Num país em que a PM faz greve e a PF ameaça fazer, toda campanha de desarmamento civil é um convite ao suicídio
Escrevi esta frase-título em 2012 – mas sem falar da PF, na ocasião – e repito agora, dias após a greve da Polícia Militar na Bahia resultar em mais uma onda de assassinatos e saques e os EPAs da Polícia Federal ameaçarem greve durante a Copa.
Seguem alguns trechos e artigos meus sobre o desarmamento, que eu precisava reunir neste blog, até mesmo para linkar quando vier a mencionar o tema de passagem, já que o Brasil se repete.
O governador petista Jaques Wagner – que recebeu os ótimos comentários do ex-Secretário Nacional de Justiça Romeu Tuma Jr. e outros reaças [ver o print abaixo] ao celebrar no Facebook a mudança do nome do Colégio Médici para Colégio Marighella, em referência ao terrorista de extrema esquerda Carlos Marighella, que defendia abertamente execuções sumárias em seu “Minimanual da Guerrilha Urbana” – tem participação especial, é claro.
E, como se vê adiante no item II, fica a pergunta:
Os políticos revolucionários providos de escolta armada vão proibir as vaginas também?
I.
A pontualidade do nosso atraso
Felipe Moura Brasil, 08/04/2011 – publicado no Mídia Sem Máscara
Eu antecipei no Twitter: “Massacre no Rio será usado por militantes do desarmamento. Não se engane! Eles querem só bandidos e psicopatas armados”. Eram 13 horas. Dali a pouco, o ex-policial Rodrigo Pimentel já falava na TV em “retirar armas da rua”. Depois vieram “especialistas”. Jornalistas. Ministro da Justiça. José Sarney. Todo o front do atraso nacional querendo a nossa família tão indefesa quanto as crianças na escola de Realengo.
Como eu sabia? Ora. A única coisa que não se atrasa no Brasil é o atraso. Ele sempre chega na hora. Às vezes, até se adianta. Mas atrasar? Nunca! Um drama comove o país e lá está ele: pontual, previsível, irremediável – com o mesmo kit de ideias retrógradas, argumentos chinfrins e omissões providenciais já tantas vezes desmoralizado em outros lugares e épocas. Dilma Rousseff alegou ainda que o massacre “não é característica nossa”. Nossa característica, eu dizia no artigo anterior, é sermos assassinados aos pouquinhos e espaçadamente, sem reparar na soma total. Matemática não é o nosso forte. Entre 65 países, tiramos o 57º lugar.
Para justificar a eficácia do desarmamento, Pimentel sacou as palavrinhas mágicas da persuasão contemporânea: “Está provado. É científico!”. Nem precisou mostrar o estudo comprobatório, ou explicar por que bandidos e psicopatas “devolveriam” [o certo é “entregariam”] suas armas. Vai ver assistiu aos filmes do Michael Moore e acreditou. Nos Estados Unidos, o que é “científico”, na verdade, é justamente o contrário. Segundo o estudo dos economistas John Lott e Bill Landes, “de 1977 a 1999, os estados que adotaram leis que permitiam o porte livre de armas apresentaram uma queda de 60% nos ataques contra indivíduos e uma queda de 78% nas mortes em consequência de tais ataques”. Os motivos? Tanto o temor de uma reação pode dissuadir um criminoso quanto a presença de alguém armado pode interrompê-lo. E a maioria dos americanos sabe que nem sempre há tempo para esperar pela polícia.
Na imprensa e na internet, o Brasil inteiro comparou a tragédia no Rio às Columbines americanas. Prontamente, os jornais publicaram uma listinha de episódios similares. Mas e quanto aos massacres que não chegaram a acontecer? Ninguém vai publicar? É uma desfeita com os dois estudantes que, em 2002, na Virginia, pegaram suas armas no carro para neutralizar um colega atirador; com o policial de folga, porém armado, que levava sua filha à escola no dia em que um aluno resolveu matar os outros em Santee, em 2001; com o dono de um restaurante em Edinboro, que, em 1998, usou sua arma para render o aluno que matara um professor e ferira mais três; com o diretor que também pegou sua arma no carro para apontar a um estudante homicida em Pearl, em 1997. E por aí vai (sem contar episódios em casas, restaurantes etc.). Em vez de 12 mortos até a chegada da polícia, como em Realengo, cada um desses teve no máximo três. A propósito: três são menos que doze.
Mas, assim como criminosos e psicopatas não seguem leis, esquerdistas dispensam a realidade e criam suas próprias relações de causa e efeito. Se o porte de armas no Brasil dos 26 mortos por 100 mil habitantes fosse tão comum quanto nos Estados Unidos dos 6 mortos por 100 mil, nada garante, de fato, que o massacre teria sido evitado ou interrompido, embora isto fosse, ao menos, possível. O improvável, senão impossível, é que o desarmamento das pessoas de bem tivesse alterado o resultado da tragédia. O único efeito do desarmamento, ao contrário, seria deixar o caminho aberto para as próximas – para Farc, PCC, Comando Vermelho, ADA, atiradores escolares etc. Sem prender bandidos, sem vigiar fronteiras, sem combater o tráfico, sem investir em cadeias e manicômios, o governo já nos trouxe a “pacificação”. Agora, só pede que entreguemos nossas armas.
