O Conti do Vigário – Entrevista com “falso” Felipão gera “Erramos” no Globo e na Folha. Mario Sergio Conti, catador de errinhos no livro “Dirceu”, comeu barriga de novo!
Mario Sergio Conti, para quem não sabe, é aquele jornalista que descreveu em detalhes o enterro da arquiteta Lúcia Carvalho na revista Piauí, cuja edição seguinte – imagine – trouxe uma cartinha da dita-cuja, quem sabe escrita do além… Depois, em agosto de 2013, este senhor tão cuidadoso quanto independente quis apontar uns errinhos na […]
Mario Sergio Conti, para quem não sabe, é aquele jornalista que descreveu em detalhes o enterro da arquiteta Lúcia Carvalho na revista Piauí, cuja edição seguinte – imagine – trouxe uma cartinha da dita-cuja, quem sabe escrita do além… Depois, em agosto de 2013, este senhor tão cuidadoso quanto independente quis apontar uns errinhos na biografia do mensaleiro petista José Dirceu – escrita por Octávio Cabral -, usando o expediente-padrão das esquerdas de tentar invalidar uma obra por conta de imprecisões isoladas, que – imagine – já haviam sido corrigidas pela editora Record em junho, para a segunda edição do livro. Conti não ouviu o autor nem a editora antes de escrever seu artigo, orgulhosamente reproduzido pelos blogs sujos do PT, incluindo o de José Dirceu, e no qual a apresentadora Astrid Fontenelle se baseou para declarar o best seller de Cabral um “fracasso retumbante” no programa “Saia Justa”, no momento mesmo em que ele ultrapassava a marca de 40 mil exemplares vendidos. O artigo ainda continha essas pérolas: “Mas comete tantos erros que acaba chutando a sua própria reputação profissional”; “Em vez de trabalhar, Otávio Cabral preferiu a invencionice delirante.” A recomendação atribuída a Lenin, “Xingue-os do que você é; acuse-os do que você faz”, já estava ali sendo seguida a todo vapor pelo atual colunista do Globo e da Folha, que, na época, levou um chega-pra-lá do editor Carlos Andreazza no artigo “Sobre a biografia ‘Dirceu’“.
Agora, o ex-coveiro do jornalismo atingiu um novo patamar na sua carreira como entrevistador inconsciente do sósia de Felipão. Em voo do Rio de Janeiro para São Paulo, ele conversou com Wladimir Palomo, que interpreta o técnico da seleção no humorístico “Zorra Total”, pensando se tratar do Felipão original – como confessaria depois ao portal Zero Hora – e escreveu um artigo publicado pelos dois jornais como uma exclusiva com o dito-cujo. O título de destaque no Globo era “Felipão sobre Neymar: ‘Se tivéssemos três como ele, a Copa seria uma tranquilidade’”.
Até que…
Depois que saíram as erratas do Globo e da Folha, dando início à polêmica nas redes sociais, muita gente ainda se perguntava se o erro havia sido dos editores, do colunista ou de ambos, porque a parte final do artigo, que narra a reação de “Felipão” ao recusar o convite de Conti para participar de seu programa na Globo News, dava margem a dúvidas:
“Pegou sua carteira, tirou um cartão de visitas e me entregou, afirmando:
– Mas isso pode te ajudar por enquanto.
O cartão de visitas dizia: ‘Vladimir Palomo – Sósia de Felipão – Eventos’.
Depois das gargalhadas, apertou a mão e disse:
– Deus te proteja.”
É evidente que nem mesmo um jornalista com o histórico de Conti, se estivesse consciente da farsa, mandaria uma entrevista inteira para seus editores sem avisar que o final a revelava; mas a colunista Cora Ronai, sua colega no Globo, foi uma das pessoas que saíram em defesa dele alegando que “a ‘notícia’ não é uma notícia, é uma crônica (embora isso não fique claro do ponto de vista editorial – mas aí não é culpa do Conti). Depois, o final deixa absolutamente claro que não houve confusão alguma”. Ronai ainda chegou ao cúmulo de menosprezar a inteligência de quem supostamente não tinha entendido: “Leiam e vejam se é possível um ser humano razoavelmente alfabetizado interpretar isso de qualquer outra forma.” (Não quero me “gambar”, como diria o Lula, mas tanto era possível que, ao ler a íntegra, eu já havia interpretado da forma correta às 16:21, no chat do Facebook, quase duas horas antes da revelação do ZH.)
“Se as pessoas não conseguem mais entender um texto tão evidente, a culpa certamente não é dele”, acrescentou Ronai, para quem o único mistério era o porquê do pedido de desculpas – atribuído ao colunista nas erratas – aos leitores, ao técnico e ao sósia. Se Ronai não consegue entender seu colega, trago uma notícia para ela: Conti, por incrível que pareça, “nasceu ontem”.
