Robert Eggers a VEJA: ‘Queria que Nosferatu fosse demoníaco’
Diretor revela o processo de trazer para as telas um dos principais monstros da história do cinema

Desde criança, Robert Eggers, diretor de A Bruxa (2015) e O Farol (2019), sonhava contar uma história de vampiro. A hora chegou com Nosferatu, em cartaz nos cinemas do Brasil. No filme de mesmo nome do clássico do expressionismo alemão dirigido por F.W. Murnau em 1922 e do longa de Werner Herzog lançado em 1979, Lily-Rose Depp é Ellen, a jovem mulher de Thomas Hutter (Nicholas Hoult), que tenta melhorar sua posição na empresa vendendo uma propriedade ao misterioso Conde Orlok (Bill Skarsgaard) na Alemanha do século XIX. Willem Dafoe interpreta o professor Albin, um cientista com interesse no oculto. Na entrevista a seguir, o diretor Robert Eggers e o ator Willem Dafoe falam sobre Nosferatu:
As duas versões de Nosferatu, mesmo sendo filmes de época, refletiam os tempos em que foram feitas. Como seu filme reflete os tempos em que vivemos?
Robert Eggers – O bacana de contos de fadas, contos populares, mitos e fábulas é que eles sempre podem ser reinterpretados e até mesmo interpretados de maneiras diferentes. As pessoas veem coisas diferentes no filme. Obviamente, enxergo a jornada e a evolução de Drácula. Sei que a versão de Kinski (Klaus Kinski, no filme de Werner Herzog) é triste e introspectiva e o vampiro certo para 1979, enquanto o Drácula de Gary Oldman (em Drácula de Bram Stoker, de Francis Ford Coppola), um anti-herói, era o vampiro certo para 1992. É mais difícil para mim entender o que estou fazendo. Mas queria que o Orlok, o Nosferatu), fosse demoníaco e baixo, não introspectivo ou heroico.
É por causa dessa proximidade com os contos de fadas que prefere fazer filmes de época?
Eggers – Em parte, sim. Eu sinceramente gosto de fazer a pesquisa e de estar em outro mundo, acho muito emocionante. Se eu não estivesse contando histórias, poderia ser arqueólogo. Pessoalmente, acho que filmes de gênero sobre monstros funcionam melhor quando se passam em um período em que os personagens podem mais facilmente acreditar nessas criaturas, sabe?
No filme, o seu personagem é um dos poucos homens que acreditam em Ellen quando ela diz que há uma força maligna real. Como o filme lida com esse conceito de mal?
Willem Dafoe – Quando vi o filme, enxerguei diversos comentários sociais, não necessariamente intencionais. O Professor Albin tem interesse no ocultismo, em coisas não totalmente aceitas pela sociedade. Então ele chega a Ellen com uma grande simpatia e quase cumplicidade, embora tenha outros interesses também. A Lily-Rose Depp é tão delicada, tão sintonizada em outra frequência, não apenas no filme, mas na vida, que você realmente quer ajudá-la em seu caminho. Eram como doces cenas de amor sem nenhum erotismo.