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“O luto coletivo é muito difícil”, diz viúvo de Paulo Gustavo

Thales Bretas fala a VEJA sobre lançamento do documentário 'Filho da Mãe' – e de como tem sido lidar com a dor da perda

Por Gabriela Caputo 19 dez 2022, 09h00

Em 4 de maio de 2021, o celebrado ator e humorista Paulo Gustavo deu um rosto às milhares de mortes causadas pela Covid-19 no Brasil. Antes de sua morte, ele havia fechado um contrato com a Amazon Prime Video para lançar uma série de conteúdos exclusivos que, infelizmente, não chegaram a ser produzidos. Mas Paulo Gustavo deixou um registro de seu legado: Filho da Mãedocumentário que acaba de chegar à plataforma, expõe os bastidores de seu último trabalho – um show musical com a mãe, Déa Lúcia Amaral – e revisita sua trajetória por meio de depoimentos de familiares e amigos.

O filme, dirigido pela roteirista e melhor amiga de Paulo Gustavo, Susana Garcia, também ressalta a importância do ator para a comunidade LGBTQIA+. Ilustrada pelas cenas de seu casamento com o dermatologista mineiro Thales Bretas, bem como da luta do casal para ter os filhos Romeu e Gael, a voz de Paulo fala contra o preconceito, e ressalta: “Não sou militante ou ativista, mas sou um ser político. Só o fato de eu ter casado com um homem, assumido para o Brasil inteiro e inspirado outros casais gays a fazerem o mesmo… Isso é política”. A VEJA, o viúvo de Paulo Gustavo falou sobre o luto e o significado do filme para a família e os fãs:

Estamos nos aproximando dos dois anos da perda de Paulo Gustavo, uma tragédia que chocou o Brasil. Como tem sido o processo de juntar os cacos e assimilar o que aconteceu? Escuto muito das pessoas: “Sofremos muito, como se fosse um familiar”. Esse carinho é em parte bom, mas em parte ruim também, porque ao mesmo tempo em que fortalece e as pessoas são muito solidárias e carinhosas , o luto coletivo é muito difícil. Nos vemos, a todo momento, em contato com aquilo que a gente perdeu e não vai ter de novo. E, se as pessoas sentem, imagina nós que tínhamos o convívio diário em casa, em momentos íntimos. É difícil demais. Mas, como dona Déa fala, temos de ter fé. A vida está nas mãos de Deus, de uma força maior. Já passamos por outras perdas grandes nas nossas vidas, e sabemos que cada perda é muito diferente, tanto para você mesmo, quanto para cada um que sofre com ela. E sou muito, muito grato por tudo que Paulo deixou, por tudo que ele construiu nessa vida, por tudo que construímos junto, pelos nossos filhos. Espero que o legado dele seja eterno. Tenho certeza de que vai ser. E é isso que me traz um pouco mais de força, também.

O que Filho da Mãe simboliza para vocês? Para além de ser uma homenagem ao Paulo, é uma homenagem dele própria à mãe, dona Déa Lúcia, à relação dele com a família. Mostra o Paulo como pai e como filho. Também mostra como ele fazia política de uma forma natural e orgânica. É uma abertura da nossa vida, do que ele fazia na vida real. Tudo o que ele sempre retratava na forma artística, através do cinema, ele trouxe para esse produto.

Dona Déa Lúcia está vivendo uma nova fase, trabalhando na TV. O que tem achado desse momento dela? Acho muito legal, ela tem muito carisma, sempre teve. E canta muito bem, como vemos no filme. Paulo tinha muito orgulho disso. Ele amava esse lado engraçado e espontâneo dela, mas também tinha certo medo. Não deixava dona Déa participar muito das coisas, porque sempre teve muito cuidado com a carreira, [com as dificuldades da fama]. Mas está dando tudo certo. De onde estiver, ele está se divertindo com essas participações de Déa na televisão. 

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