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Mais fortes e imprevisíveis: o impacto das mudanças climáticas em Twisters

Remake do sucesso dos anos 1990 traz tornados maiores, um alerta de Hollywood sobre o clima, e também uma deixa para efeitos visuais ainda mais potentes

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 jul 2024, 12h27 - Publicado em 12 jul 2024, 06h00

Em 1996, quando era adolescente, o cineasta Lee Isaac Chung achou incongruente a ideia de Twister, um filme sobre esses fenômenos climáticos que então chegava aos cinemas. Filho de imigrantes sul-coreanos e criado numa fazenda no Meio-Oeste americano, Chung cresceu marcado pelo temor causado por esses eventos naturais devastadores. “Tornado, para mim, era sinônimo de ‘corra e se esconda’. Achei que seria chato um filme sobre gente se escondendo de algo”, disse Chung, bem-humorado, a VEJA. A surpresa foi grande quando ele se deparou com um envolvente longa de aventura, no qual cientistas perseguiam esses gigantes violentos em vez de fugir deles. Conhecido pelo belo e introspectivo filme Minari: Em Busca da Felicidade, Chung não titubeou quando surgiu a oportunidade de assumir o remake da produção que marcou sua juventude. Twisters (Estados Unidos, 2024), já em cartaz nos cinemas, observa — com uma trama original e atualizada — a agitada vida de meteorologistas sedentos por conhecimento e que, munidos de uma dose excepcional de coragem, encaram tornados com o propósito de salvar vidas. Estudiosos se tornam, assim, astros descolados de um afiado exemplar do cinema de ação.

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Se no primeiro filme a trupe liderada pelos personagens de Helen Hunt e Bill Paxton queria desenvolver um sistema de alerta climático mais eficiente, dando tempo hábil às pessoas para fugir, agora o longa estrelado por Daisy Edgar-Jones e Glen Powell vai além: os cientistas almejam, com um aparato inovador, “domar” tornados, furacões e derivados. A ambição do roteiro — ainda restrita ao campo da ficção científica — reflete um desejo de estudiosos do mundo real: com as mudanças climáticas, os fenômenos naturais estão mais intensos, avassaladores e difíceis de se prever — logo, impedir que saiam de controle seria uma solução notável. Um estudo alarmante de 2023, da Sociedade Americana de Meteorologia, aponta que até 2100 haverá um aumento na possibilidade da formação de tornados, acompanhado de um salto de 25% no seu tempo de duração e nas áreas atingidas. Esperto, Twisters mantém o tema delicado e complexo no subtexto, trazendo assim uma renovação providencial aos chamados filmes-catástrofe: enquanto parte dessas produções, como os populares Interestelar e O Dia Depois de Amanhã, usa os impactos ambientais como força motriz de apocalipses distantes da realidade, Twisters mostra que o perigo é real, possível e mora ao lado.

CAÇADORES - Kate, Javi e Tyler: trio tenta “domar” os monstrengos de vento
CAÇADORES - Kate, Javi e Tyler: trio tenta “domar” os monstrengos de vento (Melinda Sue Gordon/Warner Bros)

Minari: Em busca da felicidade [Blu-ray]

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Daisy interpreta Kate Cooper, meteorologista com um sexto sentido aguçado para caçar furacões, mas traumatizada pela morte trágica de sua equipe durante um tornado de categoria F5 — monstrengo com ventos de mais de 500 quilômetros por hora. Quando retoma a atividade ao lado do amigo Javi (Anthony Ramos), ela topa com o excêntrico Tyler (Glen Powell), que se diz “domador de tornados” em um popular canal do YouTube, e com um ricaço, vivido por David Born, que compra as terras dos que perderam tudo a preço de banana: dois representantes do sensacionalismo e da ganância humana, que atuam como agentes do caos em um cenário de destruição.

Emergência climática – Matthew Shirts

Novo galã pop de Hollywood, Powell não fica por muito tempo do lado errado da história: ele e Daisy desenvolvem uma tensão romântica que dá sabor extra ao filme. Mas a superprodução investe, sobretudo, na abundância e na qualidade dos efeitos especiais. “Fomos acompanhados por cientistas que estudam e caçam tornados”, conta Chung. “Toda a parte visual é fiel ao que eles já registraram. Não posso nem quero reinventar as regras da natureza.” Powell, dublê de formação, se impressionou com a fisicalidade exigida no set. “Fiz algumas cenas extremamente difíceis, inéditas na minha carreira”, afirmou ele a VEJA (leia a entrevista).

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O ORIGINAL - Cena de Twister (1996): Bill Paxton e Helen Hunt desafiam a natureza
O ORIGINAL – Cena de ‘Twister’ (1996): Bill Paxton e Helen Hunt desafiam a natureza (./Warner Bros)

Como evitar um desastre climático – Bill Gates

Seu antecessor não ficava atrás em adrenalina: nos anos 1990, Twister foi sucesso de bilheteria — e, no Brasil, virou presença constante na Sessão da Tarde. Conquistou duas indicações ao Oscar, nas categorias de melhor som e de efeitos visuais, e resistiu ao teste do tempo: quase trinta anos depois, ainda é um filme impressionante. Especialmente memorável é a cena que até hoje mais mexe com as pessoas: em determinado momento, uma vaca passa voando diante do carro dos protagonistas, levada pelos fortes ventos de um ciclone duplo. “Perdi as contas de quantas pessoas tentaram enfiar uma vaca voando neste filme”, contou Chung, rindo. “Aquela cena é a minha favorita, não sei se conseguiria fazer algo à altura.” Com ou sem mamíferos voadores, Twisters honra o longa original: em ambos, a natureza exige respeito — mas nada impede que ela seja também entretenimento de qualidade.

Publicado em VEJA de 12 de julho de 2024, edição nº 2901

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