Um dos avisos mais comuns nos jardins das casas e mansões americanas é o de “Armed response” – o primo sarado do tradicional “Cuidado com o cão”. Aqui, a depender de Rodrigo Pimentel, José Sarney, e do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, você já tem todo o direito de escolher o seu: “Roube sem bater”, “Mate após o café” ou “Estupre devagar, que é mais gostoso”.
II.
O monopólio das vaginas
Felipe Moura Brasil, 11/04/2011 – publicado no Mídia Sem Máscara
Uma mulher de Rio Preto passou veneno na vagina e convidou o marido para o sexo oral. Tonteado com o cheiro da coisa, ele interrompeu o ato a tempo de se dirigir ao hospital mais próximo. O caso logo repercutiu na internet. A polícia investigou a tentativa de homicídio. Eu só tenho uma dúvida: onde estão os desarmamentistas? Não seria o caso de proibir as vaginas?
Em minha imaginação, alguém argumenta que letal mesmo é o veneno. Eu contraponho: o veneno é a munição; a arma é a vagina. Uma arma triplamente perigosa, porque entorpecente, estupefaciente e de fogo. Antes que seja tarde demais, convém ao Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, promover o primeiro referendo vaginal brasileiro. Está provado. É científico. O porte legal de vagina aumenta a criminalidade.
É hora de pôr em prática as palavras do ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux:
“Não [se] entra na casa das pessoas para ver se tem dengue? Tem que ter uma maneira de entrar na casa das pessoas para desarmar a população”. Tem que ter. Caso contrário, as armas pularão da gaveta e sairão atirando; ou pularão na cama e sairão envenenando; ou transmitirão doenças pelo ar. Há uma epidemia de armas legais sob o nosso nariz. O Brasil só estará seguro quando homens e mulheres de bem entregarem suas pistolas e vaginas.
O governo Dilma sabe disso. Se antes o PT não dava a menor pelota para as fronteiras, agora menos ainda. O corte no orçamento da Polícia Federal para 2011 já reduziu o efetivo desde a Amazônia até o Rio Grande do Sul. Faltam recursos para diárias de delegados e agentes, manutenção de carros, compra de combustíveis e coletes à prova de bala. Delegacias operam com menos da metade do pessoal, postos pararam de funcionar, blitzes foram suspensas, patrulhas retiradas. O oxi, um derivado da cocaína mais nocivo que o crack, veio da Bolívia e do Peru, arruinou jovens e crianças no Acre e se espalhou pelo país. Com ou sem armas e drogas, os bandidos e terroristas são cada vez mais bem-vindos: “Sorria, você está no Brasil”. A única fronteira preocupante para o PT é a do nosso armário, contra o qual basta um referendinho de R$ 300 milhões. Ou dois. Ou três. Ou dez. Até o povo consentir: “Você quer trocar a sua legítima defesa por um cacho de bananas?” Siiiiiiiiiim!
Não basta, porém, facilitar a tarefa de invasores. É preciso premiá-los, como se faz na Bahia. Em 2009, o governador petista Jaques Wagner gastou R$ 161,3 mil em aluguel de ônibus para levar os sem-terra de volta ao interior após uma invasão de prédio superanimada. Em 2010, instalou quatro banheiros químicos, um tanque d’água e um barracão como “apoio logístico” para outro protesto. Agora, para comemorar o circuito de 40 fazendas invadidas, fornece 600 quilos de carne por dia, verduras, 32 banheiros químicos, dois chuveiros improvisados e toldos. A infraestrutura do trio “Abril Vermelho” aumenta a cada ano. Só faltam os camarotes com Open Bar, o Asa de Águia e o Chiclete com Banana.
A micareta nacional do PT distribui dois tipos de abadás: o dos bandidos sem causa, que podem entrar e brincar à vontade; e o dos bandidos com causa, que têm direito a banho e bufê de carne de sol. Que cidadãos armados sejam um risco para essa folia social, é evidente. Que a proibição da maconha limite a participação de jovens e crianças, também. O líder do partido na Câmara, Paulo Teixeira (SP), se dirige diretamente a esse público quando defende a liberação do plantio de maconha, dizendo que droga mesmo é um lanche do McDonald’s. O líder do Senado, Humberto Costa (PE), e do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), além do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, apoiam a discussão. A campanha “Troque o seu Big Mac por um baseado” está lançada. Ainda chegaremos ao dia do referendo “dois em um”.
