Andy Serkis já tinha mais de uma década de carreira bem ocupada quando, lá por 1999, começou a filmar o papel que, paradoxalmente, o tornaria famoso: o de Gollum em O Senhor dos Anéis. Com um macacão coberto de sensores e microcâmeras voltadas para o rosto, Andy entrava no set em Wellington, na Nova Zelândia, e se transformava naquela criatura patética e dissimulada, que se esgueirava pela Terra Média e falava com voz ao mesmo tempo aguda e roufenha – e isso ali, na hora, antes de o pessoal dos efeitos especiais fazer a metamorfose digital dele. Na época, isso se chamava motion capture (captura de movimentos), e não performance capture (captura de desempenho), como agora – e é em boa parte graças à excelência do trabalho de Andy que a técnica ganhou essa promoção na nomenclatura. Andy foi Gollum em O Senhor dos Anéis e em O Hobbit, foi o King Kong de Peter Jackson, o Capitão Haddock de As Aventuras de Tintim e, desde 2011, é o chimpanzé Cesar de Planeta dos Macacos. Não só a performance capture avançou muito, com sensores e câmeras cada vez mais sensíveis, capazes de registrar até microexpressões, como a apreciação do público por ela cresceu exponencialmente também. Já as entidades que concedem prêmios como o Oscar, o Globo de Ouro, o inglês Bafta, o da Associação dos Atores… Essas continuam curiosamente confundindo interpretação com truque tecnológico, e se recusam a indicar atores como Andy, Toby Kebbel, Karin Konoval e outros (caso de Steve Zahn, brilhante no novo Planeta dos Macacos – A Guerra) por seu trabalho com performance capture – embora não tenham nenhum problema em laurear atores com maquiagem, perucas e figurinos pesados ou próteses faciais e físicas transformadoras. É bem a hora de entender que uma coisa não difere da outra, e dar a Cesar o que é de Cesar.