que é incompreensível para uma criança: que amor e paixão nem sempre são permanentes – e podem acontecer de maneira igualmente verdadeira com uma, duas ou muitas pessoas no decorrer da vida. Na tentativa de dizer algo que parece tão duro com alguma delicadeza, Will (Ryan Reynolds) conta então à pequena Maya (Abigail Breslin) a história das três namoradas mais sérias que teve – com nomes trocados, para que ela não saiba qual delas, se Rachel Weisz, Elizabeth Banks ou Isla Fisher, terminou por se tornar sua mãe. Eis aí algo diferente: uma comédia romântica que admite que o amor tem mais a ver com circunstâncias do que com predestinação. Escrito e dirigido por Adam Brooks, autor do também muito espirituoso roteiro de Wimbledon, o filme vai ainda mais longe na sua defesa do realismo romântico: aqui os personagens saem para trabalhar todos os dias, pensam em várias outras coisas que não suas fantasias amorosas e tomam decisões de natureza prática que alteram o curso de sua vida pessoal. É revigorante. Abigail Breslin, além disso, está um encanto, e Ryan Reynolds, então começando a despontar, é o grande achado do filme: um ator com ritmo cômico mas que não tenta fazer comédia, e que tem charme mas não o usa como muleta – e, o mais adorável, o tipo de sujeito muito alto que nunca sabe bem o que fazer com tanta altura. De derreter qualquer gelo.