Camuflar a própria incompetência no combate à criminalidade, ou mesmo fomentá-la para depois culpar os homens de bem pela tragédia, é a receita básica para deixar uma sociedade doidona, de pernas abertas (mas sem veneno) para os seus governantes. Daí a tornar legal o ilegal, e ilegal o legal, é só uma questão burocrática. O petismo está adiantado. A imprensa dá cobertura. A oposição nunca foi capaz de sentir o cheiro da coisa a tempo de interromper o ato. Intelectual, moral e – sobretudo – politicamente, o Brasil se desarmou até os dentes, aumentando o coro do consentimento. Com um tantinho de persistência e uns R$ 300 milhões aqui e ali, é possível que a resposta da população não tarde:
– Você quer trocar o monopólio da sua vagina por um membro do MST?
– Siiiiiiiiiim!
III.
[Trecho de um artigo meu de fevereiro de 2012:]
(…) Reinaldo Azevedo já mostrou que Jaques Wagner estimulava a farra da PM quando era da oposição em 1991/92 (hoje, chama os grevistas de “bandidos”). Mas isto não é apenas o retrato do modo petista de fazer política, apoiando tudo que denigra a imagem de um governo adversário. Isto é o feitiço agindo contra o feiticeiro de rabo preso.
Entre todos os freios morais que o PT removeu de vez do ambiente cultural brasileiro, um dos mais graves foi aquele que impediria a polícia de deixar a população a mercê da bandidagem, mesmo em caso de reivindicação por melhores salários. E o partido – imagine! – ainda quer o desarmamento civil…
Os policiais militares que hoje praticam abertamente o terrorismo estadual – em nome do bem, claro… – tiveram ótimos professores de motim: Jaques Wagner, José Dirceu, Lula, toda a ala de micareteiros da moralidade nacional, sempre protegida pela imprensa cordeira (com duplo sentido, para quem entende de folia baiana). (…)
Num país em que a PM faz greve, toda campanha de desarmamento civil é um convite ao suicídio.
IV.
[Trecho de um dos meus artigos sobre a pesquisa fajuta do IPEA, em março de 2014:]
(…) No ambiente cultural brasileiro, na verdade, o que existe há décadas é a legitimação moral que a esquerda faz da criminalidade em função da pobreza e das desigualdades sociais, sem falar na proteção legal que ela concede aos criminosos, inclusive aos estupradores! O resto é pura tentativa de transferir essa cumplicidade para a população de bem do país, induzindo e distorcendo suas opiniões sobre os culpados de estupro; e desviar a atenção da criminalidade que o PT sempre fomentou e da segurança que nunca ofereceu [veja os índices dos estados governados por petistas] para o suposto “machismo” onipresente, como se ele fosse a causa da existência de estupradores. É a velha tática esquerdista de culpar a “sociedade”, repetida por um bando de ativistas histéricos.
Isto sem falar na patetice das campanhas de desarmamento, “A guerra contínua da esquerda contra as mulheres“, como já escreveu a colunista americana Ann Coulter: “Uma arma na mão de uma mulher maltratada muda a dinâmica do poder (…). A grande maioria dos estupradores, por exemplo, não se dá ao trabalho de utilizar uma arma porque, conforme destacou o famoso criminalista Gary Kleck, eles costumam ter ‘uma grande vantagem de poder sobre a vítima’, tornando o uso da arma redundante.” Mulheres em geral são mais fracas fisicamente que os homens e, se lutassem pelo direito ao porte legal de arma, fariam muito mais em seu favor do que acusar os não estupradores de machismo. A taxa de estupros em Orlando, por exemplo, caiu 88% quando elas aprenderam a usar armas em cursos promovidos pela mídia, segundo o estudo de Kleck “Crime Control Through the Private Use of Armed Force” (February 1988, p. 13). (…)
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PS: Ver também os três artigos consecutivos sobre o embuste do desarmamento (p. 574-582) no fim da seção “Obama” do livro best seller de Olavo de Carvalho, idealizado e organizado por mim, “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota“. Trecho fundamental, em tom de deboche:
(…) [O] número total de homicídios naquele país [os EUA] vem caindo despudoradamente nas últimas três décadas, passando de 9,8 por cem mil habitantes em 1981 para menos da metade (4,7) em 2011, malgrado o aumento prodigioso do número de armas legais em posse da população civil.
No nosso país, ao contrário, com um controle de armas cada vez mais severo, a proibição total de brinquedos em forma de armas e as sucessivas campanhas de entregas voluntárias de revólveres, pistolas, rifles e espingardas ao governo, o número de homicídios duplicou no mesmo período, chegando a uns 36 por cem mil habitantes em 2010. Oh, mundo injusto!
Ainda assim, continuam existindo na república americana mentes lúcidas e corajosas, como a do presidente Barack Hussein Obama, que prometem eliminar, mediante a proibição das armas, os oito mil homicídios anuais que ali se verificam. É verdade que, no mesmo período de um ano, segundo as estatísticas oficiais, quatrocentos mil cidadãos e cidadãs dos EUA salvam suas vidas reagindo a bala contra serial killers, assaltantes, estupradores etc. Desgraçadamente as almas de pedra dos reacionários e sócios da National Rifle Association ainda se recusam a entender que para impedir oito mil assassinatos vale a pena fomentar outros 392 mil.
Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil
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