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Do cinema ao streaming, um blog com estreias, notícias e dicas de filmes que valem o ingresso – e alertas sobre os que não valem nem uma pipoca

O destino distópico dado aos idosos brasileiros no filme O Último Azul

O diretor Gabriel Mascaro tece uma distopia em tom de fábula sobre uma idosa que, ao desafiar regras, vê a chance de um recomeço

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 ago 2025, 08h00

Aos 77 anos, Tereza é ativa, trabalha, mora sozinha em uma casa humilde no interior do Amazonas e cuida de si mesma. Nas ruas, porém, vive acometida pelo receio de ser colocada dentro do infame cata-velho: o veículo que possui uma gaiola na parte de trás é como uma carrocinha, mas para idosos. No mundo imaginado pelo cineasta pernambucano Gabriel Mascaro em O Último Azul (Brasil, 2025), que estreia nos cinemas na quinta 28, o governo brasileiro criou uma lei segundo a qual pessoas acima de 80 anos são levadas de forma compulsória a uma colônia isolada da sociedade para uma aposentadoria permanente. A ideia é liberar as famílias do “fardo” de cuidar de um idoso e dar aos mais jovens mais espaço no mercado de trabalho. Quando a lei é atualizada, diminuindo a idade limite para 75, Tereza, interpretada com brilho por Denise Weinberg, corre para realizar um último desejo antes de perder a liberdade: seu sonho é voar de avião. Considerada inapta para tomar decisões sozinha — e sem a autorização da filha para comprar uma passagem aérea —, ela então embarca em uma aventura pelo Rio Amazonas, com a ajuda do barqueiro Cadu, papel de Rodrigo Santoro — que, de forma ilegal, aceita levá-la a um local onde existem voos clandestinos de monomotores.

São raros os exemplares do cinema nacional que ousam explorar as possibilidades narrativas da distopia, gênero que dá a dramas deveras reais toques extremos de ficção em mundos opressivos. Premiado com o Urso de Prata no Festival de Berlim deste ano, O Último Azul se une agora a títulos como Medida Provisória (2022), que imagina uma lei racista na qual negros brasileiros são deportados para a África, ou a série 3%, da Netflix, em que só essa ínfima porcentagem da população nacional pode viver em um vilarejo de riquezas abundantes. A partir da liberdade criativa do filão, Gabriel Mascaro subverte o modo como o país e até o próprio cinema costumam olhar para pessoas mais velhas — e faz isso ora com muita ironia, ora como uma fábula viajante nos confins da floresta. “O idoso, normalmente, é personagem de filmes sobre a finitude ou como uma ferramenta de memória da narrativa. Eu queria fazer um filme sobre uma idosa que está pulsando e tem desejos”, disse ele a VEJA no Festival de Gramado, onde o longa foi exibido na noite de abertura. “É um tema atual sobre o nosso mundo, onde não se pode envelhecer em paz”, afirma Denise.

Homenageado no evento do Rio Grande do Sul, Santoro, que acaba de completar 50 anos, refletiu sobre as bonanças da maturidade. “Hoje, trabalho com menos ansiedade e desfruto mais daquilo que vivo. A idade traz inteligência emocional”, afirmou a VEJA em entrevista (leia mais abaixo). De fato, o tempo lhe fez bem. O ator, que iniciou a carreira como galã de novelas da Globo, demorou a conquistar respeito no meio, por assim dizer, sério. Desafiou quem lhe torcia o nariz com os filmes dramáticos Bicho de Sete Cabeças (2000), de Laís Bodanzky, e Abril Despedaçado (2001), de Walter Salles — produções que o levaram a festivais pelo mundo, chamando a atenção de agentes americanos. Assim surgiram os primeiros convites para filmes estrangeiros. Santoro, então, voltou à estaca zero: lá fora, foi fácil para os gringos estereotiparem o brasileiro bonitão no filme As Panteras Detonando (2003), no qual ele desfila sem camisa, anda de moto — e não diz uma palavra. “As oportunidades hoje em Hollywood são muito melhores para o estrangeiro”, diz Santoro, pioneiro em um caminho agora trilhado com mais abertura por colegas de profissão, com destaque para Wagner Moura.

Versátil, Santoro transitou pelo cinema latino, europeu e americano, fez série de TV nos Estados Unidos e, neste momento, desfruta da fase destinada aos veteranos: confortável com suas escolhas, ele não tem mais o que provar a ninguém. Além de topar ser um coadjuvante de luxo em O Último Azul, ele declinou do convite para uma série internacional por causa de O Filho de Mil Homens, outro filme nacional, adaptação do livro do português Valter Hugo Mãe, que estreia ainda neste ano na Netflix. Bancar as próprias escolhas é um privilégio que a protagonista Tereza também vai ter. Ao entrar no barco de Cadu, ela começa uma viagem de crescimento pessoal, redescobrindo o prazer da liberdade e de novas possibilidades. Antes tarde do que nunca.

“Jamais quis fazer carreira lá fora”

O ator Rodrigo Santoro fala do filme O Último Azul, da chegada aos 50 anos e da experiência de trabalhar em Hollywood.

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MATURIDADE - No filme (à esq.) com Denise: “A idade traz inteligência emocional”
MATURIDADE - No filme (à esq.) com Denise: “A idade traz inteligência emocional” (Guillermo Garza/Divulgação)

O que chamou sua atenção quando leu o roteiro de O Último Azul? Ele me arrebatou imediatamente. Me senti atraído pelo tema, essa reflexão sobre como nós lidamos com o envelhecimento e com os idosos no mundo. É uma questão universal. Por isso o filme tem tido um êxito enorme fora do Brasil.

Seu personagem, o barqueiro Cadu, revela ao longo da trama ter o coração partido por um grande amor. Como foi a experiência de interpretar alguém assim? Eu adoro que o Cadu vai na contramão do que costumamos ver como figura masculina. É um homem num barco — e barcos são símbolos de liberdade. Mas, para ele, o barco é uma prisão. Ele sofre de amor, está de luto, e o encontro com Tereza o faz entender as próprias fragilidades.

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O filme fala sobre amadurecimento. Ao chegar aos 50 anos de idade, o que diria para o Rodrigo Santoro de 20? Eu diria: “Cara, cheguei bem. Cheguei bem aqui”. Está tudo legal, me sinto muito vivo, me sinto disposto. Hoje, trabalho com menos ansiedade e desfruto mais daquilo que vivo. A idade traz inteligência emocional.

Como um dos primeiros atores brasileiros a se aventurar lá fora, no início dos anos 2000, como vê hoje a aceitação do nosso sotaque em Hollywood? O mercado americano é muito voltado para eles mesmos. Eu entrei nessa aventura antes da globalização, antes do streaming. Os personagens eram muito estereotipados. Não fiz muita coisa que me ofereceram. Não estava desesperado. Meu plano nunca foi fazer carreira lá fora. As oportunidades hoje em Hollywood são muito melhores para o estrangeiro.

Publicado em VEJA de 22 de agosto de 2025, edição nº 2958

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