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Pantanal, maior área úmida continental do mundo, tem recorde de queimadas

Período de seca e impunidade por crimes ambientais são fatores que favoreceram o aumento de focos de calor no bioma

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 ago 2020, 18h21 - Publicado em 6 ago 2020, 18h12

Como pode o Pantanal, a maior planície alagada contínua do planeta, estar ardendo em chamas? Apesar de ser conhecido pela exuberância aquática, o bioma, de forma bem simples, é como se fosse um Cerrado que alaga sazonalmente. As vegetações são semelhantes, com predominância de gramíneas nativas e árvores de baixo porte. Por isso, nos períodos de seca, o ambiente se torna propício para o fogo descontrolado. 

De acordo com a ONG WWF Brasil, entre janeiro e julho deste ano, 4.135 focos de incêndio foram detectados no Pantanal, número 285% superior ao registrado no mesmo período do ano passado, quando ocorreram 1.475 focos. Isso faz do bioma o campeão do aumento de incêndios em 2020.

O Instituto Centro de Vida (ICV) também acompanha a situação no Mato Grosso. De acordo com o coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do ICV, Vinícius Silgueiro, a organização identificou três fatores principais que levaram à situação caótica em que o bioma se encontra. Ao contrário da Amazônia, o Pantanal passa por um período de seca severa: segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), esse ano teve redução de 50% no índice de chuvas em comparação com as médias históricas. Em consequência, o nível do Rio Paraguai é o mais baixo desde a década de 60.

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Como desdobramento da questão climática, as queimadas têm chance maior de sair de controle e se tornarem incêndios de grandes proporções. De acordo com o ICV, no Mato Grosso, 86% dos focos de calor foram detectados em imóveis rurais, o que indica que a prática foi usada para fins de pecuária. Desse total, 52% foram em imóveis inscritos no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e 34% em imóveis ainda não cadastrados. 

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O terceiro elemento que favoreceu a explosão de queimadas neste ano é o mesmo que permeia a criminalidade em qualquer região: a certeza de impunidade pela prática de crimes ambientais. A exoneração de servidores do Ibama e os cortes no orçamento da instituição são práticas que enfraquecem as medidas de fiscalização para coibir irregularidades.

“Esse é o maior indício de que o fogo foi causado pela ação humana. O histórico de imagens de satélite poderá mostrar a origem do desastre. A partir do local onde o incêndio começou, é possível que ele se espalhe por até dez propriedades, ou mais. Como a maior parte foi relacionada a imóveis rurais, podemos inferir que, com certeza, foi uma ação antrópica”, disse Silgueiro.

Além disso, de acordo com dados de desmatamento do Prodes, vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, no acumulado até 2019 no bioma, somente 5% dos focos de calor detectados na porção mato-grossense incidiram em áreas já desmatadas, enquanto 95% aconteceram em áreas de vegetação nativa. Somente no Mato Grosso, nos primeiros cinco dias de agosto 1.060 focos foram detectados, sendo a maior parte no Cerrado e na Amazônia — o número representa 44% de todo o mês de julho.

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