Ao Portal Imprensa, o diretor de Redação de O Globo, Ascânio Seleme, já tinha afirmado que o colunista cometera um erro. “Foi um equívoco, por isso tiramos a história do ar. Estava errada.”
Mas eis a entrevista que desvendou todos os “mistérios”:
Zero Hora — Foi uma brincadeira ou o senhor realmente confundiu o sósia de Felipão com o próprio técnico?
Mário Sergio Conti — Pensei realmente que era o Scolari. Nunca estive com Felipão. Sequer vi entrevistas dele na televisão; só nas partidas, ao lado do campo. Achei todas as respostas dele sensatas.
ZH — Vocês conversaram sobre Neymar, empate com o México, aeroportos, vaias a Dilma… Quanto tempo durou essa conversa? Em nenhum momento, o senhor desconfiou?
Conti — Cerca de meia hora. O tempo do voo do Rio a São Paulo. Não desconfiei em nenhum momento que não fosse ele. Lera em algum lugar que a seleção estava de folga.
ZH — O texto publicado pelo O Globo (que foi atualizado quase 30 min depois da publicação) termina com a história do cartão de visitas do sósia. Essa informação constava na primeira versão ou foi acrescentada depois?
Conti — A informação constava do texto enviado originalmente. Nada foi alterado nele. Quando perguntei se toparia ser entrevistado na televisão, ele disse que sim, mas que estava muito ocupado naqueles dias. Aí me deu o cartão e rimos. Imaginei que era uma piada dele: entreviste esse sósia meu…
ZH — O que o senhor tem a dizer aos seus leitores?
Conti — Perdão pela confusão. Felizmente, ela não prejudica ninguém. Não afetará a Bolsa, a Copa ou as eleições.
Era demais esperar de Conti um simples pedido de desculpas pelo erro, como o que seus editores haviam lhe atribuído nas erratas, não é mesmo? Ele tinha de amenizá-lo com um cinismo exemplar. Como assim “não prejudica ninguém”? Ele não pensa nos jornais que o remuneram? Nos editores que o publicam? O sujeito faz o Globo e a Folha passarem vergonha, deixa uns tantos leitores que jamais tomarão conhecimento das erratas acreditando no que leram, atribui a uma pessoa algo que ela não disse sobre um grupo que está em competição, deixa a que disse nervosa com a repercussão do mal-entendido (como relatou o Zero Hora), e ainda vem com essa? Será uma forma de se precaver contra as críticas, como se os erros alheios que ele já denunciou no passado fossem mais graves do que os seus do presente? Vai ver, ele acredita que os errinhos que encontrou em “Dirceu” (de 2013) afetarão as eleições de 2014.
Wladimir Palomo, o “Felipão” do Conti, garantiu ao ZH que “não teve maldade” (de ludibriá-lo):
Zero Hora — Foi o senhor que deu uma entrevista ao colunista Mario Sergio Conti?
Palomo — Sim, estávamos dentro do avião, sentei ao lado dele. Foi uma conversa com um pessoa comum, como eu converso com você. Cinco a dez minutinhos no voo, só isso. E outra coisa: nem sabia que ele era jornalista. Só na hora de ir embora, eu perguntei quem ele era, e ele disse que era repórter.
ZH — O senhor entregou um cartão para ele?
Palomo — Entreguei um cartão onde diz que eu faço eventos como sósia do Felipão. Eu sou aquele rapaz que trabalha no Zorra Total.
ZH — O senhor acha que ele se confundiu ou que ele sabia que se tratava de um sósia?
Palomo — Provavelmente ele deveria saber. Tinha um monte de gente tirando foto com o sósia do Felipão e com o sósia do Neymar.
ZH — Foi uma brincadeira ou ele estava levando o senhor a sério?
Palomo — Eu acho que foi uma brincadeira o tempo inteiro. Ou então ele se confundiu. Você acha que o Felipão ia ficar andando sozinho num avião no dia da Copa? [grifo meu]
ZH — Entramos em contato com o Mario Sergio Conti e ele afirma que se confundiu mesmo. O senhor acha que a sua imitação está tão boa assim?
Palomo — Eu não imito, sou eu mesmo. Não imito nada.
Até Palomo, como se vê, acabou involuntariamente zombando de Conti, o homem que achou que Felipão estaria ali sozinho num avião no dia da Copa. Que Zorra, hein?
O colunista acabou “trollado” no Twitter:
Todos podemos comer barriga em algum momento – e eu provavelmente não daria a menor bola para o caso, se o protagonista não fosse o guardião e divulgador implacável dos errinhos alheios, das “invencionices delirantes”. Mas, sendo assim, como resistir à zoeira?
Parafraseando o Globo: Se tivéssemos três como Mario Sergio Conti (alô, Cora Ronai!), a Copa seria muito mais divertida.
Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil
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